Pequena Coreografia do Adeus, Aline Bei
Repetindo as características de O Peso do Pássaro Morto, Aline Bei entrega ao leitor uma história delicada e densa, desta vez sobre autoaceitação e rejeição familiar.
O livro, classificado como romance, é narrado por Júlia Terra. Sem clichês, ela conta sua história através de momentos pontuais de sua infância e adolescência. Vive uma relação conturbada entre pais separados há pouco tempo e precisará lidar com a rigidez de sua mãe e a indiferença de seu pai.
Mas o livro não se limita aos constantes dilemas familiares. Na busca por independência, Júlia sai de casa, encontra um emprego e tenta manter uma relação saudável com os pais. Ela conhecerá pessoas chaves que a ajudarão a experimentar sentimentos que não floresceram em sua família e que a tornaram incompleta e carente.
A partir daí, Júlia passa a escrever despretensiosamente, como se este fosse o único meio para encontrar sua essência e propósito de vida. De modo poético, o que Júlia escreve reflete sua incompletude e dor.
Ao longo de todo o livro Júlia internaliza suas emoções. Em determinados momentos eu sentia que ela se desprenderia da vida, desistindo do pouco que tinha alcançado justamente por não saber quem era.
Não é uma história colorida. Particularmente, temáticas familiares e pontos de vista infantis entregam ao leitor um pouco de alegria. Não com Júlia! Desde as primeiras páginas sentimos que ela só quer o bem dos pais, mas sua interpretação da vida adulta é o que gera a sensação de desprezo.
Se O Peso do Pássaro Morto foi um livro chocante, o segundo livro da Aline Bei veio pra mostrar que a sensação pode ser muito mais intensa e avassaladora! O formato em versos é dinâmico e contemporâneo. As metáforas — ainda que ásperas — são pura poesia.
A emoção e a sensibilidade de Júlia afloram um lado ainda míope em mim. Sem nem pensar duas vezes: Pequena Coreografia do Adeus é um dos favoritos do ano!
Aproveita pra ler a resenha do primeiro livro da Aline Bei :)
