Sagrada Família — Curvas, Superfícies e Arquitetura

Retomei os suspenses de Dan Brown com “Origem”

A fórmula do autor ainda funciona, mas começa a pedir atualizações

Alex Mendes
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4 min readMay 31, 2020

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Origem é aquele tipo de livro que ganha atenção de qualquer pessoa que goste de um belo suspense e que fale de arte, religião e ciência. No geral, o título é bem escrito e os cenários são carregados de detalhes. Mas, comparando com outras obras, como O Código Da Vince, por exemplo (o melhor na minha opinião), Dan Brown se alongou bastante com o mistério do livro, não me envolvendo tanto quanto imaginei.

A história gira em torno de duas perguntas básicas: De onde viemos? e Para onde vamos? Tais perguntas inquietam a humanidade há muito tempo e têm sido fonte de diversos conflitos.

Na tentativa de responder essas perguntas, o renomado inventor Edmond Kirsch cria um super computador que consegue simular as condições exatas do momento em que a vida surgiu e, à frente, simular o destino da Terra. Mesmo ciente dos impactos na sociedade, Kirsch organiza uma grande apresentação — quase um show — no moderno museu Guggenhein, em Bilbao, para contar ao mundo sua mais importante descoberta. Edmond só não esperava ser assassinado no palco.

Para garantir que o mundo soubesse da descoberta de Edmond, Robert Langdom, antigo professor de Kirsch, e Ambra Vidal, futura rainha da Espanha e diretora do museu, disparam em uma grande corrida para salvar suas vidas e a mensagem de Kirsch.

Quem o silenciou, faria de tudo para silenciar Langdon e Ambra também.

No meio de tudo isso, Winston, a inteligência artificial criada por Edmond, conduz os dois pela Espanha, facilitando sua fuga de formas incríveis.

Museu Guggenheim Bilbao

A fórmula de Dan Brown é bem conhecida: um mistério, geralmente envolvendo um assassinato, fugas e buscas por pistas soltas que são encontradas entre a religião, a ciência e a arte. Mas, diferentemente dos outros livros do autor, Origem nos insere no mundo da arte moderna e nos apresenta a rica arquitetura da Basílica da Sagrada Família. Conhecemos também a ousadia do museu Guggenheim Bilbao em contraponto com o poder e o classicismo do Palácio Real. O autor instiga tanto que é impossível não correr para o Google Imagens.

Basílica da Sagrada Família

Neste livro, a religião é questionada pelo evolucionismo. Dan Brown é brilhante ao contrastar os avanços da ciência — representado por Edmond Kirsch — com o tradicionalismo da igreja, principalmente a católica. É evidente que Origem lança dúvidas sobre a resistência das religiões em tempos de constante avanço do conhecimento científico.

Alguns dos melhores momentos são protagonizados por Winston e pelo site de notícias ConspiracyNet.com, os quais são bem mais interessantes que Langdon e Ambra em muitos momentos. A interação de Winston com Langdon é bem avançada, quase humana, pois ele é capaz de replicar o senso de humor e até ironias. Já o ConspiracyNet, trouxe mais consistência à história, afinal, vivemos em um tempo em que as notícias são instantâneas. Isso foi muito bem construído em Origem e por este motivo as respostas sobre a origem da vida deixaram de ser meu foco durante a leitura.

Embora a curiosidade e a ansiedade se mantenham ao longo do livro, particularmente senti que o autor pecou ao estender e esconder desnecessariamente o grande arquiteto da trama. Os acidentes, assassinatos, pistas curiosas e fugas de Ambra e Langdon — que nos deixam sem ar — montam um cenário que subestimam o leitor enquanto a trama perde um pouco o foco e abre espaço para um final previsível.

O livro é uma ótima opção para passar o tempo e distrair a mente :) Dan Brown ainda me surpreende. Suas histórias funcionam como uma profunda viagem aos mais diferentes países e suas culturas distintas. Seus crimes sempre nos capturam com uma rede de pistas e mistérios. E as respostas só podem ser encontradas depois de observarmos grandes obras de arte.

Origem é um título que retoma os constantes embates ideológicos e éticos entre a religião e a ciência. No entanto, ao final da leitura, o autor oferece ao leitor a possibilidade de compreender que, independentemente da versão sobre a origem da vida, ambas podem coexistir e buscar o bem da humanidade — cada uma à sua maneira — em prol de um futuro melhor.

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.