Meu primeiro MVP

Quando falamos de mínimo viável de produto (ou MVP, do inglês Minimum Viable Product), é comum nos lembrarmos de histórias de startups que começaram com um produto simples (por vezes criado por jovens empreendedores) e que se tornaram empresas bilionárias. No entanto, desenvolver algo do tipo envolve primeiro uma mudança de pensamento.

André Bergamim
ateliware
9 min readFeb 2, 2022

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Se você acompanha a evolução do mercado de produtos digitais, seja um empreendedor de sucesso ou alguém que está começando o seu negócio, certamente já se deparou com MVP, mesmo nunca tendo construído um. Afinal, este vem sendo um tema recorrente relacionado à inovação, desde a aplicada a pequenas empresas até a grandes corporações.

Mas você sabe por que ele é tão utilizado por negócios que querem inovar? Ao longo deste texto vamos te dar alguns exemplos do porquê ser tão importante começar pelo mínimo.

Construir, medir e aprender

“Um mínimo viável de produto (MVP) ajuda os empreendedores a começarem o processo de aprendizagem o mais rápido possível.”

Eric Ries, “A Startup Enxuta”

Eric Ries, criador do movimento Lean Startup e autor do livro de mesmo nome, propõe aos empreendedores um novo modo de pensar e de criar produtos e serviços. Um modelo baseado em um ciclo de feedbacks de tiro-curto, diferente do modelo tradicional de desenvolvimento de produto, que costuma ser mais longo e ponderado, visando quase sempre à perfeição antes do lançamento no mercado.

No entanto, isso não quer dizer que um MVP é o menor produto imaginável. Trata-se da maneira mais rápida de percorrer o ciclo construir-medir-aprender com o menor esforço possível. O objetivo do MVP é dar o primeiro passo no processo de aprendizagem, e é com ele que você vai testar suas hipóteses, coletar feedbacks e fazer ajustes necessários ou, até mesmo, pivotar o negócio.

Princípios-base para criar um MVP

Um bom MVP deve ser construído com base em algumas características fundamentais. Então, durante o seu processo de descoberta de produto, procure responder essas três perguntas:

  • Ele tem valor suficiente para que as pessoas estejam dispostas a usá-lo ou comprá-lo inicialmente?
  • Ele demonstra benefícios futuros suficientes para reter os primeiros usuários?
  • Ele fornece um ciclo de feedback para orientar o desenvolvimento futuro?

Se você consegue responder essas perguntas enquanto pensa no que deseja para seu produto, você está pronto para dar os próximos passos na busca por mais respostas. Isso mesmo, essas perguntas são apenas a base para você continuar o ciclo de aprendizagem.

Como definir o mínimo viável de um produto?

Talvez você já saiba, mas nem todos conseguem chegar a essa resposta de forma rápida — e, claro, cada cenário vai exigir uma análise específica. Entretanto, de um modo geral, uma boa forma de começar essa análise é usando algumas analogias, como a do foguete e do avião de papel. Dá só uma olhada!

No exemplo acima, vemos uma simples representação da evolução de um produto. Agora, faça um rápido exercício:

  • pense em quanto tempo você demoraria para construir um foguete do zero;
  • tente imaginar quanto investimento seria necessário; e, por fim
  • quanto esforço dedicaria para chegar ao resultado.

Pensou? Pois bem, imagino que a resposta seja algo como “acho que só a NASA consegue montar um foguete — ou a Space X”. Esse é um exemplo lúdico e bem fora da nossa realidade, mas o foco do exercício não está no foguete em si, e sim na forma de pensar, que pode ser aplicada a qualquer outro projeto de desenvolvimento de produto.

O exemplo acima nos mostra um modelo baseado em fases de projeto, ou seja, em construir parte por parte até chegar ao todo. Entretanto, veja que, se você seguir esse modelo, não terá como colocar o produto “nas ruas” antes que ele fique pronto por completo. Com isso, você também não terá como saber se está trabalhando em algo que as pessoas realmente querem ou de que precisam. Ou seja, ao final do projeto, quando você lançar o produto definitivamente, poderá ser tarde demais — e os recursos investidos durante todo o processo jamais voltarão.

Mas, então, o que seria o mínimo viável para começar?

Seguindo com a analogia do foguete, podemos pensar que o mínimo, neste caso, não seria construir um foguete mais simples, e sim começar com um produto mais enxuto, mas que seja capaz de entregar a mesma proposta de valor.

Veja na imagem acima que não temos mais um foguete dividido em partes, mas uma evolução de produtos com a mesma proposta de valor, que neste caso é levantar voo. Assim, o MVP ou o mínimo produto viável começa com um mero avião de papel. Isso porque o que queremos aqui não é entregar a solução completa, mas sim testar uma hipótese de negócio. Depois da hipótese testada e da coleta de feedbacks, aí sim você poderá partir para uma evolução do produto.

Da teoria à prática

“Como sociedade, dispomos de um conjunto comprovado de técnicas para administrar grandes empresas e conhecemos as melhores práticas para construir produtos físicos. No entanto, quando se trata de startups e inovação, ainda estamos atirando no escuro. Ficamos nos valendo de visões, caçando os “grandes homens” capazes de fazer a mágica acontecer, ou ficamos tentando analisar nossos novos produtos até não poder mais. Esses são novos problemas, nascidos do sucesso da administração no século XX.”

Eric Ries, “A Startup Enxuta”

Chegar a uma definição clara do que é um MVP de um produto digital não é uma tarefa das mais fáceis. É muito comum cairmos em contradição durante o processo, pensando que estamos trabalhando apenas com o essencial para testar nossas hipóteses quando, na verdade, o escopo do produto está repleto de funcionalidades que não conseguimos deixar de lado.

Porém, existem algumas técnicas que nos ajudam a definir o que pode compor um produto digital de acordo com os objetivos de negócio. Uma das que usamos aqui na ateliware é baseada em uma variação do MVP, ou seja, em alguns conceitos complementares que apresentam algumas propostas de valor diferentes, como o MMP e o MLP, que também são produtos mínimos, mas que possuem o foco voltado para resultados diferentes. Na tabela abaixo temos delimitadas as abordagens de cada estilo de priorização, que são:

A prática mais comum de priorização é a da utilização de um dos três modelos de produtos mínimos dependendo do grau de maturidade do produto, o que é bastante válido, mas aqui na ateliware também aplicamos essa mentalidade quando é necessário priorizar um produto ideal, sendo possível propor um versionamento do próprio MVP utilizando o MMP e o MLP como evoluções de um produto que precisa passar por todas as fases de consolidação, desde a validação da ideia que o originou, passando pela geração de valores que o impulsionam como algo vendável até a, finalmente, cativação do usuário por meio da experiência e usabilidade. Desse modo, fica mais visível a divisão necessária entre as funcionalidades levantadas e as chances de que tudo acabe sendo priorizado de uma só vez são reduzidas. Vamos a um exemplo prático de priorização guiada por essa lógica.

MVP — Mínimo Viável de Produto

Como exemplo dessa proposta de priorização das funcionalidades do produto com base nos MVPs, MMPs e MLPs temos abaixo, inicialmente, um MVP com o propósito de validar a ideia de automatizar a venda de tickets de lavagem de carros, ação que teoricamente ocorreria de maneira física nas unidades de um lava car.

Durante uma fase de descobertas, seriam levantadas diversas possibilidades e tecnologias que poderiam ser ofertadas aos usuários. Entretanto, como forma de validar a ideia central (core business) e entregar um mínimo viável de produto, desenharíamos um fluxo simples de venda por aplicativo no qual o usuário poderia:

  1. Selecionar três opções pré-programadas de lavagem;
  2. Realizar pagamento com um cartão de crédito e receber ao final um código;
  3. Apresentar o código ao consultor de lavagem em uma das unidades do lava car.

Além de já substituir todo um processo físico e manual de vendas, o MVP neste caso ajuda a fornecer dados e feedbacks suficientes de seus primeiros usuários para, assim, validar se estariam realmente interessados em se engajar nesta forma de aquisição de tickets e quais melhorias poderiam ser úteis para aumentar o engajamento com o Mínimo Viável de Produto no mercado e mantê-lo por um longo período.

MMP — Produto Mínimo Vendável

Após validada a venda dos tickets, o próximo passo seria aplicar os conceitos de um MMP no aplicativo do lava car. O objetivo aqui é fazer com que o produto se destaque dentre centenas ou milhares de aplicativos que já estão no mercado. É preciso ter uma ideia que possa quebrar o gelo para as pessoas, estar atento ao que o aplicativo tem para oferecer e ao que os usuários podem encontrar de motivo para se engajarem com ele cada vez mais e a longo prazo. O Produto Mínimo Vendável deve atender às necessidades imediatas dos usuários-alvo.

Desse modo, no exemplo abaixo pode-se ver a evolução do produto de um MVP para um MMP, com a venda direcionada aos gostos e históricos de compra do cliente:

  1. Oferecendo uma venda de tickets personalizada;
  2. A forma de pagamento abrangendo necessidades mais específicas e imediatas, como compra em quantidades com preços atrativos e sistema de armazenamento de cartões de crédito para evitar retrabalho;
  3. Por fim, em vez de apresentar um código para um funcionário, o aplicativo oferece um QR Code que dá liberdade de o usuário realizar seu autoatendimento em uma unidade, reduzindo pontos de contato e tempo de fila.

MLP — Produto Mínimo Amável

Quando chegamos ao nível de um Produto Mínimo Amável, temos como ponto de partida uma ideia consolidada e um mercado já desenvolvido com uma boa amostragem de usuários ativos no produto. Portanto, a atenção agora volta-se para tornar o produto amado e conquistar o usuário em um nível emocional, com alto foco na experiência e usabilidade.

Desse modo, podemos ver abaixo a evolução de um MMP para MLP pelo foco na experiência do usuário, usabilidade e interface cativante, presentes em:

  1. Liberdade de escolha de um pacote de lavagem personalizado e com preços atrativos que pode ser construído rapidamente por meio de uma navegação simplificada que mantém o usuário informado de suas decisões;
  2. Opções de pagamentos variadas, com inserção de uma carteira de digital que agiliza o processo de compra;
  3. Interface amigável e ilustrada e oferecimento de um nível extra de automatização, trocando o uso de tickets pelo reconhecimento automático da placa de um veículo.

Visão estratégica

Como dissemos lá no início do texto, a inovação a partir de um novo produto não começa com o produto em si, mas com a mudança do modo de pensar. Além disso, a abordagem da startup enxuta pode funcionar em empresas de todos os portes e de praticamente todos os setores. Afinal, essa linha de pensamento nada mais é do que uma evolução do sistema de produção de manufatura enxuto criado décadas atrás pela Toyota, no Japão.

Por fim, se todo esse papo de inovação despertou novas ideias em você, lembre-se de que, antes de sair criando produtos, é preciso trabalhar também nas estratégias e nos objetivos de negócio. Claro, não se esqueça de observar seus clientes ou usuários, pois eles certamente fornecerão muito mais embasamento para projetos inéditos.

Referências:

Livros:

  • “Lean Startup” — Eric Ries
  • “Startup Manual do Empreendedor” — Steve Blank e Bob Dorf

Artigos:

Originally published at https://ateliware.com.

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