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O banho de sangue em O Vilarejo, de Raphael Montes

O livro de terror que me fez refletir sobre a maldade humana

Alex Mendes
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2 min readMay 2, 2020

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Os livros de terror ganharam espaço nas prateleiras dos brasileiros. Não sei se pelas edições impecáveis ou pela trama em si. O que importa é que este gênero literário está crescendo por aqui.

Raphael Montes é um dos autores que explora com maestria os thrillers e em O Vilarejo ele desbrava os elementos obscuros da natureza humana, além de nos apresentar um verdadeiro banho de sangue (um “jogos mortais” sem tantas armadilhas).

Nacos de braços e pernas infantis saem da travessa fumegante pousada na toalha de mesa com motivos florais. Num prato ao centro, partes do pequeno Rurik mergulham num caldo vermelho.

Nesta obra, fica claro que o autor faz parte do enredo (particularmente, isso deu um tom de “realidade” — comecei a sentir medo aí). No início da história, Raphael recebe de um amigo alguns contos escritos em cimério — uma língua antiga e morta. Ao traduzi-los, Raphael nos apresenta a história de um vilarejo que aos poucos é dizimado pela fome, pelo frio e por acontecimentos brutais.

O fato do autor ter se inserido na história, me trouxe mais credibilidade e até um pouco de tensão antes de conhecer o tal vilarejo.

Após traduzir os manuscritos, Raphael tem 7 contos distintos. Cada conto tinha o nome de um demônio que invoca um dos 7 pecados capitas nas pessoas do vilarejo (luxúria=Asmodeus; gula=Belzebu; ganância=Mammon; preguiça=Belphegor; ira=Satan; inveja=Leviathan e soberba=Lúcifer). Os contos são independentes, mas de alguma maneira deixam o leitor ansioso para virar a página e saber mais daquelas pessoas. Muitas delas surgem em várias passagens, deixando a leitura mais rica e cheia de questionamentos

Os personagens serão confrontados em situações bizarras que envolvem preconceito, abusos, fome, prostituição e doenças; desvendando, assim, o podre do ser humano e deixando o leitor com medo, nojo e até pena.
Como que isso é possível, meu Deus!??

“Nunca inseri o pecado ou mal nas pessoas. O mal já estava lá. Eu apenas potencializei”

Com cenas de arrepiar, O Vilarejo gera um questionamento sobre a verdadeira fonte da crueldade humana. Até que ponto buscamos justificar nossos erros/pecados/crimes com a presença do mal ao nosso redor? Será que a maldade é intrínseca à nossa natureza e as barbáries que cometemos ocorrem pela influência de forças sobrenaturais?

Adorei ler O Vilarejo! Foi o primeiro livro de terror com o qual me envolvi facilmente. Com certeza, da próxima vez que desejar ler terror nacional, vou correr para Raphael Montes.

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.