Os cordéis de Bráulio Bessa

Em Um Carinho na Alma a simplicidade ganhou métrica

Alex Mendes
Reticências
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2 min readApr 11, 2020

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Confesso que nunca fui um leitor de poesias. Tirando aqueles versos que li na escola durante uma feira da cultura, não dediquei muito tempo à poemas. E, por culpa de todo o isolamento, revirei a Amazon em busca de títulos novos, leves, porém ricos. Encontrei Um Carinho na Alma. Pensei duas vezes antes de pegá-lo? Sim. Mas fui surpreendido pela honestidade dos versos de Bráulio Bessa.

Antes de qualquer coisa, Um Carinho na Alma não é um livro para ser lido em silêncio. Os versos de Bráulio fazem parte da literatura de cordel —uma expressividade popular muito significativa para o país. Os cordéis são versos rimados, cantados e impressos que eram vendidos nas feiras e traziam entretenimento para um povo sofrido.

“A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior” — Carlos Drummond de Andrade

Como bom cordelista, Bráulio Bessa traz às páginas lembranças de sua terra, do ambiente sertanejo, remonta cenários singelos, retrata os laços familiares, fala do amor e chega até a re-citar o sucesso, a felicidade e a política. Por estes motivos o livro me embalou com seus versos como rede abraça moleque arteiro.

A obra possui uma leitura simples e com bastante regionalidade. O autor intercala grupos de cordéis com relatos de alguns momentos importantes na sua vida, como o dia em que precisou ir de havaianas para a escola, quando sua mãe sofreu um acidente de moto e quando sua avó faleceu (confesso que chorei muito aqui). Bráulio pesca inspiração em momentos simples: uma rede na varanda, um café no final de tarde, uma praça vazia, o fogão a lenha… as lembranças de infância.

Entre tantos versos muito bem combinados, separo o melhor cordel de Um Carinho na Alma:

A Ferida
Seu amor afiado fez um corte
em meu peito, arrancado o coração.
Só deixou o pulsar da solidão
e um bilhete dizendo “boa sorte”.
Nessa hora o desprezo bateu forte
ao saber que fui só um passatempo,
como posso curar essa ferida,
se tirar esse amor da minha vida
é a dor e a cura ao mesmo tempo?

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.