Zeide, Caco Ciocler

Alex Mendes
Reticências
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3 min readApr 7, 2021

Gosto de histórias que falam de família. Gosto mais ainda quando esta história valoriza a influência daqueles que já viveram e deixaram um legado para os mais novos.

Zeide é isso: um relato de respeito e exaltação às histórias e cultura de judeus que atravessaram o oceano e construíram suas vidas em terras brasileiras.

Sinopse: Em 1921, na Alemanha, o jovem Sucher embarca num navio ancorado em Hamburgo rumo ao Brasil. Deixa para trás os pais e as irmãs, levando na bagagem algumas poucas peças de roupa, um tapete enrolado e as memórias dos campos de fumo da gelada Bessarábia. Ao desembarcar na desconhecida cidade de Santos, ‘de céu pintado de laranja feito quadro encomendado’ numa tórrida tarde de verão, ele se curva sem saber se arrebatado pelo bafo quente que lhe afrontava as origens ou se por reverência à terra que lhe traria a mulher com a qual fincaria raízes definitivas no Brasil. Desse encontro nascem os filhos Bóris e Jackson, que dão a Sucher uns tantos netos. É pelo olhar do mais novo de todos, da infância até a vida adulta, que se costura a narrativa não linear deste romance, que conduz o leitor por uma jornada de mais de sete décadas. Em sua estreia como ficcionista, o ator e diretor Caco Ciocler faz um relato bem-humorado e emocionante sobre a trajetória de uma família judaica no Brasil, além de uma declaração de amor ao avô.

Zeide, a travessia de um judeu entre nações e gerações foi lançado em 2017 pela editora Planeta. Foi o primeiro livro de Caco Ciocler, conhecido por sua atuação em peças, filmes e obras televisivas no Brasil.

Para quem acha que Zeide abordará a guerra e o holocausto, sinto lhe informar que, desta vez, esses fatos serão colocados de lado. Embora estes momentos estejam presentes no livro, Zeide se desdobra, em sua totalidade, sobre a trajetória, superação e fracassos daqueles que, em função da guerra, precisaram deixar sua terra natal.

Com uma narrativa não linear, Zeide é composto por histórias de homens que se tornam pais, avós e, ao mesmo tempo, são netos e filhos. Parece confuso? No livro fica mais complicado. Aliás, esta foi minha maior dificuldade. Durante a leitura a história muda entre dois passados e um presente.

Existe o passado de Sucher, um judeu que depois de muitos esforço conseguiu comprar a passagem para a América. Pretendia chegar ao Canadá, mas acabou sendo enviado para o Brasil. O outro passado aborda as diferenças entre os filhos de Sucher, Boris e Jackson. E o presente é curiosamente o momento de fala do autor, neto e personagem da narrativa.

Os capítulos lembram um pouco as famosas crônicas nacionais, pois contam a vida dos personagens com emoção, delicadeza e até arriscam aquele humor proveniente do jeitinho brasileiro.

Como um livro de ficção que tem como pano de fundo a vida, no Brasil, de judeus descendentes de imigrantes, Zeide toca os mais sensíveis ao contar de forma objetiva momentos de grande importância para aquela família. As passagens que mais se destacaram na minha leitura foram sem dúvida: Sucher se despedindo do pai na Alemanha, o nascimento de Boris e o dia em que Caco ouviu “Tirem o menino daqui! Não quero que meu neto me veja assim!”

Zeide finaliza com um glossário muito interessante para a compreensão de termos judeus embutidos no enredo. O glossário conta com 20 expressões hebraicas e aramaicas que enriquecem o livro e ajudam a desmistificar uma das culturas mais ricas e importantes no país.

Ainda que não tenha atendido minhas expectativas, Zeide possui uma premissa bem definida. Está embasado na cultura e tradição judaicas e é uma verdadeira reverência ao passado.

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.