SALVAÇÃO NÃO É MERECIMENTO É GRAÇA

Matheus Motta Dos Santos
As implicações do evangelho
3 min readDec 25, 2022

‘Quando alguns fariseus, mestres da lei, viram Jesus comer com cobradores de impostos e outros pecadores, perguntaram a seus discípulos: “Por que ele come com cobradores de impostos e pecadores?”. Ao ouvir isso, Jesus lhes disse: “As pessoas saudáveis não precisam de médico, mas sim os doentes. Não vim para chamar os justos, mas sim os pecadores”. ‘ Marcos 2:16–17

Talvez seja esse o grande paradigma da religião; o religare que deveria nos apresentar uma caminho para nos reconectarmos com Deus parece exigir de nós um pedágio.

As bençãos e favores de Deus parecem estar condicionados ao quão perfeito conseguimos ser, o quanto das regras conseguimos cumprir. Confesso que por muito tempo fui, ainda que sem perceber, um fariseu sincero.

Enxergava a salvação como fruto de um mérito, de um esforço puramente humano de agradar a Deus de tal modo a ser recompensado por eles com uma infinidade de coisas boas. Felizmente, não levou muito tempo para que essa percepção começasse a ser desconstruída.

Por que, a despeito de toda a minha performance espiritual, eu continuava a ter medo? Ou ainda, por que continuava a ter que lidar com sentimentos que eu julgava já ter superado? Ou pior ainda, por que aqueles que sequer — no meu entendimento — dedicavam-se a “viver para Deus” recebiam o mesmo tratamento que eu que me julgava VIP ou premium ?

Diante disso, passei a perceber que minha relação com Deus era fruto do medo, de uma religiosidade que maximizava a punição, mas bania de seu discurso a graça. Compreendi que Deus é o Deus das relações, da mesa, da partilha e não um Deus tirano e distante; que a todos observa na expectativa de ter a quem punir.

Percebi que a religiosidade era apenas um “efeito visual”, um filtro como das redes sociais, a partir da qual eu criava uma imagem perfeita e idealizada a respeito de mim mesmo ignorando minhas imperfeições. Sempre contemplando o que eu deveria ser e ignorando o que verdadeiramente sou. Onde então conseguir um espelho?

A resposta não poderia ser mais simples e ao mesmo tempo mais desafiadora, nos Evangelhos. Neles pude contemplar minhas imperfeições e ao mesmo tempo me encontrar com um Deus perfeitamente humano.

O desespero de ter de lidar com quem verdadeiramente eu sou, foi presenteado com a esperança de compreender quem Deus verdadeiramete é. Um Deus que é tão poderoso ao ponto de desfazer todas as minhas ideias preconcebidas de Deus, afinal esse com quem me encontrei pelas páginas do Evangelho era muito humano, gente demais.

Passei então a compreender que por muito tempo dediquei-me a fazer da minha humanidade algo divino, quando na verdade não há nada mais divino do que ser verdadeiramente humano. A medida que me aprofundava nessas reflexões, algo tornou-se óbvio para mim: o paradoxo da salvação.

Classifico como paradoxo, pois o conceito de salvação a mim apresentado até então era o da recompensa. Estava mais para os contos natalinos onde os pais afirmam a criança que se ele tiver um bom comportamento ao longo do ano o Papai Noel irá presenteá-la. Mas apesar de compreender a salvação como um presente, não poderia ela estar associada ao meu bom comportamento. Por vezes, até eu me assusto com minha capacidade de ser ruim, invejoso, autodestrutivo. Sendo assim, qual seria a alternativa?

A resposta apresentada pelo evangelho é a mais reconfortante, um Deus que se assenta na mesa com pessoas que já não conseguem mais enxergar em si mesmas nenhum tipo de esperança. Marcadas pelas frustrações, estigmatizadas pela religião; agora estão diante do homem-Deus que claramente diz: “Salvação não é merecimento é graça! Se há algo em que vocês têm mérito é o de estar na condição de serem salvos, ou seja, de estarem perdidos. São suas mazelas, traumas e medos associado ao meu imensurável amor por vocês que me conduziram em sua direção.”

Verdadeiramente, esse Deus e sua mensagem não poderiam ser tratados de uma forma diferente senão como uma ameaça. Afinal, quão arriscado seria para as estruturas que tentam aprisionar Deus e domesticar a sua mensagem se outros como eu descobrissem que há lugar a mesa.

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Matheus Motta Dos Santos
As implicações do evangelho

Um ser humano em construção apaixonado por pessoas, problemas, projetos e produtos.