Conseguindo um emprego fora do Brasil

Erick Patrick
aus Brasilien
Published in
8 min readJun 6, 2015

Olá, meu nome é Erick Patrick, sou brasileiro, sou formado em Ciências da Computação e vou falar sobre como consegui meu emprego fora do Brasil.

Como todo (ou quase todo) formando/formado da área de TI, queria poder trabalhar nas maiores empresas do mercado, como Google, Apple, Microsoft, IBM, Samsung, Facebook, entre outras. Ou isso, ou ser um hacker como os dos filmes (quem nunca?).

Infelizmente, não consegui nem o primeiro nem o segundo (ainda). Mas consegui algo que qualquer outra pessoa formada nessa área, sonha: Um emprego em um grande centro fora do Brasil.

Há inúmeras formas de se conseguir isso, caso seja seu objetivo, e, nem de longe, a minha é a melhor ou a mais fácil. Contudo, foi através dessa forma que vim parar em Frankfurt, na Alemanha.

A base

A primeira coisa que fiz foi mergulhar de cabeça em uma área da Computação — Programação, no meu caso. Posso não saber de tudo sobre programação, mas sei o suficiente para fazer meu trabalho e sou capaz de provar.

Como as linguagens de programação que escolhi foram PHP e JavaScript, sempre busco novos conteúdos — livros, video-aulas, artigos ou outras publicações — para que eu possa melhorar no que faço.

No Twitter, sigo diversos programadores famosos (não só de PHP e JavaScript, mas programadores de um modo geral), que sempre trazem novos conteúdos e geram diversas discussões.

Também tirei meu diploma. Por mais que as universidades brasileiras costumem acompanhar a velocidade de (r)evolução da tecnologia, ter seu diploma é o mínimo que você precisará. Garanta seu diploma.

Melhorar meu inglês foi a segunda coisa que fiz. Mesmo eu tendo vindo para a Alemanha, na empresa onde trabalho, o idioma principal é o inglês. Se você quer, realmente, trabalhar com TI fora do Brasil, aprenda e/ou aprimore seu inglês. Ele é fundamental.

Assista séries e filmes em inglês, sem legenda e tente entender o filme. Se não conseguir, tente assistir com legenda em inglês, mas tente não assistir com legendas em português ou dublado, isso não vai ajudar você.

Procure pessoas que queiram treinar inglês e monte um grupo de conversação. Não precisa ser presencial, pode ser via Skype ou Hangout. O importante é que tenha pessoas com vários níveis de inglês, para que todos possam treinar e aprender

Fazer-me presente na comunidade de programação foi a terceira. Comecei a participar de projetos open-source e a ajudar com tradução de documentações e artigos.

Também comecei a publicar artigos próprios — que ia de resenhas de livros da área a dicas/soluções para problemas de programação — e também publiquei alguns projetos próprios no Github.

A procura

Com essa base (e sempre continuando a trabalhar nela), dei início a minha busca por uma vaga fora do Brasil, mesmo sabendo que há inúmeras vagas boas no país (seja em empresas privadas ou públicas).

Assinei newsletters de diversos serviços de listagem de vagas. Quase todo dia (se não for todos os dias), você receberá e-mails com diversas vagas para onde você pode enviar seu currículo. Dessas várias newsletter, as cinco principais, para mim, são:

Toda e qualquer vaga que eu via que meus conhecimentos batiam ou eram equivalentes com o que era pedido, eu enviava meu currículo. Nunca tive uma preferência por qual país queria ir, mas sempre fazia questão de mandar para países da Europa, para os EUA, Canadá, Japão e Austrália.

E já é a partir do envio do seu currículo que seu inglês tem de ser posto em prática. Não só pela tradução do currículo em si, mas porque, muitas vezes, é preciso mandar uma carta de apresentação.

Nessa carta você explica o porque de enviar seu currículo para a empresa, bem como o porque deles terem de contratar. Não precisa ser escrita em um tom completamente formal, mas também não precisa ser algo desleixado. Mostre que domina o inglês, que sabe do que está falando e que a empresa precisa de você.

As negativas

Várias vezes, você receberá respostas negativas. Não se preocupe, isso é normal. Todos já receberam ou receberão. Muitas empresas querem bons funcionários, mas não querem ter o trabalho de lidar com pessoas de fora do país de origem ou com a demora que isso pode levar.

Nunca é fácil lidar com respostas negativas. Dependendo da quantidade de vezes que você receber nãos, pode ser um belo banho de água fria, mas não desista. Continue mandando seu currículo e continue aprimorando seus conhecimentos, que uma hora você consegue um sim.

As entrevistas

Se você receber um sim para seu currículo, é certo que a empresa iniciará um processo de entrevistas com você. Podem ser tantas entrevistas quanto uma só ou mais que dez. Algumas empresas são muito rigorosas com relação a quem contratam.

E, mais uma vez, seu inglês será testado. Lembre-se, o inglês é a base da comunicação na área de TI. Mantenha seu treinamento, seja ele como for, para poder participar dessas entrevistas.

Pelas empresas que disseram sim para meu currículo, a média de entrevistas foram 4. Então, é bom estar com o inglês preparado, nem que seja para entender bem as perguntas e respondê-las de forma correta, nem que você venha a conversar “gaguejando” (como já chegou a acontecer comigo).

Geralmente, a primeira entrevista é com o pessoal do Recursos Humanos, onde eles fazem perguntas sobre sua vida; sobre sua formação; sobre o que você pretende fazer daqui alguns anos; se conhece o país o qual a empresa está alocada; e coisas do tipo.

Costuma ser uma conversa bem informal, para testar seu inglês, a firmeza com que responde as perguntas e se suas respostas condizem com o que você apresentou em seu currículo e com o que a empresa está procurando.

Se tudo der certo, você irá para uma segunda entrevista: a entrevista técnica. É nessa entrevista que seus conhecimentos são postos à prova. Para quem é programador, como eu, espere por perguntas sobre a linguagem com a qual trabalhará; sobre metodogolias de desenvolvimento; sobre boas práticas de programação; coisas do tipo.

É possível que peçam que você realize um pequeno teste, algo como um Code Kata. Um exercício de programação possível de ser realizado entre 30 e 60min.

Outras vezes, podem passar um teste um pouco mais elaborado, em que requerem a construção de um pequeno aplicativo, onde analisarão suas escolhas de padrão de design; se você utilizou testes; se você alcançou todos os objetivos do teste; e por aí vai.

Algumas empresas terão outras entrevistas para continuar a testar seus conhecimentos, muitas vezes, para saber se você pode ocupar um cargo maior/melhor ou se há alguma posição mais apropriada para seus conhecimentos, caso acreditem em você e no seu potencial.

Se você passar por essa fase da entrevista, você poderá ser entrevistado, novamente, pelo pessoal dos recursos humanos. Dessa vez, quererão saber coisas mais apropriadas para uma possível contratação, como por exemplo: Você vem sozinho ou acompanhado? Você preenche todos os requisitos para a obtenção de visto de trabalho?

Depois disso, é provável que ocorra uma outra entrevista com o CEO da empresa ou com o responsável pela sim/não final da contratação (nem sempre são a mesma pessoa). É nessa hora que você que você receberá uma oferta de salário (os valores costumam ser anuais), bem como benefícios.

Há quem barganhe nessa hora, se achar que seus conhecimentos valem mais. Se se sentir confiante nisso, faça. Nada o impede disso e há quem goste de pessoas com essa atitude, pois mostra que elas tem a coragem de correr riscos.

A mudança

Tendo conseguido o emprego ou não é sempre bom estar preparado para a mudança. Para que tudo ocorra da melhor maneira possível, algumas coisas são imprescindíveis. Abaixo, listo algumas delas.

Passaporte

A partir do momento que você decidir buscar um emprego fora do país, vá tirar seu passaporte. A validade do passaporte brasileiro é de 5 anos, que é um bom tempo para quem está procurando um novo emprego fora do país.

Não deixe para tirar seu passaporte somente depois que souber que será contratado (como eu fiz). Você precisa agendar uma visita à Polícia Federal da sua cidade para poder tirar seu passaporte.

Além desse agendamento, é preciso pagar uma taxa e levar alguns documentos e foto (que não é a famosa três-por-quatro). Para maiores informações, veja o site da Polícia Federal.

Visto

Sem dúvida, o visto é o que mais causa medo nas pessoas. Mas, geralmente, se você não mentir e se mostrar bem calmo, tudo ocorre muito bem e recebe seu passaporte, em casa, com seu visto.

É comum que as pessoas esperem receber o Sim final para poder tirar o visto. Ter um contrato de trabalho é fundamental para facilitar seu visto nos países. É uma espécie de garantia que as embaixadas e governos dos países tem sobre a seriedade da sua necessidade de visto.

Para o visto, você precisará de alguma coisas, que variam de embaixada para embaixada, mas, é normal que peçam:

  • Visto atualizado e com vencimento maior que seis meses;
  • Contrato de trabalho assinado;
  • Seguro de vida para a viagem;
  • Documentações comprobatórias: RG, CPF, Diploma de curso superior, etc;
  • Traduções dos seus documentos comprobatórios;
  • Foto (que também não é a tradicional três-por-quatro);

Após seu sim, acessa a página da embaixada do país para o qual deseja ir e verifique os procedimentos e documentos necessários.

Passagens

Recomendo você ir juntando dinheiro para as passagens, mesmo que não pretenda mudar de país tão cedo. Dependendo de onde você more, você precisará pegar vôo para um outro estado para então pegar vôo para seu destino final. Isso encarece bastante a viagem.

Outro ponto a levar em consideração para ir juntando dinheiro, é que, se você precisar começar logo na empresa, passagens “urgentes” — aquelas em que você compra com poucos dias de antecedência do vôo — costuma ser muito mais caras que quando você compra com alguns meses de antecedência.

Há alguns sortudos que consegue promoções de passagens áreas para bem próximo do dia que precisarão viajar e há outros em que a empresa paga o translado. Contudo, não arrisque, faça seu pé de meia.

Custo de vida

Costumeiramente, a empresa paga o primeiro mês de aluguel, mas, caso não pague ou não goste do local, esteja preparado para gastar um pouco mais. Em certos lugares, os aluguéis não são baratos e as casas/apartamentos não estão prontamente disponíveis para aluguel, tendo de esperar por semanas ou mesmo meses para conseguir algo.

Além disso, chegando no novo país, você precisará de dinheiro para poder viver até receber seu primeiro salário. É imprescindível que tenha uma quantia razoável, pelo menos, para sua alimentação.

Se você gosta de sair para almoçar e/ou todos os dias, recomendo que tenha bastante dinheiro. Restaurantes não costumam ser tão baratos quanto a maioria que vemos pelo Brasil. Mesmo que vá viver de fast-food, precisará de uma quantia mínima.

Faça sua pesquisa sobre o custo de vida da cidade/país em que vai morar. Saiba o valor médio das coisas, até para saber se o salário que receberá é compatível com o que precisará gastar por mês.

Saudade

Para mim, essa é a pior parte. Aproveite para ficar o máximo de tempo possível com sua família, caso eles não viagem com você. Talvez tenha de passar um bom tempo sem vê-los pessoalmente.

Prepare-se para os possíveis fuso horários diferentes, onde terá de esperar até mais tarde ou acordar mais cedo para falar com seus entes queridos. Tenha em mente que, muitas vezes, você ou eles estarão dormindo na hora que mais precisarem/quiserem falar uns com os outros.

Espero que vocês tenham, agora, uma ideia melhor de como fazer para conseguir seu emprego fora do Brasil. Como disse, essa não é a única forma nem a melhor (se é que existe). O que é certo é que ela deu certo para mim.

Quem sabe, com alguns ajustes aqui e outros ajustes acolá, adicionando ou removendo algumas partes, ela funcione para você também, não é?

Até mais.

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Erick Patrick
aus Brasilien

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