Foto de Joshua Rawson-Harris em Unsplash

Uma compra por acidente e descubro um suspense incrível em Uma mulher no escuro!

Novamente me entrego aos enredos do Raphael Montes!

Alex Mendes
Published in
3 min readJun 21, 2020

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Depois da ótima experiência com O Vilarejo, salvei alguns de seus livros na minha lista de desejos no kindle e, acidentalmente, em um dia antes de dormir, acabei clicando no famoso Comprar com 1-Clique.

Se eu soubesse da intensidade e maestria desta história, teria começado a ler Uma mulher no escuro naquela mesma noite. Este é, sem dúvida, um dos melhores suspenses-psicológico/romance-policial que já li.

Sobre o livro

Victoria Bravo é a protagonista em Uma mulher no escuro. Aos 4 anos, seu pai, mãe e irmão mais velho foram brutalmente assassinados dentro de casa. O assassino se entrega à polícia, mas é logo liberto ao completar 18 anos. Victoria escapa por muito pouco e as sequelas físicas e psicológicas a acompanharão pelo resto de sua vida, dificultando suas relações e expondo sua fragilidade.

Vinte anos depois, alguns acontecimentos irão assolar Victória, deixando-a em dúvida: Ele estaria de volta? O assassino da minha família retornara para me assombrar ?

Victória se ver perdida em seus medos e enquanto tenta estreitar a relação com sua tia avó, com seu psicólogo, com seu melhor amigo e um possível namorado, ela iniciará uma busca pelo assassino e enfrentará seus maiores traumas.

O que achei

É muito difícil não se prender à escrita de Raphael Montes. A agilidade em criar as cenas e instigar o leitor a cada capítulo é mais que uma arte em Uma mulher no escuro. Já nas primeiras páginas ocorre o assassinato da família Bravo. O desenrolar deste momento é tão claro, objetivo e direto que se torna quase possível o leitor sentir o olhar de Victoria pedindo ajuda.

O fato de autor não ter criado muitos personagens ajudou a manter Vic no centro de toda a história sem o mínimo desfoque de sua dor e fragilidade. Porém, as figuras periféricas foram as que mais me aguçaram a curiosidade. Em meio a instabilidade e bloqueios afetivos da garota, tia Emília, Dr. Max, Arroz e Georges se tornam alvos fáceis das suspeitas do leitor. Em determinadas passagens é possível desvendar todo o mistério por trás da história de Vic, mas o autor derruba qualquer conclusão precipitada de quem ler.

Embora tentemos enxergar a coragem suficiente em Victória, o maior impulso que a fez explorar seu passado é contraditoriamente o medo. Durante vinte anos Vic alimentou este sentimento e, de alguma maneira, isto a manteve viva. O medo de revirar seu passado criou uma garota problemática, frágil, fraca e incapaz de manter o controle de sua vida. Na reta final do livro, no entanto, presenciamos uma mulher decidida e forte que soube aproveitar o horror de seu passado para soterrar seu sofrimento e dor.

Apesar do crime na casa da família Bravo ser uma das principais cenas, Raphael Montes presenteia o leitor com diversos atalhos mentais que ajudam ou atrapalham a conexão de pistas para desvendar os mistérios do romance. Arroz, Dr. Max, Georges e a tia Emília entram e saem com frequência na zona de desconfiança. Os vizinhos de Vic e colegas de trabalho também não ficam de fora. Raphael ludibria e induz o leitor quase como um malabarista equilibra pratos: sua atenção é reconfigurada a cada nova pista solta propositalmente.

A obra nacional desmembra o medo e apresenta as marcas que os traumas podem deixar. A autoaceitação e a aceitação social são abordados ao longo da história. A falta de confiança e a forte presença de drogas, álcool e violência remontam um cenário tão comum no país.

Uma mulher no escuro sem dúvida foi um acidente certeiro! As páginas escondem um mundo tão pesado, mas tão bem construído pelo autor (os personagens, as ruas do Rio de Janeiro, o cotidiano de um café…) que mantém a atenção do leitor do início ao fim! É mais um ponto para a literatura nacional contemporânea!

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.