ÉTICA E BIOENGENHARIA: ATÉ ONDE VÃO OS LIMITES E DESAFIOS ACERCA DA CIÊNCIA?

Por: Mariana Rufino Bandeira

Os limites acerca da ciência sempre andaram lado a lado com a Ética. Quando falamos sobre bioengenharia, biotecnologia, e do avanço notável que ocorreu ao longo dos anos em relação a tais áreas vemos que uma nova gama de possibilidades se abre e, com elas, vários desafios. A ciência traz consigo novos patamares que incluem clonagem, sequenciamento de DNA, reconstituição de tecidos — animais e humanos a partir de células — e inovações que, trazem um gosto a mais sobre o futuro porém um certo receio para quem teme as consequências do assunto. Mas até onde a ética pode e deve interferir na biotecnologia?

Em muitos livros do ensino fundamental/médio no Brasil, crianças e adolescentes tomaram conhecimento em suas aulas de ciência sobre uma história envolvendo uma ovelha chamada Dolly. Dolly, um experimento realizado na Escócia, foi o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso a partir de uma célula adulta, retirada de uma glândula mamária, experimento este que veio para revolucionar e trazer grandes debates relacionados ao tema. Cientistas estimavam que após dez anos do experimento com a ovelha Dolly, seres humanos também poderiam ser clonados, porém o resultado foi bem diferente. Ao se aprofundar no assunto, nos deparamos com o termo patrimônio genético e de como a clonagem do mesmo, ou seja, clonar um ser humano geneticamente idêntico ao outro poderia impactar na identidade da humanidade e de como isso poderia ser usado para caminhos obscuros. O debate circulou acerca da ética, possível criação de seres humanos idênticos que seriam programados para favorecer certos âmbitos políticos/econômicos como seres funcionais ou até tiranias que pudessem surgir acerca de tanto poder com tal manipulação genética.

De fato, tais impasses trazem certas dúvidas se realmente a ciência deveria ter um passe livre para tais experimentos. Porém, na contramão disso, os estudos se estendem a outras possibilidades bastante positivas acerca da saúde humana. Um dos grandes avanços relacionados à área da biotecnologia poderia ser exemplificado como o transplante de órgãos e outros procedimentos que buscam não apenas um avanço na ciência, mas também salvar vidas, como o estudo que busca implementar o transplante de órgãos de outros animais (como no caso da pesquisa, porcos) para seres humanos, buscando torná-los compatíveis e seguros para tal procedimento. Os desafios acerca disso abrangem outro problema, como a solução de um vírus encontrado na carne dos suínos que precisaria ser erradicado de seu sistema genético para que o transplante acontecesse com sucesso, desafio esse que também se torna um grande gancho para os estudos em busca de erradicar doenças e epidemias, como a criação de vacinas através de testes em células humanas, porém que ainda topam com a questão da bioética.

A palavra Bioética, como termo definido, é uma junção dos radicais “bio”, que advém do grego bios e significa vida no sentido animal e fisiológico do termo (ou seja, bio é a vida pulsante dos animais, aquela que nos mantém vivos enquanto corpos), e ethos, que diz respeito à conduta moral. Trata-se assim de um ramo de estudo interdisciplinar que utiliza o conceito de vida da Biologia, o Direito e os campos da investigação ética para problematizar questões relacionadas à conduta dos seres humanos em relação a outros seres humanos e a outras formas de vida. A bioética não deveria impor limites ou ditar normas segundo suas origens, mas encontrar o pluralismo moral na sociedade em que tais pesquisas, estudos e avanços pudessem acontecer sem atingir ou impactar de forma negativa na própria sociedade. O surgimento dos desafios acerca desses estudos na sociedade sempre caminham em uma balança: Até onde isso é bom para a saúde humana (como exemplo o transplante de órgãos) ou faz mal? (como o surgimento dos alimentos transgênicos). De fato, os desafios e impasses não surgem como barreiras ou limites, mas para gerar o debate de até onde o ser humano deve chegar e de como isso irá impactar em toda a humanidade.

Diante disto, tal debate se torna necessário não apenas para buscar caminhar positivamente com tais avanços da tecnologia com a biotecnologia, mas para buscar o pensamento crítico de como toda ação gera uma reação e os impactos das mesmas na sociedade como um todo. Como visto a partir do próprio conceitos da bioética, as “limitações” devem de fato, existir e serem colocadas em pauta para gerar o debate de que pontos positivos e negativos tais estudos e experimentos trariam, buscando um conceito equilibrado e ético para uma ciência positiva. Mas o investimento em tais áreas se torna fundamental até para buscar soluções para as atuais consequências que poderão surgir com o uso de tais tecnologias, como alimentos transgênicos que preocupam cada vez mais cientistas acerca do impacto dos mesmos para a saúde humana, estudos esses que podem ser cada vez mais introduzidos em meios acadêmicos nas áreas da bioengenharia e biotecnologia, mas também a introdução do tema e seus vários caminhos desde o ensino fundamental, pois caminhar com o futuro e com a ciência deve ser uma oportunidade de conhecimento de todos e, conhecer a ética acerca do tema protege não somente a um, mas a toda uma humanidade e sua identidade.

Leituras Adicionais:
[1] A ética da biotecnologia moderna. BRASIL ESCOLA. https://monografias.brasilescola.uol.com.br/biologia/a-etica-biotecnologia-moderna.html. Acesso em: 20 de Nov. de 2019.
[2] Biotecnologia não pode ultrapassar limites da ética. CONJUR. 7 de junho de 2009. https://www.conjur.com.br/2009-jun-07/biotecnologia-nao-avancar-respeitar-limites-etica. Acesso em: 20 de Nov. de 2019.
[3] O avanço genético que pode possibilitar transplante de órgãos de porcos em humanos. BBC. 11 agosto 2017. https://www.bbc.com/portuguese/geral-40900795. Acesso em: 20 de Nov de 2019.

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César França
Aspectos Humanos e Sociais na Computação

PhD em Ciência da Computação / Universidade Federal Rural de Pernambuco