A RESIGNAÇÃO DE CLARICE

Arte Escrita
anevasconcel
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2 min readJan 17, 2018
Autora Clarice Lispector.

Introdução

Olá!

Inicio uma história de amor para além do tempo, o amor que sinto por nossa grande autora Clarice Lispector, suas palavras fazem um complexo sentido para mim. Às vezes, quando leio, ou releio, algum conto, crônica, carta ou outro texto de Clarice, é como se eu estivesse ouvindo as palavras diretamente da boca da autora, sua escrita é intensa, suave e afiada, com uma simplicidade que se embrulha em complexidades.

Quando li a crônica As Crianças chatas pela primeira vez, minha mente foi fisgada pelos sentidos que me eram apresentados. Dito isso, compartilho uma breve análise que chamei de A Resignação de Clarice.

A Resignação de Clarice

Resignação, essa é uma das palavras-chave que se destaca na crônica As Crianças chatas - de Clarice Lispector. Pode-se compreender muito da genialidade dessa autora fabulosa que, conscientemente, deixou palavras recheadas de significados do íntimo e da realidade exterior.

Ao me entregar às palavras que teceram a crônica, pouco pude compreender sobre a mensagem de Clarice. “E eu não aguento a resignação”, essa oração muito me chamou atenção, busquei os tipos de interpretações que a palavra resignação poderia oferecer, nesses casos, por exemplo, a tecnologia se torna uma heroína apesar de não ser primordialmente explorada para o estudo científico e pesquisa.

Encontrando vários significados que mantinham a essência do consenso primeiro, dado à palavra, compreendi por mim que as “crianças chatas” de Clarice, embora simbolizadas por um indivíduo, e sua mãe, referiam-se às incontáveis crianças chatas de nossa sociedade (esta é uma interpretação), que aprendem desde cedo a aceitar e a conformarem-se com o meio em que vivem, e, de mãe para filho, passa-se a lição da resignação. E como há os que se rebelam contra as normas de resignação, ao encherem nossos ouvidos com lamentos, implorações e mendigações, ou venderem aos berros seus doces, um pensamento toma nossa mente, isso quando não verbalizamos: “Que crianças chatas”.

Resignação, essa é a lição que esperamos que tais crianças, futuro da nação, aprendam. A insistência, às vezes, desiste de ser, enquanto alguns indivíduos retornam para seus lares aquecidos, e recebem abraços no calor do conforto, outros se esforçam para sonhar que não sentem frio, que não sentem dor, e que não sentem fome.

O amor. Ah, amor se tem quando nada mais falta, e, como a mãe e o filho das palavras de Clarice, “Na noite negra os dois estão despertos. Até que, de dor e cansaço, ambos cochilam, no ninho da resignação. ”

(Baseado em Crianças Chatas de Clarice Lispector. LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. 3° ed. Editora Rocco, 2008.)

Ane Vasconcel. Atualizado em dezembro, 2023 — (Escrito em 17 de maio de 2017).

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Espaço dedicado a conteúdo literário. Contos de ficção e fantasia, poesias, gotas de horror e um pouco de filosofia e artigos. De: Ane Vasconcel e Anne Twain.