Tire seu produto digital do papel e embarque na Transformação Digital

Andreza Vieira de Morais
ateliware
Published in
8 min readFeb 2, 2022

Você já teve um daqueles momentos eureka enquanto tomava um banho e de repente teve uma ideia revolucionária? E até pensou “como é que ninguém fez isso ainda?” Só que depois não sabia nem por onde começar?

Olha, eu nem te conheço, mas tenho certeza de que a resposta para essa pergunta é sim. E sabe por quê? Porque, todos os dias, todos nós temos milhares de ideias incríveis, mas que na maioria das vezes acabam indo pelo ralo junto com a água do chuveiro.

Hmmm, mas e o que isso tem a ver com a criação de um produto, ainda mais um produto digital? Ora, tudo! E eu posso te mostrar como. Ainda assim, já te adianto que os próximos parágrafos não vão te levar a nenhuma fórmula do sucesso — até porque também não conheço nenhuma.

Tive uma ideia! E agora?

Existem diversas maneiras de tirar uma ideia da nossa cabeça e colocar no papel, e é muito difícil dizer quais são as melhores. Afinal, cada uma pode te levar a um caminho diferente.

Aqui, na ateliware, quando o assunto é criação de produto, a gente costuma seguir alguns métodos, que podem variar de um projeto para outro, mas que, no final do dia, acabam seguindo a mesma linha de raciocínio.

Para mostrar de um jeito bem prático como nós facilitamos esse processo de “tirar as ideias da cabeça e colocar no papel”, vamos usar como exemplo um caso de um cliente real que veio até nós com um problema de negócio e que também não sabia muito bem por onde começar.

Então, para tentar resolver esse problema, nós iniciamos uma jornada de descoberta de produto. Normalmente, nesse processo a gente costuma trabalhar em conjunto com o cliente por meio de sessões de cocriação, pesquisa com usuários, mapeamento de experiência e escopo de projeto. Vamos aos passos!

Passo 1: Comece pela visão de negócio

Antes de falar sobre soluções ou funcionalidades, é essencial compreender como este produto se encaixa na visão estratégica da empresa.

Com esse cliente, por exemplo, tudo começou com alguns workshops de cocriação que fizemos junto com os stakeholders para trabalharmos os objetivos de negócio e os obstáculos que estavam impedindo a empresa de alcançá-los.

Para isso, escolhemos uma matriz de Impactos esperados x Captura de problemas.

“Sailboard Canvas” — AJ & Smart

  • Captura de problemas: nessa etapa, o foco era extrair os problemas que a empresa enfrentava no seu dia a dia, assim como os problemas com que seus clientes precisavam lidar ao utilizar o serviço ofertado por ela, tudo isso a partir do ponto de vista dela — assim como extrair outras necessidades que faziam parte daquele mercado. No final, como os obstáculos poderiam afetar negativamente o negócio como um todo.
  • Impactos esperados: depois de se aprofundar nos problemas, hora de explorar as oportunidades. Esse foi o momento em que o pessoal soltou a imaginação e começou a tirar aquelas ideias que estavam na cabeça. Com uma boa base de entendimento dos problemas, ficou muito mais fácil conectar os pontos e gerar insights que poderiam não só “resolvê-los” como também inovar o próprio negócio.
  • E fica aquela diquinha básica para o exercício fluir ainda mais: uma forma de deixar o processo mais criativo e gerar um volume muito maior de ideias é chamar pessoas de áreas diferentes da empresa para participar. Até porque, se você já ouviu aquela frase que diz que “duas cabeças pensam melhor do que uma”, sabe o quanto isso ajuda no processo criativo.

Obs.: Essa atividade foi utilizada para um cliente que já tinha um negócio em andamento, por isso foi fundamental contar com a participação de pessoas que trabalhavam em diferentes áreas da empresa. Agora, se você pretende criar um produto do zero, esse exercício também pode te ajudar, mas talvez seja melhor utilizar uma ferramenta diferente. Talvez um Business Model Canvas seja o melhor caminho.

Passo 2: Um olhar de dentro para fora

Depois de passar pela camada mais estratégica, precisamos nos aprofundar nos processos da empresa. Esta etapa é fundamental para entender como funcionam no seu dia a dia e como a empresa se organiza internamente.

Além disso, é nesse momento que a gente começa a analisar como um novo produto vai se encaixar na estrutura atual ou se será necessária uma mudança organizacional diante de uma inovação a ser aplicada no serviço.

“Stakeholders Map” (adaptação) — Ming Labs

Obs.: Assim como na atividade anterior, o fato de estarmos trabalhando com um cliente que já tinha um negócio em andamento ajudou muito na hora de fazer esse aprofundamento com as áreas internas da empresa. No entanto, se o seu negócio ainda não está em funcionamento ou ele ainda não conta com uma estrutura tão segmentada, você também pode fazer uma análise do seu concorrente. Obviamente, não terá a mesma abertura para conhecer os processos, mas pode tentar analisar como os clientes dessa empresa estão avaliando o serviço que ela oferece.

Passo 3: Identificando as necessidades dos usuários

Existem várias técnicas para identificar as necessidades ou dores dos usuários. Você pode optar por desde uma pesquisa em profundidade até por um simples formulário enviado pelo WhatsApp. Tudo vai depender do cenário em que você se encontra, e alguns fatores serão cruciais para o desenrolar dessa etapa, como: tempo, expectativa, disponibilidade e investimento.

Como diria minha mãe: “Cada caso é um caso”! No caso desse cliente que estamos usando de exemplo, o contexto em que ele estava foi bem favorável.

  • Tempo: ele não estava com pressa para analisar os resultados da pesquisa e estava disposto a aguardar o andamento do processo. Isso nos deu tempo para elaborar algumas hipóteses e estruturar um questionário que aplicamos em forma de entrevista com cerca de 10 usuários.
  • Expectativa: o que ele queria era validar se as hipóteses que ele sempre teve estavam condizentes com a realidade dos clientes. É natural que mesmo antes de iniciar um processo de pesquisa você já tenha em mente várias suposições, e é justamente durante a pesquisa que você vai poder validá-las ou invalidá-las.
  • Disponibilidade: como ele tinha um relacionamento muito próximo com seus clientes, foi bem mais tranquilo agendar as entrevistas. Mas é claro que isso nem sempre é tão simples. Às vezes, os seus clientes não terão tempo ou não vão demonstrar muito interesse em participar. Nesses casos, uma forma de conseguir participantes para a sua pesquisa é contratando uma empresa de recrutamento. Assim, ela vai buscar pessoas que se enquadram no perfil desejado, oferecendo um valor de participação.

De qualquer forma, essa é uma tarefa que deve ser feita constantemente. Quanto mais você souber sobre seus usuários ou clientes, mais assertivo será o seu produto/serviço. Então, não se limite aos meios de pesquisa. Se não for possível começar com uma pesquisa estruturada, comece pelo básico. Avaliações em plataformas de reclamação ou em lojas virtuais dos concorrentes e até mesmo divulgação de um formulário nas redes sociais podem ser um bom começo.

Passo 4: Definindo o que o meu produto pode ser

Ah, enfim o produto! Eu sei que você estava ansioso por essa parte, e eu também. Se você chegou até aqui, mesmo fazendo aquela leitura dinâmica que todo mundo faz, já percebeu que criar um produto requer muito esforço.

Depois de passar por todas essas etapas, podemos dizer que aquela ideia inicial que a gente não sabia muito bem como transformar em um produto começa a ganhar forma. É nesse momento que você precisa definir os rumos desse possível produto, indicar para onde ele vai e para onde ele não deve ir.

  • O que o produto é / o que ele não é: uma das coisas que você pode fazer para começar a definir um produto é listar tudo aquilo que faz parte do conceito inicial e tudo aquilo que não fará. Esse é o momento de deixar claro como você quer que as pessoas percebam o seu produto e o que você não quer que elas pensem sobre ele. Por exemplo: “Ele é um aplicativo que ajuda as pessoas a comparar preços de produtos de lojas internacionais” e “ele não é um aplicativo de compras e ele não permite que o usuário compre um produto diretamente pelo app.”
  • Product canvas: agora que você já definiu o que o produto é, pelo menos para uma versão inicial, a sequência desse caminho pode ser ir em direção ao escopo do produto. Para isso, também existem diversas ferramentas que podem te ajudar a chegar nessa definição, e uma delas é o Product Canvas. Com ele, você poderá estruturar a proposta de valor atrelada aos aspectos funcionais.

“Product Canvas” (adaptação) — Roman Pichler

Passo 5: Escopo e priorização de projeto!

Durante todo esse percurso de descoberta, várias ideias foram validadas, outras foram descartadas e todo aquele levantamento de informação começa a moldar o que futuramente será desenvolvido como um produto digital.

Para seguir adiante nesse processo, duas coisas são fundamentais: mapear os requisitos do produto e priorizar as fases de desenvolvimento.

  • Mapeamento de requisitos: esta etapa precisa ser o mais detalhada possível, pois, quanto mais específico for este mapeamento, melhor será a projeção de desenvolvimento do produto. De modo geral, um bom levantamento de requisitos deverá conter itens como: funcionalidades do produto, regras de negócio e requisitos técnicos (como infraestrutura de front e backend), assim como uma visualização completa dos caminhos que o usuário fará dentro do produto.
  • Priorização: após a coleta de requisitos, você terá um escopo mais completo do produto como um todo. Entretanto, para que o projeto de desenvolvimento seja mais ágil e eficaz, é fundamental priorizar o que é essencial para uma primeira versão do produto.

Um dos métodos que nós costumamos utilizar aqui é o MoSCow (Must-haves; Should-haves; Could-haves; Will not have at this time). Ele é basicamente um framework de priorização que te ajudará a elencar o que é realmente essencial dentro do seu roadmap inicial de produto.

Assim como nos exemplos anteriores, nós adaptamos um pouco o framework de acordo com o perfil e a necessidade do cliente, mas o conceito ainda era o mesmo do original.

“MoSCoW” (adaptação) — Dai Clegg e Richard Barker

Os primeiros passos foram dados, e agora?

Ao longo deste texto, alguns exemplos foram dados para que você pudesse tirar uma ideia da cabeça, colocá-la no papel e a tangibilizar em forma de um produto final.

Mas, e agora, o que eu faço com tudo isso?

Bem, o próximo passo é seguir em frente e colocar em prática o que você descobriu. A partir daqui começa uma nova jornada, a de desenvolvimento — que claro, vai ser assunto para outro post.

Como dito lá no começo do texto, essa não é nenhuma fórmula mágica, e o sucesso desta jornada vai depender de muitos fatores, dentre eles o quanto você sabe aonde quer chegar ou quais resultados quer obter no final.

“Se você não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve” — Lewis Carroll.

Originally published at https://ateliware.com.

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Andreza Vieira de Morais
ateliware

Facilito decisões de negócio para a criação de produtos e serviços centrados nas necessidades dos usuários.