Por que defendemos o profissional full stack?

Leandro Johann
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3 min readMay 20, 2016

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O ofício de artesão remonta à época medieval — quando ele costumava ser o responsável por produzir coisas (em pequena ou grande escala), usando habilidades manuais ou ferramentas especiais (ou, ainda, as duas) e aplicando conhecimentos específicos para aquele trabalho. Por ser uma classe essencial no medievo (poder comprar da China era um sonho distante), os artesãos costumavam se reunir em corporações de ofício, que estabeleciam regras para as profissões, o que era meio "desconfortável" porque engessava a mobilidade nas carreiras. Bem, falar de desconforto na Idade Média é quase redundante…

Por sorte, não estamos mais na idade das trevas. Principalmente sobre a ciência e a tecnologia já se fez a luz e as coisas correm muito bem. Só que, agora, sobrou muito pouco desse modo de produção medieval. Tudo foi tão fragmentado que, hoje, é muito difícil que uma pessoa domine completamente a produção de alguma coisa (aquela coisa de saber-fazer-um-sapato-inteiro). E agora: será que os artesãos e as corporações de ofício estão mortos para sempre?

O maço e o cinzel, do artesão da Idade Média.

Esperamos (e com veemência) que não. Num tempo de tanta fragmentação, compreender um processo completamente — e, mais do que isso, dominá-lo — está muito além de um “diferencial” qualquer para as empresas. É um compromisso (talvez o maior) com a qualidade do produto e a integridade de uma companhia. E, se falarmos da área de TI, que caminha (a passos largos) em franco desenvolvimento, essa abordagem mais artesanal do processo é a garantia de softwares funcionais de verdade.

Se nos perguntarmos, afinal, o que é que caracteriza o trabalho de um artesão, a resposta mais completa provavelmente estará na relação entre a mão e o olho, da qual fala Doug Bradbury com bastante propriedade. Ocorre que, quando um artesão produz determinada peça, a conexão que há entre olhos e mãos leva a uma sucessão de análises e ajustes. Tomemos como exemplo um marceneiro: ao cortar dois pedaços de madeira, encaixá-los e observá-los criteriosamente, pode determinar se as peças estão devidamente alinhadas ou se é preciso cortar e ajustar alguma parte — o que ele faz, então, com as mãos. Esse ciclo de observação e ajuste é precisamente o que deve acontecer no desenvolvimento de software, e é muito mais fácil, simples, fazer isso a partir de um processo artesanal.

O processo artesanal (como não poderia deixar de ser) requer artesãos. E uma das melhores partes de ressignificar um modo de produção medieval no moderninho século XXI é que as guildas não precisam mais engessar ninguém no cargo de aprendiz — ou de mestre — para sempre. À medida que as companhias conseguem ficar cada vez mais horizontais, é possível a todas as pessoas do time dominarem o processo completo de trabalho. E, se a mesma pessoa que fala de negócios com os clientes é a que analisa e desenvolve o software, as coisas caminham de maneira mais sensata. Nem deveríamos precisar falar de quanto o desenvolvimento de projetos é otimizado e de quanto os produtos desse processo tornam-se ideais para as necessidades a que atendem: mas é esse, absolutamente, o resultado de uma orientação mais artesanal para o desenvolvimento de software.

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Leandro Johann
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I'm a passionate programmer. I like to learn a little every day and I'm focused on creating software solutions for real people.