DIREITOS HUMANOS para “humanos direitos”

Logica cruel que dá para uns o que é de todos.

Igor Saraiva
2 min readFeb 19, 2014

Direitos humanos para humanos direitos. Lógica cruel que dá para uns o que é de todos. Humano como outorga, juízo de valor. Direito como recompensa, commoditie, negócio. Para ter, humano não basta ser, tem que ser do jeito que só-pode-ser; não basta nascer, tem que nascer valendo ou fazer valer. Mas valer o que? Valer o que está valendo pra quem “vale”; pra quem já é, pode ser, dizer e fazer o “humano direito”. Quem não “vale”, nada é senão desumano: ameaça que “nasce pronta”, que escandaliza, desequilibra, incomoda.

Direitos humanos para humanos direitos. Trocadilho bonitinho e digestivo, que esconde um raciocínio frágil e linear, que pensa a vida pronta, projetada, sinalizada, seu próprio lar. Pensamento ilhado que não vê o mar; de quem, confortável onde está, nada quer mudar, só calar.

Direitos humanos para humanos direitos. Slogan de uma sociedade alienada, que sem tempo para si, constrói muros para abafar o próprio grito de dor; trata o diferente como doença, o sintoma como causa, e ambos como sujeira que paira sobre sua “humanidade direita”, ofuscando-lhe o “brilho” intocável; transforma o que ignora de si em ameaça vinda de fora, sem história, naturalizada, combatida com “máquinas” cada vez mais afiadas, imediatas, inconsequentes, que nada fazem, senão dá-la outro nome, cor, forma e lugar.

Direitos humanos para humanos direitos. Expressão intelectualizada do ódio, sustentada por uma autonomia ilusória, que vela a inescapável dependência que nos constitui; que arremessa para longe dos limites arbitrários da “paz” aqueles que não refletem o “humano ideal”, sem saber que sem compreender o humano do outro, humano sendo, não se compreende a si mesmo.

O humano que por muito tempo cala o humano que de si não suporta, não mais o reconhece seu quando rompe o silêncio. Enquant0 as incompletudes iludem-se completas nas distâncias que as separam, a falta, que não se alimenta de ilusões, faz do reencontro condição inevitável. É quando vidas separadas desde o berço, vindas de trajetórias dissonantes, se chocam com intensidade e violência; sem hora marcada, descompassadas. São as mortes, abusos, ódios, fobias de toda espécie. Nunca sozinhas, sempre do outro, para o outro, contra o outro. Carentes. Expressões de um amor castrado, enganado, mal colocado, limitado.

Enfim DIRETOS HUMANOS, paráfrase introdutória do AMOR que temos distante, que de tão mal compreendido, precisa ainda ser lembrado como um direito.

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