Todo final de semana ela tenta

Murillo Leal
aspequenascenasdavida
2 min readMar 10

--

Ao despertar, a menina observa o vazio ao seu lado e suspira antes de levantar. Arrastando os pés, ela segue até o banheiro e encara seu reflexo no espelho. Decidida a se vestir bonita, mesmo sem ninguém para impressionar, ela sabe que é importante se sentir bem consigo mesma. Porém, ao sentar na cama para botar os sapatos, a solidão começa a pesar em seu peito. Percebe que está atrasando-se mais uma vez.

Andando pela rua com pressa, ela passa por pessoas sem que nenhuma lhe dê a devida atenção. Sua dor é invisível aos olhos dos outros. Quando chega no trabalho, corre para o banheiro e se entrega às lágrimas, sabendo que não pode demonstrar fraqueza para os colegas. Ela seca as lágrimas e força um sorriso antes de sair.

No fim do expediente o pessoal do trabalho a convida para um happy hour. Hesita, mas lembra do apartamento gelado e frio e resolve tentar se reanimar mais uma vez para que o final de semana não comece tão mal.

No bar com as amigas, ela ri e dança, mas a dor profunda a mantém presa. Parece que um grito está preso em sua garganta e ela quer desabafar, mas não sabe como. Então, finge estar bem e continua dançando. Bebe aceleradamente. Deseja ficar bêbada, esquecer a vida por uns instantes, mas fica sem coragem de embriagar-se. Lembra de todas as desvantagens de uma ressaca na idade que está e decide parar de beber e ir embora. Todos tinham companhia para depois, menos ela.

Chegando em casa, se percebe sozinha, a tristeza a invade e a menina se joga no chão, chorando sem parar. Ela sabe que precisa ser forte, mas a dor é demais para suportar. Lágrimas escorrem pelo seu rosto e ela se sente completamente sozinha. Acorda no meio do tapete da sala minutos depois de dormir. Olha no relógio e ainda são dez da noite. Ela não está bêbada.

Ela decide sair pela cidade para encontrar alguma coisa para fazer, passa na frente do cinema, e muda de ideia. Vai ver um filme. Só o pavor de alguém postar uma foto dela sozinha no bar bebendo com a legenda “liberdade ou solidão” a apavora.

Caminhando pelas ruas com o olhar vazio e sem destino, as pessoas a olham de forma estranha, mas ela não se importa. Sua dor é tão grande que não consegue se concentrar em nada. Desiste do filme. Quando finalmente chega em casa, se fecha no quarto, tentando ignorar a dor que consome seu coração. E deseja que alguém veja, que alguém observe a sua dor.

Outros links: SITE | LINKEDIN | FACEBOOK | INSTAGRAM | MEDIUM |

--

--

Murillo Leal
aspequenascenasdavida

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br