Eu, Inabalável: contraste entre justiça, vingança, amor e ódio

Li Eu, Inabalável há alguns anos e decidi revisar a resenha e trazer pro Reticências :)

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Imagine-se tendo seu irmão morto, assassinado. Sua mãe internada em estado de choque. Seu pai consumido pelo ódio. A policia nada fez. Você quer vingança, mas o mal poderá roubar seu grande amor. Você iria até o Fim?

Sinopse: Leonardo desperta. Olha para o relógio de cabeceira e percebe que ainda tem bastante tempo para se arrumar e ir para o colégio. Ao se levantar sente algo diferente. Verifica o quarto. Tudo está em seu devido lugar. Ele coça os olhos para ter certeza que está desperto. A sensação de incomodo continua dentro dele. Ao descer do ônibus percebe uma grande aglomeração de gente em frente a antiga loja de esquina, próximo a entrada da escola. Curioso vai em direção a multidão. A cada passo dado a sensação de desconforto aumenta. Ao tentar se aproximar da faixa de segurança colocada pela polícia, sente o braço ser puxado por seu amigo Luis, todavia é tarde, já havia reconhecido as roupas de seu irmão Alan. Não consegue segurar as lágrimas, desesperado corre em sua direção, é impedido por policiais. Só lhe resta gritar para que ele lhe ouvisse, não há resposta, Alan está morto.

Eu, Inabalável, escrito por Josué Matos e publicado em 2014, é uma história de suspense policial que irá narrar as fortes perdas de Leonardo e o seu plano de vingança. A maneira como Matos desenvolve os personagens e nos apresenta seus cenários é tão objetiva e direta quanto impactante e profunda!

Depois do assassinato de Alan, a família de Leonardo sofre com as consequências: sua mãe entra em desespero e é internada; o pai, ao tentar vingar a morte do filho mais velho, é morto pela polícia. Leonardo está perdido em suas emoções.

O que o filho mais novo poderia fazer para ajudar sua mãe — e a si mesmo — a superar o inferno que sua vida se tornou? Vingança.

Após dois anos no exterior, Leonardo retorna ao país para vingar todas as dificuldades e perdas que sofreu. Ao se aproximar do principal suspeito da morte do irmão, Humberto — professor da escola com quem Alan tinha um caso — Leonardo descobre um passado sórdido.

Em paralelo, Valéria, a investigadora do caso, complica-se com mortes misteriosas que se relacionam com a escola e Leonardo. O assassino se vê livre, brincando com os sentimentos de Leonardo e as habilidades de Valéria.

Eu, Inabalável retrata a realidade periférica de alguns grupos sociais e levanta temas como a homofobia, pedofilia, tráfico de drogas, abuso sexual e a injustiça. Os personagens funcionam como veículo de mensagens importantes para a trama, uma vez que ajudam a trazer questionamentos e reflexões sobre o papel da justiça, o instinto vingativo do ser humano e a dor dos mais inocentes.

Notei que, à medida que a leitura avança, o autor pretende retratar igualmente temas complicados. Prova disso é que existem vários núcleos dramáticos fortes. Isso torna a leitura muito mais dinâmica e nada enfadonha. A escola — principal cenário deste romance — pode ser interpretada como uma indicação do autor de por onde os diálogos sobre homofobia, tráfico e injustiça devem ser iniciados.

Mesmo sendo ficção, Eu, Inabalável se assemelha bastante com a realidade dos que sofrem com os preconceitos e injustiças dentro das comunidades, nas favelas e periferias… O plano de Leonardo é um grito desesperado que nos faz questionar se a vingança pode ser tomada como solução. O ódio sempre existirá, a injustiça também, mas o amor pode ser o balizador para nossas ações.

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.