Grupos femininos

Segregando ou agregando?

Tatiana Takimoto
asPedaleirax
5 min readOct 15, 2016

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Como eu tenho participado de alguns grupos femininos, tenho ouvido questionamentos sobre “segregar os homens”. Por que segregar os homens se nós queremos justamente igualdade?

Explico:

O mundo possui uma cultura que sempre privilegiou o homem. Está mudando. Em alguns lugares eu diria até em uma proporção admirável, mas ainda estamos muito longe da igualdade.

  • No Brasil, o número de mulheres ocupando cargos de liderança em empresas aumentou de 5% em 2015 para 11% em 2016. Foi um avanço! Mas percebem que ainda falta muito para equidade de gênero? Além disso apenas 19% das empresas no Brasil tem mulheres em cargos de liderança. A média global é de 24%.

A questão da liderança é apenas uma das questões que envolvem o movimento feminista. Entenda movimento feminista como a luta pela igualdade. Não se propõe aqui ninguém ser melhor que ninguém, nem culpar, nem julgar. Apenas mudar a situação do mundo que hoje privilegia os homens.

Existe um preconceito e uma falta de confiança na mulher. E isso não vem apenas dos homens, mas das mulheres também. O maior problema que vejo é elas não confiarem em si mesmas. Além disso elas se sentem culpadas por tudo que fazem. Claro que aqui estou generalizando com base nas histórias da maioria das mulheres que eu conheço e com quem convivo nos grupos de empoderamento feminino. Mas sei que muitas não se sentem assim e eu levanto as mãos para os céus, pois são elas que nos inspiram na questão do empoderamento. O objetivo é que nenhuma mulher se sinta assim no futuro.

Com base nisso, eu digo que para as mulheres adquirirem confiança nelas mesmas, é preciso um ambiente favorável. Este ambiente funciona melhor sem a presença masculina por diversos fatores, cada um ligado ao motivo do grupo existir, como por exemplo: mulheres na tecnologia, mulheres no pedal, mulheres nos games, etc.

O exemplo da mulher na tecnologia é interessante, pois eu, como engenheira eletricista, vivenciei situações de machismo os quais me fizeram sentir inferior aos meus colegas de trabalho. Lembro de chorar algumas vezes por isso. Se na época existisse um grupo como o que existe hoje em Florianópolis, o “Anitas”, eu teria um suporte e, por influência das outras vivendo o mesmo problema, eu teria passado por isso com mais tranquilidade.

Nas minhas pesquisas, encontrei o relato de Ana Paula e achei lindo! Porque ela liderou um grupo de mulheres desenvolvedoras e viu como o grupo atrai e encoraja outras mulheres! Muitas vezes o que falta é incentivo, e os grupos femininos fazem justamente isso: incentivam.

Anitas em Florianópolis (O incentivo a termos mais mulheres na tecnologia)

As mulheres falam a mesma língua, pois vivenciam os mesmos problemas. Deste modo a empatia é automática e o apoio também.

Outro exemplo que tenho recebido vários questionamentos: Por que um grupo de pedal feminino? Porque existem muitas mulheres que têm medo, que têm insegurança, que não têm confiança para sair por aí pedalando. Grupos mistos funcionam muito bem quando a mulher já passou pela experiência de empoderamento no pedal. Quando ela conhece a sua bicicleta e tem autonomia para se virar sozinha, ela se sente em situação de igualdade. Eu já participei de pedais mistos que eu não consegui acompanhar, destruí o meu joelho e me senti frustrada e triste.

Participo do grupo “As Pedaleirax” e este grupo funciona porque meninas mais experientes, que tem coragem para descer o Morro da Lagoa (digo isso porque eu tenho medo), são as nossas guias. Elas nos ensinam a pedalar, a trocar as marchas, a conhecer o trânsito, elas incentivam as novatas. É um grupo de empoderamento feminino, pois o intuito é ensinar, motivar, fortalecer, fazer com que a pedaleira se sinta capaz.

Os grupos femininos sabem que neles muitas já passaram por abuso sexual, abuso moral, dificuldades no casamento, dificuldades no trabalho e tudo isso contribui para a falta de confiança e insegurança. São dificuldades muitas vezes geradas pela cultura machista, mas que estamos dando a volta por cima e superando.

Quando se adquire confiança em alguma esfera da vida, seja no esporte, seja no trabalho, ou em qualquer outra situação, todas as outras esferas melhoram também.

Assim, justificam-se os grupos femininos. Empatia. Apoio. Superação.

Além disso tem as amizades que se formam. É lindo de se ver.

As Pedaleirax (O incentivo a termos mais mulheres donas de si no pedal)

Entram mulheres pouco confiantes. Saem mulheres empoderadas capazes de empoderar outras. E assim seguimos em busca do objetivo maior que não é segregar os homens e sim agregar mais mulheres. Buscar pela igualdade. Fazer com que todas se sintam confiantes e com poder para buscar o que quiser na vida, seja liderança em uma empresa, seja desenvolvimento de software, ou dançar, pedalar, empreender, viajar, ser feliz. Sem culpa, sem medo, sem julgamento. Com alegria, com confiança, com objetividade, com liberdade.

Juntas somos mais fortes.

Desde 1943 na causa feminista

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