O recomeço em CORES — O Coletivo de Refugiados Empreendedores. Crise Humanitária de Refugiados, parte 4:

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4 min readDec 7, 2017

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Conheça o projeto da Cáritas RJ que possibilita a gestão de negócios próprios de refugiados no país. Texto de Tatiana Borges, voluntária do Comunicadores, projeto do Atados.

Divulgação Cáritas.

Ter que recomeçar a vida em um novo país, muitas vezes sem falar a língua local, não é fácil. Mas, a Cáritas RJ tenta facilitar esse processo para centenas de refugiados que chegam no nosso país há mais de 40 anos. E, em 2017, um novo projeto possibilitou aprofundar o desenvolvimento de novos negócios e talentos e a inserção no mercado de trabalho formal. A primeira edição do projeto CORES (Coletivo de Refugiados Empreendedores) começou em maio e terminou em outubro com a proposta de preparar refugiados com perfil empreendedor a desenvolverem seus próprios negócios nas áreas de moda e gastronomia.

Divulgação Cáritas

O projeto é uma mistura de curso, mentoria e incubação. Na primeira turma, 20 refugiados passaram por três etapas. No primeiro momento, é realizado um trabalho de atendimento e integração. Depois, os refugiados são divididos em dois grupos de acordo com suas especializações. Costureiras tiveram uma capacitação específica em parceria com o Instituto Rio Moda e o pessoal da gastronomia aprendeu com o SEBRAE. Na terceira etapa, é realizada uma articulação de oportunidades e o desenvolvimento de marcas para que quem chega até o final do projeto seja inserido no mercado com segurança e estrutura para fazer um bom trabalho.

Nina Quiroga, idealizadora do projeto CORES, acredita que o saldo do projeto piloto foi bem positivo:

"Mais do que uma capacitação, criamos condição para o refugiado se estruturar no universo empreendedor. Temos um olhar não só para a profissão, mas também para a vida dessas pessoas. Conseguimos gerar uma rede de contatos e ajudamos a dar mais visibilidade para alguns trabalhos, que são os maiores desafios para qualquer empreendedor brasileiro."

A Jiulianne Gomes é uma das assistentes sociais que auxiliam no processo de recepção e integração dos refugiados. A primeira etapa de qualquer trabalho da Cáritas é o atendimento especial realizado em parceria com a Polícia Federal. Com a proposta de fazer essa chegada mais acolhedora, os voluntários conversam na mesma língua dos refugiados, providenciam a documentação necessária e orientam sobre recolocação profissional no país.

Aulas de português ministradas por voluntários. Fotos de divulgação Cáritas

Segundo a Cáritas RJ, de janeiro a setembro de 2017, 590 pessoas receberam orientação sobre as oportunidades do mercado de trabalho e 155 foram registradas em serviços de colocação em emprego (CPTE). Além disso, 267 refugiados foram encaminhados para empresas parceiras. A partir de palestras e ações específicas, a Cáritas RJ conseguiu sensibilizar 37 empresas para contratarem refugiados.

O maior desafio é mostrar que ninguém está fazendo um favor ou uma boa ação. Ao contrário, os refugiados chegam com múltiplos talentos e podem fazer a diferença na função que desempenham.

Ainda assim, algumas pessoas entram em contato com a Cáritas RJ oferecendo vagas com remunerações abaixo do valor de mercado para refugiados como “oportunidades”:

- Em tempo de crise, o subemprego fica mais forte. Quando acontece casos assim, não repassamos as vagas. Temos refugiados de diferentes áreas e escolaridades. Ajudamos a fazer um bom currículo e encaminhamos para processos seletivos específicos, quando as empresas entram em contato. Essas empresas fazem o processo seletivo e contratam. — explica Jiulianne.

Apoiado pelo ACNUR desde o primeiro momento, o Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio da Cáritas RJ hoje conta com a parceria de diversas entidades, organizações, empresas, universidades, órgãos públicos, ONGs e coletivos, atendendo refugiados de mais de 60 nacionalidades.

Toda essa história começou em 1976, quando a Arquidiocese do Rio de Janeiro iniciou um trabalho pioneiro de assistência a refugiados que chegavam à cidade. Eles vinham de países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai, fugindo da perseguição política exercida pelos regimes militares da época. Como o Brasil também estava sob governo militar, o Rio de Janeiro servia apenas como rota para que os refugiados chegassem à Europa.

​O então arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales, decidiu instalar um serviço permanente de ajuda a refugiados, oferecendo abrigo e, com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), buscando encontrar um terceiro país que pudesse protegê-los. O cardeal designou a Cáritas RJ para assumir essa tarefa em nome da Arquidiocese, dando origem ao primeiro trabalho sistematizado de atendimento a refugiados no Brasil.

Saiba mais sobre o PARES (Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgios) Cáritas RJ em: http://www.caritas-rj.org.br/

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