Centro-Oeste é a região com menor concentração de deserto de notícia

Angela Werdemberg
Atlas da Noticia
Published in
5 min readFeb 9, 2021

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  • Atlas da Notícia identifica redução de deserto de notícia em 9% no CO
  • Foram cadastrados 286 novos veículos, totalizando 1.898 mapeados
  • Ao todo, são 34,5% de municípios sem cobertura jornalística local
  • Rádio permanece como o segmento mais representativo, com 700 empresas mapeadas
  • A maior quantidade de empresas encerradas foi no impresso, com 15 fechamentos

A quarta edição do Atlas da Notícia teve como objetivo, no Centro-Oeste, checar a base de dados, gerada nas edições anteriores, para verificar se as empresas mapeadas seguem em funcionamento e, também, com a intenção de aumentar o conhecimento sobre esses veículos, como por exemplo, cadastrar nos formulários e-mail, telefone, redes sociais, modelo de negócios e a quantidade de funcionários de cada uma das empresas. Além do trabalho de checagem da base de dados, os voluntários cadastraram 286 novos veículos, totalizando 1.898 empresas jornalísticas identificadas na região Centro-Oeste.

O mapeamento de rádios e iniciativas digitais no Centro-Oeste contribuiu para a diminuição de desertos de notícias em 9%, comparado com a edição anterior do Atlas da Notícia, e a região mantém-se com a menor concentração de desertos noticiosos. São, ao todo, 700 rádios, 608 on-line, 378 impressos e 212 televisões. Mesmo com a redução dos desertos de notícias, ainda é considerável o número de cidades sem cobertura jornalística local, que totaliza 161 municípios (34,5%), concentrados principalmente no estado de Goiás.

Neste levantamento, foi possível constatar a presença de empresas jornalísticas que divulgam as notícias em redes sociais, principalmente Facebook, e que utilizam o WhatsApp como principal meio de contato para recebimento de sugestões de pauta. Importante observar que as redes sociais sempre foram exploradas por empresas jornalísticas localizadas, principalmente, em grandes centros e em regiões com disponibilidade de acesso à internet para a população. O Campo Grande News, site de notícias com sede em Campo Grande (MS), é um desses casos e tem mais de 500 mil seguidores no Facebook e utiliza o WhatsApp desde 2014 como ferramenta de interatividade. Contudo, neste mapeamento, foram encontradas pequenas empresas jornalísticas que utilizam grupos de WhatsApp para divulgação de notícias locais e que conseguiram identificar nesta ferramenta uma oportunidade para monetizar.

Empreender na internet segue abrindo novos modelos de negócios que possibilitam a cobertura jornalística local. As empresas Power Mix, Agitos Mutum e Poconet são alguns dos veículos identificados que têm grupos no WhatsApp com estas finalidades. O portal de notícias Power Mix, fundado em 2013 e localizado no município de Nova Mutum (MT), tem 14 grupos de WhatsApp com moradores da região que solicitaram serem inseridos espontaneamente. “Divulgamos no site o nosso contato e é por meio dele que os leitores pedem para serem inseridos nos grupos. Apenas o administrador, que no caso sou eu, pode postar notícias e publicidade”, explica Djeferson Volnei Kronbauer, jornalista e proprietário do Power Mix.

Além de sites de notícia, nesta edição do Atlas da Notícia foram incluídas iniciativas nativas de redes sociais e blogs individuais de notícias, considerados veículos não tradicionais, mas que ajudam a informar com baixo custo. No Centro-Oeste foram mapeados 87 blogs, correspondente a 30% dos novos dados mapeados nesta edição.

Na contramão

O Atlas da Notícia registrou o fechamento de 272 jornais impressos no Brasil, sendo 15 no Centro-Oeste. Na contramão desta estatística está o Jornal Tendência do Estado, que após três anos de paralisação, voltará a circular na versão impressa a partir de fevereiro de 2021.

Fundado em 12 de maio de 1994 e sediado na cidade de Costa Rica (MS), o Jornal Tendência do Estado voltará a circular, principalmente, na região norte do estado de Mato Grosso do Sul, com tiragem de cinco mil exemplares quinzenalmente. O jornal será impresso na cidade de Fernandópolis, interior de São Paulo, e despachado para a sede do jornal, distante 410 km. O jornal terá como principal fonte monetária a venda de assinaturas e anúncios para empresas privadas e públicas. “Em diversas localidades, principalmente no município de Figueirão (MS), o sinal de internet é instável. Além disso, há pessoas que não adquiriram o hábito de consumir notícias pelo celular e, também, uma parcela considerável de indivíduos que não têm condições financeiras de assinar pacote de dados. Então, aqui na região ainda há público para o jornal impresso e por esse motivo iremos retomar com a publicação de notícia em papel”, diz João de Oliveira, proprietário do jornal.

Contraste entre municípios do Centro-Oeste

A região Centro-Oeste apresenta contrastes e Mato Grosso é destaque nesta quarta edição do Atlas da Notícias por ser o estado com a maior quantidade de veículos por habitante entre os estados brasileiros. São 24,73 empresas jornalísticas para cada 100 mil habitantes. Entretanto, mesmo liderando o ranking nacional, Mato Grosso tem 31,9% de municípios considerados desertos de notícias. Há uma forte concentração das empresas nos principais centros, entre eles, a capital — Cuiabá.

Já Mato Grosso do Sul foi o estado da região que apresentou uma melhor distribuição das empresas noticiosas, tanto que está em segundo lugar no ranking nacional dos estados com menor quantidade de desertos de notícias (11,4%), atrás apenas do Rio de Janeiro (9,8%).

Brasília permanece como a segunda cidade com a maior concentração de veículos jornalísticos (2,4%), atrás de São Paulo (7,3%). No Distrito Federal foi predominante a quantidade de veículos jornalísticos na internet (140), seguidos de jornal impresso (78), rádios (41) e televisões (23).

Em contraste com Brasília está o estado de Goiás que, desde a segunda edição do Atlas da Notícia, tem a menor quantidade de veículos por habitante da região Centro-Oeste. A pouca distância entre os municípios goianos e a capital federal evidencia o contraste. No centro do poder, cobertura massiva e, em municípios próximos, a ausência de mediação jornalística focada em pequenas comunidades.

Angela Werdemberg é jornalista e coordenadora do Atlas da Notícia na região Centro-Oeste. Professora dos cursos de jornalismo, multimídia e publicidade e propaganda da Uniderp. Mestre em Comunicação e doutoranda em Ciência da Informação — Jornalismo e Estudos Midiáticos pela Universidade Fernando Pessoa, em Portugal.

Colaboradores

O Atlas da Notícia está na quarta edição e sempre teve a colaboração de voluntários para construir uma base de dados aberta e representativa do jornalismo brasileiro. Essas informações são utilizadas para subsidiar estudos, novas pesquisas e análises. O objetivo é contribuir com iniciativas, ideias e soluções que busquem fomentar o jornalismo, especialmente no nível local.

Colaboraram na quarta edição do Atlas da Notícia os seguintes voluntários:

Ângela Teixeira de Moraes

Angelita Pereira de Lima

Bianca França dos santos

Bruna Cardoso Soares da Silva

Fernanda Tauana de Oliveira

Giordano de Arruda Tomaselli

Hanelise Da Silva Brito

Janaína Martha da Silva Arruda

Jeferson Balbuena Nascimento

Karollyne Cassia Duarte Pereira

Letícia de Lucena Vaz

Luãn José Vaz Chagas

Lucas Alves

Luyara Rufino Ajiki

Marcos Vinícios Fagundes Salesse

Maria Eduarda Ricardino Rachel Simplicio

Maryana Souza Borges

Nayara Silva Chagas

Nealla Machado

Rogério Antônio de Lima Júnior

Taissa Gracik Tomé

Tamires Coelho

Thays Luz Amorim

Thiago de Almeida Novaes

Vinicius Guedes Pereira de Souza

E com o apoio das seguintes instituições:

Uniderp-Anhanguera

Universidade Federal de Goiás (UFG)

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

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Angela Werdemberg
Atlas da Noticia

Jornalista, mestra em comunicação e doutoranda em ciência da informação. Professora universitária e coordenadora do Atlas da Notícia na região centro-oeste.