Capítulo 20 — O Construtor

Edson Rigonatti
Astella
Published in
4 min readJun 18, 2016
BuilderI

“Ser uma empresa de tecnologia é fundamentalmente diferente de ser uma empresa que usa tecnologia. As grandes empresas de hoje usam tecnologia para atender algumas centenas ou milhares de funcionários, já as grandes empresas do futuro são empresas que atendem digitalmente milhões ou bilhões de clientes. As grandes empresas de hoje usam tecnologia como centro de custo, já as grandes empresas do futuro são digitalmente centro de lucro. As grandes empresas de hoje usam pessoas e processos que estão migrando tecnologicamente, já as grandes empresas do futuro são feitas por pessoas e processos digitalmente nativos.”

A diferença entre ser e usar pode parecer tênue, ou apenas uma questão semântica, mas ela forma a essência de uma empresa “tech”: a proximidade umbilical entre as necessidades do cliente e o produto, desenvolvido em uma arquitetura harmônica e coesa.

Projeto vs. Puxadinho

É fácil perceber a diferença entre uma casa que foi arquitetada em uma planta, mesmo quando ela ainda esta em construção, e uma que cresce ao gosto e possibilidades do momento, também conhecida como puxadinho.

Uma casa, assim como um produto, não é construída a partir da ‘sabedoria da multidão’, mas sim pelas mãos de um especialista e sua visão do que deve ser construído. Ele é a fonte primária dos elementos (funcionalidades, sortimento) que irão compor a construção, e quem tem a melhor noção das matérias primas existentes e das práticas de gestão de construção.

Você moraria em uma casa construída por um arquiteto ou empreiteiro sem conhecimento das possibilidades de insumos como areia, brita, cimento, aço, ferro, chumbo, cobre, argila e alumínio? E se eles não soubessem como distribuir os cômodos, a fiação elétrica, a tubulação e aonde colocar portas? E se não tivessem conhecimento da melhor maneira de gerir a mão-de-obra e os subcontratados? Você se irrita quando tem que fazer uma reforma em casa e nada acontece do jeito, no prazo e no custo esperado?

Pois é assim a maioria dos departamentos de TI de grandes empresas e startups sem uma liderança tecnológica constroem suas casas.

Escalável vs. Rígido

No mundo da Internet, é esperado que um produto seja construído com imperfeições (o famoso technical debt) e melhorado ao longo do tempo, e em alguns casos, até reconstruído de tempos em tempos. Essas imperfeições nas camadas de interface do usuário e de regras de negócios são bastante gerenciáveis, mas erros nas camadas de banco de dados e de infraestrutura tendem a ser imperdoáveis.

Uma vez escolhido um terreno com sua metragem e o tipo de solo para se construir uma casa, os limites da escalabilidade do projeto estão praticamente definidos. A escolha dos elementos de cada uma dessas camadas demonstra o entendimento que o time tem de como acomodar 10, 100, 1000 vezes mais clientes ou usuários.

Embora seja impossível saber como a edificação vai ser daqui a alguns anos, a expectativa da modularidade e a consciência dos trade-offs sendo feitos, tantos tecnológicos quanto organizacionais, são as principais marcas dos times escaláveis.

Planta vs. “Chama o Zé”

Sabe quando você vai pregar um quadro na parede e fura o encanamento de água por quê você não tem a planta da sua casa? Ou vai fazer uma reforma e precisa achar a arquiteta por quê ela é a única que lembra por onde caminha a tubulação?

É claro que isso não acontece em empresas de tecnologia, já que mesmo quando elas terceirizam parte ou todo do UX, da programação, do banco de dados e da infra, elas tem a propriedade do código, o controle das versões e a gestão de qualidade na palma das mãos. Certo?

Contigência vs. Hmmmm

Essa é uma área que os departamentos de TI levam larga vantagem em relação às startups. Afinal um CIO sabe que se o presidente da empresa ligar perguntando por quê a Internet não esta funcionando, está na hora dele atualizar seu perfil no LinkedIn. Mas e os founders, tem um plano de Disaster Recovery? Um plano de Continuidade de Negócio? E se o Zé for embora

Músicos vs. Pedreiros

Como startups de tecnologia são organismos ágeis em um ambiente sempre em mudança, a ordem do dia é iterar de maneira mais rápida possível, tanto para achar o santo graal do product-market-fit, quanto para continuar evoluindo mais rápido que os predadores na esquina.

Isso só é possível com um time de construtores artistas, que participam da curiosidade intelectual de achar o caminho certo, e não simplesmente “codar” algo que já foi inúmeras vezes feito antes pela humanidade; em um ambiente com os processos e ferramentas a mãos, já que artistas gostam sempre de testar seu limite liderados por alguém que eles respeitem, e não um dunga qualquer.

Can we fix it?

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