30. O Episódio Que Antecede o Próximo

André Monsev
Delirium Oficial
Published in
15 min readJan 3, 2019

O A Voz de Delirium agora é um programa de rádio e um podcast! Graças a quem nos comprou podemos nos transformar em tudo! Agora, o A Voz de Delirium é tudo!

Escrito, editado e produzido por: André Monsev e Lucas Kircher

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Capa: trecho de pintura de Edward Hopper

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Leia o episódio:

Em algum dia passado, Palmito Antares se sentou no sofá e mordiscou um pastel de dúvidas. Ao chegar no recheio, percebeu ter entrado em contato com algo fibroso, borrachudo. Incapaz de partir o desconhecido com os dentes, pousou o pastel quente em seu colo para verificar do que se tratava.

Era um nariz.

Meu nome é Palmito Antares. Sou jornalista formado pela UPPAD e trabalho como âncora do programa de rádio A Voz de Delirium.

Hoje vou contar para você a história da investigação que fiz sobre o homem que achou um nariz em um pastel de dúvidas.

Há alguns dias, Palmito Antares, o âncora de um programa de rádio local, pendurou seu paletó e se sentou no sofá para jantar, iluminado pelo Brilho Incessante que ardia fora da janela. Ao abrir a embalagem dos pastéis, salivou pelo aroma de fritura e nostalgia. Atordoado com o que pareciam ser memórias do que ainda estava por vir, Palmito pegou uma das iguarias e mordiscou. Triturou a massa frita e as dúvidas acompanhado pelo som das cigarras na rua.

Assim que soube do caso, resolvi sentar junto à minha pessoa, Palmito Antares, para conversar sobre esse ocorrido.

Meu objetivo aqui não era achar a verdade — minha missão era expôr a verdade e humilhá-la.

- Obrigado por me receber aqui em sua casa.

Este sou eu entrevistando Palmito Antares na sala de casa, na última quarta-feira de acordo com o dia que você estiver ouvindo essa gravação.

- Eu que agradeço pela sua presença.

- Sua casa é muito agradável.

- Obrigado, ha ha ha. Talvez eu compense algumas questões mal resolvidas internamente com decoração. Ha ha ha.

- He he he, que ótimo.

- De fato.

- Bom, Palmito, vamos lá. Você deve lembrar quando eu te contatei aquela vez…

- Sim, eu estava no banheiro e tive que sair correndo para atender. Ha ha ha.

- Certo, bom, detalhes do tipo podem ficar de fora, tudo bem? Acho que podemos nos ater mais ao ocorrido…

- Claro, claro. Só estava dizendo.

- Quando você diz que mordeu o pastel e, na mordida, encontrou um objeto fibroso…

Meu objetivo nesta entrevista foi de conseguir informações para ir atrás do dono do nariz. Talvez por questões de déficit de atenção ou algo do tipo, Palmito Antares foi um entrevistado bastante difícil.

Ele devaneava e trazia assuntos que não tinham nada a ver como, por exemplo, todas as vezes que ele se engasgou rindo de Cíntia Firme. Ou então dos sustos que já levou por achar que o Diretor do Programa era um invasor ou um fã doentio com más intenções. Palmito também demonstra algum desconforto com a presença de pássaros, ou até mesmo ao lembrar a existência deles.

Mas, para preservar o seu tempo, resolvi resumir as informações obtidas na entrevista.

Foi em uma mordida — que o sr. Antares alega não lembrar bem qual — que o âncora percebeu ter mastigado algo borrachudo. Segundo ele, era resistente e insípido, como alguma coisa que não parecia querer se desfazer. Na boca, fazia um som de nhec nhec nhec. Não era bem como uma unha, era na verdade mais elástico.

Cansado com as tentativas frustradas de desfazer o mistério com os próprios dentes, Palmito babou o ingrediente na palma de sua mão para só então perceber que se tratava de um nariz.

Um nariz humano.

Inteiro.

E, ao que ele veio perceber, até mesmo bonito. Ainda assim seria bem mais agradável se estivesse pontuando o rosto de alguém e não temperando um pastel de dúvidas.

Palmito contava a mim e portanto a si mesmo sobre aquilo tudo com o olhar de quem está na praia assistindo as ondas. Ele falava sobre tudo de um modo tedioso, quase como se tentasse me fazer dormir. Talvez fosse uma técnica para que eu perdesse o interesse pelo assunto. Talvez Palmito estivesse tentando esconder de mim alguma questão sobre si mesmo. Talvez Palmito não quisesse admitir que ele, na verdade, sabia muito mais sobre toda aquela situação do que gostaria.

Saí de lá com mais dúvidas do que respostas. Para desvendar a incógnita após meu primeiro contato comigo mesmo, visitei alguns dos lugares mais perigosos de Delirium, conversei com testemunhas, segui pistas, experimentei pastéis, utilizei banheiros sujos e mastiguei chicletes o bastante para criar uma nova úlcera em meu estômago.

Tudo isso não levou a nada, é claro.

Mas certo dia, ao ver uma plantinha tocar jazz dentro de uma floricultura, tive o estalo que precisava. Me veio à cabeça o nome de um especialista em podcasts que poderia ter todas as respostas necessárias. Afinal, se isso tinha ocorrido com Palmito Antares, o âncora do maior programa de rádio de Delirium e que é transmitido para diversos lugares às vezes como um podcast, só poderia ter alguma ligação com podcasts.

Seria uma mensagem que alguém estaria tentando enviar?

Após abandonar teorias como “tentaram fazer Palmito engasgar com um nariz humano”, resolvi ligar para Luís Beber.

Beber é um editor profissional de podcasts que tem uma necessidade fisiológica de fazer isso. Por esse motivo, ele abandonou o contato com toda sua família e seus amigos. Assim, teria mais tempo para se dedicar à edição e produção de programas.

Por essas características, decidi que Luís Beber seria a pessoa perfeita para me conceder uma entrevista e dizer se há ou não um paralelo coerente entre um nariz humano dentro de um pastel de dúvidas e essa mídia que não pode ser postada no YouTube porque incomodaria muita gente.

- Olá, Luís Beber, fico feliz que você tenha conseguido fazer um rápido intervalo na sua produção de podcasts para fazer algo mais da vida.

LUÍS BEBER: Oi Palmito. Bem, você sabe que não é bem assim… Essa ideia de que eu abandonei minha vida social pra me dedicar a podcasts foi algo que vocês inventaram para…

- Aham. Beber, vamos combinar uma coisa: precisamos nos ater objetivamente ao assunto sério que está em questão aqui, tudo bem? Portanto peço para que você não fique divergindo. Como posso explicar isso para você? … Pense que você é um convidado em um podcast e que precisa ser mais direto ao ponto.

LUÍS BEBER: Mas Palmito, meu conhecimento não se resume só a podcasts e…

- Beber, posso ou não contar com a sua cooperação?

LUÍS BEBER: … pode.

Até esse momento eu já estava cansado de minha conversa com Luís Beber. Nossa entrevista parecia não chegar a lugar nenhum, e Beber parecia querer que tudo aquilo fosse somente sobre ele. Ele não parecia satisfeito com todas as menções que fizemos a ele ao longo de toda a segunda temporada. Então resolvi ir direto ao ponto.

- Beber, resolvi ir direto ao ponto. Baseado em todos os seus anos de experiência e na sua vivência dedicada exclusivamente ao podcast, você considera que o A Voz de Delirium poderia ter incentivado alguém a fazer algo terrível consigo mesmo? Como cortar o próprio nariz? Lembrando que isso é uma situação hipotética.

LUÍS BEBER: Você se refere ao caso que você está investigando, em que um nariz humano foi encontrado dentro de um pastel de dúvidas?

- … Talvez. Não vem ao caso. Pode ou não pode?

LUÍS BEBER: Bem, profissionalmente falando…

- Sim, isso, profissionalmente.

LUÍS BEBER: …. profissionalmente falando, eu diria que sim, poderia ter incentivado, porque o A Voz de Delirium é um podcast que trata diversos assuntos com uma irresponsabilidade imensa. Para começar, ele tem uma problemática muito séria a respeito da representatividade. Depois, ele brinca com coisas bastante sérias. Além disso, o A Voz de Delirium pode incomodar muita gente e, como não há regulação de idade para o consumo da mídia, pessoas que não deveriam ouvir o A Voz de Delirium acabam ouvindo. Sabe-se lá quais são os riscos que uma coisa do tipo poderia acarretar…

Felizmente, com a negação de Luís Beber para a minha pergunta — garantindo que o programa é de perfeito bom gosto para qualquer um escutar e que promove somente as melhores coisas da vida — eu pude seguir adiante com a investigação com a cabeça sossegada.

No entanto, o conforto obtido com as palavras de Luís Beber não foi o bastante.

Poucos dias se passaram e eu já estava sofrendo novamente com as noites mal dormidas.

Em uma dessas noites, olhando para os fios de luz do Brilho Incessante no Céu, que rastejavam por entre as frestas das persianas pelo chão do meu quarto, tive a epifania. É claro, eu estava perdendo o sono porque esse é o caso mais estranho que já ocorreu em Delirium.

Anote as minhas palavras, caro e cara ouvinte: ao final desse caso, você se tornará uma nova pessoa. Talvez, até mesmo, literalmente. Você literalmente se tornará uma nova pessoa. Se demitirá, fará uma nova identidade e tudo o mais.

O que será muito bom mas também horrível. Você acordará e pensará “que bom que não tenho mais todos os problemas que tive antes, sou uma nova pessoa!” e conforme o dia e então as semanas se passarem, sua empolgação inicial se minguará pouco a pouco. A cada dia você descobrirá um novo problema, um novo desgosto, algo inédito para detestar nessa sua nova versão. E em breve você estará completamente arrependido, se lamuriando por um dia ter desejado ser diferente do que já foi. É o que sempre acontece, só que você não percebe.

Desde que Cecília fez seu discurso, deixou muitas dúvidas sobre seu paradeiro. Dúvidas essas que…

Espere, ouvinte.

Estive errado por todo esse tempo.

Dúvidas.

É sobre isso que tudo se trata. Sobre dúvidas.

“Quem colocaria um nariz dentro de um pastel?”, “por quê alguém faria isso?”.

É um ato inconcebível de existir sem as dúvidas.

As dúvidas sobre esse caso me fizeram acordar intrigado pela manhã, e as mesmas dúvidas me fizeram dormir de exaustão no final do dia.

Tudo são dúvidas, ouvinte.

Como: quanto tempo houve desde o último episódio e esse de agora? Parece ter sido uma semana. Ou então duas semanas. Ou três semanas. Mas, talvez, tenham sido alguns anos.

E, de qualquer modo, essa passagem de tempo vale para quem? O tempo está desconjuntado. Não há parâmetro entre o fim do último episódio e o início deste episódio, porque entre os programas há toda a vida para ocorrer. Uma vida inteira de dúvidas para se ter.

É sobre isso que se trata. Por isso, nunca chegaremos a uma resposta. Nunca acharemos o dono do nariz — ele pertence à nossa necessidade de ter dúvidas. É o que ele é. Uma representação. Uma metáfora. A única resposta que este nariz pode ser, é para…

Espere um momento. Cíntia Firme está aqui.

NESTA GAVETA AQUI, CÍNTIA?

Parece que há uma carta pra mim nessa gaveta aqui.

Vejamos.

*PIGARRO*

“Olá, Palmito.

Você não deve se lembrar de mim. Mas eu fui um exímio Conservador no passado. E ainda o sou, mas não praticante. Costumava conservar muita berinjela, por exemplo, mas essa vida teve que ficar um pouco para trás.

Em todo o caso, já entrei em contato com o seu programa muitas vezes. Mas fui ignorado.

O nariz pertence a mim, Palmito. Foi a forma que consegui chamar sua atenção. Sua, e de todos que escutam esse programa, pois existe algo terrível em cada um de vocês impedindo que vocês enxerguem o todo. É isso mesmo. Eu diria até mesmo que está bem embaixo dos seus narizes, isto é, se não fosse o próprio nariz de cada um de vocês!

Li por aí que perdemos muita coisa de vista ao longo dos anos graças à presença do nariz no nosso campo de visão, e até mesmo que o nariz é uma aberração do corpo humano. É verdade. Eu realmente li por aí. Ou talvez tenha sido informado disso em um elevador. Não importa, o que importa é que eu finalmente sei dessa verdade sobre os narizes, que tinham escondido de mim até então.

Portanto, recomendo a todos.

LIVREM-SE DE SEUS NARIZES

E ENXERGUEM O MUNDO POR INTEIRO PELA PRIMEIRA VEZ!

Assinado,”

Bom, por pior que isso seja, não poderemos saber quem é o autor da carta. Há um pingo de sangue bem em cima da assinatura. O que significa que ele deve ter cortado o próprio nariz em cima dessa carta.

Quanto descuido, ha ha ha.

Mas fico feliz de termos uma resposta para tudo. Que não adiantou de nada, quero dizer, após tudo isso a dúvida persiste: de quem é esse nariz?

Olá, cara e caro ouvinte, e bem-vindo a mais um A Voz de Delirium Versão Premium Definitiva!

Este episódio só é possível graças aos nossos financiadores, que compraram A Voz de Delirium, como você deve saber!

Mas você deve estar se perguntando — se este é o A Voz de Delirium, o que eu estava ouvindo até então?

Bem, graças ao conhecimento incontestável de nossos financiadores, nosso programa foi inteiramente remodelado!

INCRÍVEL! FASCINANTE! BUUUUUUUUUMMMMMM!!!!

Fomos instruídos a NÃO PERDER SUA ATENÇÃO!

Por isso nosso programa, agora, terá uma PUNCHLINE e uma PIADA dentro de todo espaço vazio!

- “por que o Grande Pássaro atravessou a rua?”

Desse modo o A Voz de Delirium não será mais FECHADO EM SI MESMO. Ao invés disso, ele contará com vários convidados e roteiros encaixados nas melhores fórmulas da escola norte-americana de narrativas. O A Voz de Delirium enfim deixará de ser DEMASIADAMENTE HERMÉTICO e se tornará um grande sucesso mundial, atraindo muitos PATROCINADORES.

- “para causar dúvidas a quem viu ele atravessando!”

Então prepare-se, ouvinte, pois a partir de agora TUDO no A Voz de Delirium é absolutamente inédito. Nunca feito por ninguém antes. Seremos totalmente originais, já que nunca fomos antes. Inventaremos todas as próximas atrações. Será incrível. Aguarde, hoje ainda nesse programa teremos a presença de CECÍLIA MEIRELLES! NÃO SAIA DAÍ.

Além disso, vamos, pela primeira vez na história, QUEBRAR A QUARTA PAREDE!

O A Voz de Delirium é o primeiro podcast do mundo que se chama A Voz de Delirium!

Além disso, é único podcast chamado A Voz de Delirium apresentado por PALMITO ANTARES!

Isso faz do A Voz de Delirium um podcast único, inédito e inovador, com ideias que ninguém na história nunca teve antes.

“Esses caras são loucos, hahahahah!” você deve estar pensando! E você está pensando isso porque o A Voz de Delirium é único demais e muito inovador.

SÓ PODE SER LOUCURA!

AHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

A Voz de Delirium, o podcast único e inovador que é inovador e único!

Vamos agora homenagear todos os entes queridos falecidos com 25 segundos de absoluto silêncio.

Exceto pelo som constante de uma britadeira.

NÃO SAIA DAÍ, LOGO MAIS VOCÊ OUVIRÁ ALGO QUE NUNCA OUVIU ANTES.

AQUI, NO A VOZ DE DELIRIUM.

E vamos agora a uma notícia fresquinha.

Delirium foi a cidade escolhida para a Convenção de Terraplanistas deste ano. O evento terminou ontem no Mundo Científico e contou com a presença de toda a sorte de pseudocientistas. Os requerimentos para entrar eram os de sempre, como: possuir um canal no YouTube, ser incapaz de fundamentar os próprios argumentos e considerar que amendoins são pequenas cápsulas que transportam alienígenas.

O evento contou com a presença de mais de 200 pessoas para discutir o formato da Terra. Com ingressos que custaram até 620 dinheiros, os participantes da convenção definiram, entre outras coisas, que a gravidade não existe.

“Minha pesquisa destrói a cosmologia do Big Bang. Ela apoia a ideia de que a gravidade não existe e a única grande força da natureza é o eletromagnetismo”, foi o que disse Daví Pântano, que no dia-a-dia trabalha como gerente em um posto de saúde, durante a convenção. Segundo um de nossos repórteres, Marsh fez experimentos no seu jardim analisando o movimento da Lua com uma máquina fotográfica e um aplicativo no celular e chegou à conclusão que refuta a teoria elaborada por Isaac Newton em 1686.

Por sua vez, Jari João, organizador do evento, foi mais categórico e disse: “As pessoas estão acordando. Estamos vendo uma explosão de interesse na teoria da Terra Plana e uma desconfiança generalizada direcionada aos governos e esse é um lugar onde as pessoas podem expressar suas ideias sem medo de serem ridicularizadas”.

Darin Nesbito, outro pesquisador que se apresentou na convenção, afirmou ter descoberto a razão de ninguém cair das bordas da Terra plana: o ‘efeito Pac-Man’. Segundo ele, quando alguém chega na borda, é automaticamente transportado para o outro lado como no famoso jogo dos anos 80.

“Uma possibilidade lógica para aqueles que pensam sem restrições é que o espaço-tempo se envolve em si mesmo e nós temos um efeito Pac-Man”, disse ele na convenção.

Um dos pontos mais debatidos nos três dias do encontro e que não se chegou a um consenso é o formato da Terra. Alguns afirmam que ela é um círculo envolto em paredes de gelo; outros, que é um domo fechado; e uma terceira corrente acredita que a Terra é formada por uma série de anéis interligados. O único consenso é que a Terra redonda, proposta inicialmente por Pitágoras no século 6 antes de Cristo, é uma mentira globalista.

Hoje teremos a presença de Barack Obama no programa. NÃO SAIA DAÍ.

Ei, você. Você sente eventuais palpitações no peito?

Está cansado de acordar e não enxergar um propósito para fazer o que você faz?

Se arrependeu de quase todas as escolhas que fez até hoje?

Se sente tão inteligente quanto inapto para fazer qualquer coisa?

Talvez você esteja precisando… GASTAR DINHEIRO!

Gastar dinheiro é uma das formas mais eficazes de lidar com suas questões existenciais e com o vazio inevitável da vida.

São centenas de anos de desenvolvimento, moldando cuidadosamente a sociedade perfeita para que você atinja o ápice de um brevíssimo regozijo ao trocar alguns números da sua conta bancária por um produto.

Se você estiver com dificuldades de encontrar algo para usar o seu dinheiro, envie agora mesmo uma mensagem de WhatsApp para o número (51) 99221–2812 e seja atendido por nossos especialistas sobre como esfregar consumo nas suas dores existenciais.

E vamos ao drops de notícias!

Russo Minessota, um dos mais proeminentes integrantes do A Voz de Delirium, saiu de casa com tanta pressa que esqueceu o seu casaco

Russo Minessota teve alguma dificuldade para fazer seu carro pegar, mas após algumas palavras de baixo calão para o além e um murro no painel, conseguiu.

Russo Minessota está preso no trânsito assim como todo deliriano que escolheu a saída fácil.

Russo Minessota acaba de rejeitar um panfleto sobre um novo condomínio de alta classe que jamais será preenchido.

Russo Minessota acaba de ser assombrado em seus pensamentos pela imagem de uma luz piscante no horizonte de Delirium.

Russo Minessota continua dirigindo, mas com a estranha sensação de estar sendo observado por um pássaro no banco traseiro.

Russo Minessota parou em um posto de gasolina e está revirando o banco traseiro e o porta-malas à procura de um pássaro que ele não tem certeza se de fato viu.

Russo Minessota parou para comprar um remedinho para dor de cabeça e uma escova de dentes na Parma Drogas do posto. Essa notícia é um oferecimento PARMA DROGAS.

Russo Minessota chegou ao novo prédio da nossa nova estação de onde o programa é transmitido e está subindo nos elevadores.

Por algum motivo, alguns seguranças tentaram impedir a passagem de Russo e pararam o elevador. Mas ele usou a saída de emergência e segue rumo ao nosso andar escalando o cabo do elevador.

Russo Minessota conseguiu! Ele está aqui, vindo na direção de minha sala.

Russo Minessota bate à porta — ESPERE AÍ RUSSO — e eu vou abrir.

Russo: Palmito, precisamos voltar às origens. Nada disso aqui deu certo. Estamos perdendo nossa essência. Preciso que você, Cíntia e toda a equipe venham comigo. AGORA!

Ouvinte, olhe! Olhe para o céu!

Abra sua janela! Escancare suas persianas! Tire seu óculos, ou coloque seu óculos! Deixe o arroz no fogo! Evapore do banho e vá até a janela mais próxima! Abaixe o jornal! Aumente o volume do rádio!

E olhe para o céu!

O Ovo, cara e caro ouvinte. O Ovo se rompe, enfim!

É mesmerizante! É paralisador! É desesperador! É emocionante!

É a nossa morte! E a nossa morte é linda!

O Ovo se expande e implode e explode! E, em um piscar, entendemos tudo — e por um milésimo de segundo tudo fica escuro, e então claro, e não entendemos nada!

Mas o Ovo se rompe! As Asas já batem!

Tão fortes como nunca,

tão fortes como antes!

Às vezes a dúvida vem / outras vezes você morreu!

Um saco de perguntas irá lhe ajudar

E se você mudar / não vá se empolgar!

O Brilho pelo menos estará lá

eeeee

SEMPRE OLHE PRO BRILHO NO CÉU

SEMPRE OLHE PRO OVO NO CÉU

Logo antes de dormir / bem depois de acordar!

O certo é que ele sempre estará lá

Você ouviu esse estampido? / Russo, fale, meu amigo!

Será que estamos prontos pra acabar?

TALVEZ OLHE PRO BRILHO NO CÉU

TALVEZ OLHE PRO OVO NO CÉU

Tudo termina em festa / tudo termina em morte

Mas A Verdade sempre continua

Confundido com um Palmito / ou vivendo em um podcast!

O fim é a garantia do início!

SEMPRE OLHE PRO ESCURO DO CÉU

SEMPRE OLHE PRAS LUAS NO CÉU

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André Monsev
Delirium Oficial

ux writer/content designer, co-creator and producer of A Voz de Delirium (in portuguese!) https://linktr.ee/avozdedelirium