O silêncio Nipônico

Lucio Caramori
Assistindo à guerra, de biquini
3 min readJun 12, 2018

Para quem vai ao Japão: aproveite o silêncio.

Domingo. Sete e meia da noite. Em um cruzamento do bairro de Shinjuku, Tóquio, uma pessoa espera para atravessar uma rua minúscula. Nenhum carro vindo do lado direito. Menos ainda do esquerdo. O pedestre olha pacientemente o sinal fechado para travessia. Silêncio, muito silêncio. O verde aparece e a vida segue. Em silêncio.

Sempre quando alguém pede dicas de viagens, as respostas são óbvias. Aquele restaurante em um cantinho que ninguém conhece, aquele parque ótimo para um piquenique, a lojinha cheia de badulaques curiosos. Antes de todas essas dicas, tem uma que eu quero dar e que é igualmente importante pra visitar o Japão: aproveite o silêncio.

Tóquio não parece ser a melhor escolha pra quem precisa descansar de uma cidade conturbada como São Paulo. Mas é. Se lá as luzes, as pessoas, as comidas são enlouquecedoras, o silêncio é ainda mais arrebatador. No metrô, no restaurante e, principalmente, nas ruas. Chega a ser estranho andar por lugares tão movimentados e, ao mesmo tempo, tão silenciosos. Os carros e ônibus parecem flutuar, as conversas entre os japoneses são contidas e num volume quase inaudível para ouvidos ocidentais. Dá pra descansar da nossa vida barulhenta com tanta paz sonora. Mesmo no meio do caos visual. E acho que isso também explica um pouco a fascinação japonesa pelos karaokês. Colocar pra fora os estresses e palavras engolidos durante o dia tem hora e local próprios: uma das dezenas de salas, em um dos muitos andares dos prédios dedicados só a arte da cantoria.

Pelo que percebi, esse silêncio todo é ainda uma forma de expressão. Um jeito simples e poderoso de demonstrar o respeito pelo outro. O respeito que o funcionário da loja tem pelo cliente. Que os mais novos tem pelos mais velhos. E, mais perceptível andando pelo país, o respeito que eles tem por quem nem conhecem. Nada que incomode o outro é aceitável. (Talvez só essa maluquice de poder fumar em restaurantes e bares. Mas essa é uma outra história.) E é desse respeito que nasce o silêncio. Um silêncio que só era quebrado pelo som de um “tapa na cara moral” que eu ouvia constantemente. A comparação com a nossa realidade é brutal e desmoralizante.

E o silêncio é só um dos detalhes encantadores do dia a dia japonês. A forma de segurar no copo ao ser servido — e você nunca serve seu próprio copo quando está acompanhado no bar -, a eterna reverência ao chegar nos lugares, o dinheiro sempre colocado na bandeijinha no balcão das lojas, as pessoas que nunca cruzam a rua com o sinal fechado — mesmo quando não há um carro à vista. Ir pro Japão sabendo — e entendendo — um pouco desses e outros costumes é um jeito de viajar dentro da viagem. Apesar disso valer pra qualquer país, eu senti muito mais no Japão. E observar essas coisas em silêncio vai fazer você se sentir um pouco japonês também.

Pra quem quiser ir pro Japão com uma visão mais profunda da cultura e dos costumes deles, eu recomendo muitíssimo o livro “Japan’s Cultural Code Words: 233 Key Terms That Explain the Attitudes and Behavior of the Japanese”. Tem na Amazon. E quem quiser um ótima professor de japonês e de costumes japoneses é só me perguntar o telefone.

Todas as fotos desse artigo foram tiradas por esse que vos escreve. :)

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