Traição, homicídio e submissão emocional fazem de Tua um livro excelente!

Alex Mendes
Reticências
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3 min readMar 22, 2022

Um dos motivos que me atraem à literatura é a possibilidade de acompanhar histórias excitantes. Histórias que reviram as emoções, que mexem com o imaginário e quebram qualquer previsão. Não, não sou o tipo de leitor que gosta de sofrer durante a leitura — e se tiver que passar por isso, não me importo. Porém, Tua, da autora argentina Claudia Piñeiro, me causou muito desconforto e ao mesmo tempo me propiciou prazer pela trama muito bem construída.

Tua é um livro que, além de ultrapassar as primeiras expectativas do leitor, entrega momentos incríveis justamente por ser dinâmico, muito bem escrito e extremamente próximo da realidade. A leitura foi tão rápida que nem deu tempo de compartilhar minhas primeiras impressões por aqui.

A narrativa é sobre uma família problemática. Inés descobre que seu marido, Ernesto, tem um caso com a secretária, Alice. Para ela, é compreensível a infidelidade do marido, já que ele trabalha demais e ela não é tão nova quanto gostaria. É evidente que Inés submete-se a Ernesto. Os medos e a rígida criação que recebeu da mãe influenciam diretamente o comportamento de Inés. Ao seguir o marido, Inés torna-se testemunha de um crime. Até aqui, a história é similar a muitos outros livros policiais. Porém, é quando Inés decide ir mais a fundo que seus planos são alterados por uma nova peça, a chegada de outra mulher, Charo.

Em quase 150 páginas, a autora constrói um cenário típico de novela das nove: uma família de classe média, um casal com problemas na relação, uma filha problemática, traição, mentiras, crimes… Aliás, crime é o que menos falta em Tua!

Confesso que de início a história não me conquistou. Contudo, o desejo de descobrir o desfecho de cada personagem tornou a experiência incrível.

Chama atenção o posicionamento de Inés em relação ao marido. Em diversas passagens, notamos o quanto ela é dependente emocionalmente de Ernesto, chegando a absorver as consequências das atitudes dele. Ele é descrito por ela como um adolescente que precisa da mulher para orientá-lo.

Enquanto os pais vivem um declínio moral, a filha, Lali, enfrenta uma gravidez não planejada. O namorado sumiu e ao tentar contatar com ele, Lali foi julgada como culpada pela mãe do garoto. Lali tem uma relação péssima com Inés e não considera a possibilidade de dividir com o pai sua situação. Ou seja, Lali é literalmente uma vida impactada pelos problemas dos pais.

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A presença de personagens femininos é crucial em Tua. A mãe de Inés, que não aparece no livro, é uma baliza para as atitudes da filha. Inés, a personagem central, é perspicaz, corajosa, endeusa o marido e é indiferente à Lali. Ela, por sua vez, pode representar o reflexo dos acontecimentos de casa. A amante de Ernesto é o grande estopim do livro. E por fim, Charo, a última peça dessa história, que na minha opinião só surgiu para complicar ainda mais a vida de Inés.

Como eu disse, Tua quebrou todas as mínimas soluções elaboradas. As reviravoltas são bem planejadas e nos pegam de surpresa. Fazia um tempo que eu não lia uma história tão atrativa quanto esta. Tua me conquistou por ser objetivo e condizente com a proposta, sem forçar a barra com o leitor. É uma ótima leitura e uma boa opção de entretenimento.

Obrigado por ler ❤

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.