O Peso do Pássaro Morto e o significado das perdas

Uma narrativa poética sobre as tragédias da vida

Alex Mendes
Reticências
3 min readApr 16, 2020

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Photo by Robert Eklund on Unsplash

Nunca mergulhei tão fundo e em tão pouco tempo num livro! O Peso do Pássaro Morto é a obra de estreia da Aline Bei e me trouxe um ponto de vista objetivo sobre a perda.

O livro contará a história de uma mulher sem nome que tem a vida repleta de tragédias. Dos 8 aos 52 anos essa mulher anônima é costurada por momentos tão poéticos e ao mesmo tempo tão violentos, resultando numa resiliência absurda (e até certo ponto uma acomodação) diante das dores que a vida nos apresenta.

Na infância ela encontra muitas dificuldades em entender o mundo a sua volta e dificilmente acha respostas nos pais. Seu vizinho, um senhorzinho gentil, é a pessoa que mais tenta lhe explicar o que é a morte e Deus.
A partir dos 17 anos, as perdas são retratadas de maneira crua e sincera. As consequências irão arrastá-la para uma vida adulta conturbada e triste. Ao longo da história ela se encolhe e vai esquecendo aos poucos de si mesma. Nos últimos capítulos, até achamos que a vida vai sorrir pra essa mulher. Mas somos convencidos de que as perdas são constantes.

O Peso do Pássaro Morto é contado quase sempre em 1ª pessoa e surgiu de uma lembrança pessoal da autora, quando um canário morreu em suas mãos. É interessante comentar que o estilo da escrita de Aline é bem peculiar. Todo o romance é construído em versos. À primeira leitura, tive dificuldades com a ausência de vírgulas e iniciais minúsculas. Aline brinca com o espaço da página e diagrama seus versos de maneira que o leitor crie as conexões necessárias.

Entre temas como maternidade, alfabetização emocional, violência sexual e abandono de si, O Peso do Pássaro Morto me trouxe muitas reflexões sobre a maneira que vivenciamos e sentimos as perdas. Não foi possível conhecer esta mulher e não sentir dor e compaixão a cada página.

Alguns trechos:

"minha mãe sentou tímida ao meu lado. sempre gostei dela fazendo carinho no meu cabelo mas hoje estava esquisito, no dia que eu descobri o que é Morrer."

"o problema foi a perda da parte de mim que acreditava, vazou no banho um dia pelo ralo"

"a pena de crescer é querer entender tanto"

"entendendo que o tempo sempre leva as nossas coisas preferidas no mundo e nos esquece aqui olhando pra vida sem elas."

"ser adulto por vezes não deixa a beleza das coisas entrar tão facilmente, a gente começar a desconfiar"

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.