Sobre terapia, Coragem e Calum Scott

As conexões criadas entre um HQ, uma música e minhas sessões

Alex Mendes
Reticências
3 min readOct 3, 2021

--

Dificilmente eu leio quadrinhos. Devo ter lido algumas edições da Turma da Mônica quando mais novo e só. Comprava na tentativa de me distrair. E funcionava. Mas com o tempo elas ficaram de lado.

Há alguns dias eu terminei de ler Coragem, da cartunista norte-americana Raina Telgemeier. Embora eu tenha relembrado um pouco da minha adolescência e ter tido uma ótima experiência, concluí a leitura sem ter certeza se havia compreendido sua mensagem. Mas isso durou até ontem, quando tive uma crise de choro, baixa autoestima e pessimismo.

Para ficar mais claro, preciso voltar um pouco.

Comecei a fazer terapia muito por incentivo do meu namorado. Não que eu estivesse resistindo a conversar com um estranho. Eu só não estava priorizando esse momento, esse cuidado.

Assim como em qualquer outra relação, levou um tempo até eu sentir que o diálogo com a psicóloga tinha se estabelecido. E o principal motivo de nossas conversas foram questões voltadas à carreira profissional e o quanto o estresse e as mudanças de humor estavam afetando minhas relações.

Meu combinado com a ela era de que, após as férias, eu voltaria renovado para dar os primeiros passos em direção à minha qualidade de vida.

Os 15 dias de descanso me ancoraram até a tempestade de emoções passar. Deu certo ;) Retornei bem e muito mais consciente das situações problemáticas. Passei a identificar os gatilhos e anotá-los em post-its.

No entanto, ontem eu derrubei o pouco que eu já tinha construído. Um único motivo mudou completamente minha percepção e reação de outras situações banais da minha rotina. Ao final do dia, eu era um grande barril de pólvora. Chorar era necessário para aliviar o que quer que estivesse entupindo minha garganta e bloqueando qualquer racionalidade.

Foi assim que me enrolei nos travesseiros e abri o Spotify. E lá estava, na home do aplicativo, a sugestão de uma música recém-lançada do Calum Scott: Rise. A letra fala de alguém que olha para o litoral e pensa nas escolhas que fez e nos motivos pelos quais se escondeu. Ele se questiona se está no caminho correto e, na sequência, grita a plenos pulmões que está pronto e agora está levantando-se. A batida segue enérgica com ares de superação. Aquela música, por algum motivo, precisava estar ali naquele momento. Ela me sussurrava uma única palavra: coragem.

Coincidentemente ou não, o livro de Raina Telgemeier ainda precisava fazer sentido para mim.

Nos quadrinhos, conhecemos uma Raina personagem. Uma adolescente que, além de enfrentar as mudanças típicas da idade, tem de lidar com a ansiedade e as crises de pânico. Suas ilustrações possuem uma única legenda: tenha coragem!

Esta é a mensagem principal! Precisamos expressar o que sentimos e não importa se é escrevendo, desenhando ou conversando com alguém. O primeiro passo é olhar para dentro e não deixar aquela tempestade nos levar. É necessário aceitar que ela ocorre por muitos motivos e que o choro é só uma das formas de se permitir sentir.

Em outras palavras, ter coragem de olhar pra dentro permite enxergar a bagunça e a fragilidade humana. Hoje sinto que o motivo de ter postergado tanto a ajuda psicológica foi o medo de não aceitar minha vulnerabilidade.

Eu ainda não sei como resolver as questões de carreira e se conseguirei controlar os gatilhos do estresse, das mudanças de humor e da baixa autoestima. Porém, estou pronto para tentar, errar e tentar de novo até dar certo.

Estas últimas linhas são escritas enquanto Rise toca alto na sala.

Estou com as mangas arregaçadas, olhando pro litoral e tomando coragem de olhar para dentro.

Obrigado por ler 🙏 Se gostou, deixe seus aplausos 👏
Conheça o blog Reticências e siga no Instagram 📷

--

--

Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.