38. desde quando você vive a sua vida?
essa mulher da foto é marta, minha anfitriã em roma. fui recebida como quem chega em casa. pão quentinho, café e conversa, como se nos conhecêssemos há anos. uma alegria só. saímos para um passeio noturno dia desses, bebemos vinho sentadas na mureta da fontana de trevi. pode colocar na sua lista dos meus pequenos atos a se orgulhar.
uma noite linda e um frio do caralho. depois de matarmos uma garrafa de vinho, meio emocionadas, aconteceu uma coisa. esses olhos imensos da marta se encheram de brilho e ela falou: finalmente eu ando vivendo a minha vida.
ainda agora tô matutando essa frase. desde quando eu vivo a minha vida? eu não sei. mas consigo sentir o sabor disso e é uma delícia, que nem o primeiro gole de cerveja gelada depois do trabalho num dia de verão.
ando sentindo saudades das mesas de lata na calçada, do calor, da minha mãe, de você, do copo americano e do espetinho de pão de alho. saudades do brasil.
cheguei ontem em paris. escrevo agora de um café. pedi cinco macarrons, um de cada sabor e estou arrependida. derrete na língua, mas não enche a boca. nada pior que gastar grana com comida sem graça. ainda mais em euros. saudades de uma bomba de creme daquelas com fatia de maçã por cima. aqui só tem docinho mixuruca. saudades de um bolo de laranja. ou de côco.
falando nisso, vem chegando o carnaval e eu chego junto com ele.
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Este texto faz parte da história “O mundo é pequeno para quem é piranha”. Clique aqui para ler o primeiro capítulo.
