Análise | Assassin’s Creed Odyssey (PC)

O Assassin’s Creed mais ambicioso de todos é também a construção de uma verdadeira Odisseia.

Gustavo Maganha Andria
Aventurine Brasil
10 min readNov 1, 2018

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Art © by Ubisoft

Ilhas, guerra, fama, navios, deuses, família, Grécia… Tudo isso serve de berço para Assassin’s Creed Odyssey, que lançado em 5 de outubro de 2018, coloca o jogador em meio à Guerra do Peloponeso, conflito histórico entre as duas cidade-estados Atenas e Esparta. Odyssey junta mecânicas de vários jogos da série, tomando como referência maior o Assassin’s Creed Origins, que foi o responsável por mudar o rumo da franquia, que deve ser considerado como a direção correta a partir de agora.

Desenvolvido e publicado pela Ubisoft, Odyssey, assim como todos os Assassin’s Creed, age como a joia mais preciosa que o estúdio francês possui, exigindo muito esforço e dedicação, observados em vários momentos do game e questionados em outros. A fidelidade com o mundo grego e a intensidade de tudo à sua volta só enfatiza a grandeza de Odyssey, tanto no tamanho quanto na quantidade de conteúdo disponível para o jogador usufruir.

De longe o mais ambicioso da empresa, o jogo teve a responsabilidade de consolidar a fé que a série vem devagar recuperando, após as grotescas falhas do passado. Com um conhecimento disso, a Ubisoft equilibrou as raízes e fez arriscadas inovações a fim de tornar o game algo único. Vamos agora viajar até as ilhas gregas e descobrir se AC Odyssey faz jus ao pertencimento nessa já clássica franquia dos videogames.

Disponível para PlayStation 4 via PlayStation Store, para Xbox One via Microsoft Store e para PC via Uplay/Steam. Possui uma versão para Nintendo Switch, jogável através de uma ferramenta de streaming e servidor externo, porém só foi disponibilizada no Japão.

O jogo conta com localização completa para o Português Brasileiro.
Não há suporte para multiplayer local e/ou online.
Esta análise não contém spoilers.

Enredo

Esta será a sua Odisseia

Assassin’s Creed Odyssey introduziu algo inédito na franquia: a possibilidade de se escolher a personagem principal. Diferente do que aconteceu em Assassin’s Creed Syndicate, onde podíamos alternar a qualquer momento entre os gêmeos Evie e Jacob Frye, Odyssey nos coloca diante de uma difícil decisão logo no começo: Kassandra ou Alexios?

Essa escolha afeta diretamente o modo como o mundo grego reage a você, desde simples gritos referindo-se ao protagonista, até a forma como NPCs te tratam, sendo mais respeitosos ou ameaçadores. A forma como a história é contada é igual para ambos os espartanos, possuindo algumas mudanças e adaptações para combinar com o gênero escolhido. Na maior parte das vezes o termo “misthios” faz uma função neutra quando alguém refere-se à personagem.

“Misthios” quer dizer mercenário, e é exatamente essa a sua ocupação em Odyssey. Começando a jornada na isolada ilha de Cefalônia, Kassandra ou Alexios agem como soldados que são contratados pelas mais diversas camadas da sociedade para resolverem pequenos e grandes problemas. Considerando isso, é notável que, apesar da jornada ter foco em construir uma Odisseia e um legado, os protagonistas pendem para o lado do dinheiro e da fama em quase todos os encontros.

Falando na jornada, nunca um subtítulo foi tão adequado para um jogo. A história tem como base a procura de Kassandra ou Alexios por sua família, separada por acontecimentos turbulentos do passado. Ao sair para a busca, o protagonista acaba construindo uma reputação por onde passa e assim, torna-se conhecido em todo o mundo grego, sendo considerado o “portador da águia” e, por vezes, um(a) deus(a). O desenvolvimento da história é feito de forma épica, moldando uma verdadeira Odisseia que acompanha os feitos de Kassandra ou Alexios. O enredo é contado de uma forma ampla, complexa e até um pouco confusa, mas envolve o jogador devido não só à trama, mas ao carisma dos protagonistas, que atinge a medida certa para não se tornar exagerado.

Pela primeira vez na franquia, escolhas estão disponíveis em missões principais e secundárias. Essas podem ditar o futuro e resultarem em acontecimentos melhores ou até mesmo desastrosos. Apesar da grande maioria das escolhas ser algo momentâneo e relevante apenas durante um diálogo, algumas delas são lembradas por personagens durante toda a trajetória que o jogador percorre. Falando em personagens, durante a caminhada em Odyssey, o caminho de Kassandra ou Alexios cruza com o de personalidades do mundo grego, que servem como referência para o conhecimento histórico que os jogos da Ubisoft sempre nos entregam. Encontramos durante a jornada figuras como Sócrates, Hipócrates e muitos outros.

Gameplay

Cadê a Hidden Blade?

Para o “Assassin’s Creed da Grécia”, a Ubisoft optou por aproveitar inúmeras mecânicas já vistas em AC Origins, adicionando várias novidades, desde o manejamento do personagem, até ao combate naval. Iniciamos falando da customização e do desenvolvimento do(a) protagonista. É possível agora equipar partes separadas da armadura, como capacetes, peitorais e botas. Esses equipamentos lhe dão defesa e atributos especiais, que fortalecem os três tipos de dano presentes em Odyssey.

O dano de caçador influência no dano à distância utilizando o arco, o dano de guerreiro afeta diretamente os golpes em combate aberto e o dano de assassinato é responsável pela força dos ataque furtivos. A escolha de qual dano priorizar depende totalmente do jogador, que deve adaptar seus equipamentos à seu estilo de jogo. As armas empunhadas definem o dano de guerreiro e estão presentes em grande número. Com isso, é perfeitamente possível optar por utilizar apenas os estilos de armas favoritos durante todo o gameplay, pois cada um apresenta abordagens em combate únicas.

Quanto ao desenvolvimento de personagem, agora temos uma árvore de skills mais dinâmica e participativa. Estão disponíveis diversas habilidades de assassino, caçador e guerreiro, que podem ser equipadas e utilizadas. Cada habilidade é única e traz uma nova abordagem a Odyssey, que permite que o jogador tome decisões não só na história, mas também em como dominar um forte ou enfrentar seus inimigos em batalha. Também existem habilidades passivas, mostradas na parte inferior da árvore de skills, que são adquiridas ao completar certas exigências, como subir de nível e sincronizar panoramas.

Talvez não tenha sido a maior mudança, mas a substituição da Lâmina Oculta, presente em todos os jogos da franquia, pela Lança de Leônidas, ainda pega os veteranos da franquia de surpresa. A lança não só auxilia no combate, agindo como “segunda arma”, mas também é ferramenta para todas as execuções furtivas do jogo. Além disso, é a responsável pela aquisição de habilidades de mais alto nível através de upgrades feitos a partir de certa parte da campanha principal.

Por suas propriedades mágicas, a Lança de Leônidas permite com que Kassandra ou Alexios usufruam de teleportes, fogo e veneno nas lâminas, investidas imparáveis, etc. Confesso que tive receio ao lidar com tal mudança e com a falta da querida Lâmina Oculta, mas o novo equipamento se adapta muito bem ao gameplay e a partir de certo ponto, você acaba agradecendo por ter algo que facilite tanto suas empreitadas sorrateiras.

A navegação e combate naval foi também uma adição bem-vinda ao game. Para realizar as viagens até as múltiplas ilhas gregas, é inevitável a utilização do Adrasteia, barco de Kassandra ou Alexios, para desbravar os mares carregados de história e navios atenienses e espartanos. A locomoção se dá de foram idêntica aos outros jogos da franquia que possuem a mesma mecânica, contudo há a adição de um medidor que potencializa a velocidade através do esforço dos remadores.

O combate naval foi simplificado, tornando-se menos estratégico e mais divertido. O Adrasteia é equipado com flechas e lanças, que podem ser lançadas para causarem dano em sua forma convencional ou em chamas, deteriorando ainda mais os navios inimigos. É possível se proteger de disparos provenientes das embarcações inimigas utilizando escudos. Ao finalizar a barra de energia do navio adversário, uma abordagem pode ser realizada, carregando completamente a vida perdida do Adrasteia. Contudo, a possibilidade de abalroar, ou seja, investir contra outro navio em uma colisão frente-lateral, adiciona uma animação que parte a embarcação inimiga ao meio, saqueando automaticamente uma quantidade bem maior de saque.

Saque esse que é crucial para se melhorar o Adrasteia. Os principais componentes são ferro, madeira, couro e tabuletas, sendo as últimas encontradas explorando o vasto mundo de Odyssey. Há também a mecânica de recrutamento de tenentes para o navio. Para isso é necessário nocautear um soldado inimigo (qualquer um) e após isso chamá-lo à tripulação. Vale ressaltar que soldados apresentam atributos e melhorias diferentes para a embarcação.

Complexidade

Um pouco menos repetitivo

O grande defeito no quesito “mundo” nos Assassin’s Creed é a quantidade de atividades repetitivas. Em Odyssey esse fator foi claramente uma preocupação dos desenvolvedores, que utilizaram atividades maçantes apenas para preencher lacunas que o jogador explora pouco na gameplay.

As missões principais são apresentadas de forma envolvente e com uma trama evolutiva ao jogador, tendo sido as mais bem trabalhadas e dispensando elogios. Existem muitas missões secundárias e algumas seguem o modo “storyline”, nos apresentando a personagens específicos da quest e seguindo uma série de acontecimentos. Por outro lado, outras missões secundárias são bastante superficiais, envolvendo apenas entregar algo ou matar certo alvo, não possuindo uma profundidade e caindo na mesmice em pouco tempo.

Temos ainda o quadro de mensagens, que possui uma série de missões que são alteradas de tempo em tempo. Esse quadro compartilha entre regiões as missões que envolvem grande recompensa e muda aquelas mais simples, adaptando ao local onde o jogador se encontra. Todavia, as missões desse quadro tornam-se extremamente entediantes e dispensáveis, sendo úteis apenas no começo do jogo quando se está evoluindo.

As atividades mundanas são diversas. Desde domínio de fortes e acampamentos de bandidos até o saque de cavernas subaquáticas. A grande novidade vai para as batalhas de conquista. Para se desbloquear uma batalha de conquista, é necessário que o jogador complete o maior número de atividades possíveis na região, diminuindo assim o poder do líder do território. Ao chegar em um certo nível de influência, é possível escolher um lado, Atenas ou Esparta, e travar uma batalha de proporções épicas, aniquilando os soldados e oficiais inimigos e garantindo o domínio da região. Impressionantes no começo, as batalhas tornam-se extremamente repetitivas, e o jogador passa a evitá-las a partir de certo ponto, pois consomem tempo e as recompensas não são tão boas assim.

Para dificultar a realização das atividades por parte do jogador, mercenários perseguem Kassandra ou Alexios o tempo todo. Dependendo da quantidade de assassinatos e influência em um dado território, mais mercenários podem aparecer para caçar a cabeça do protagonista. Esses dispõem-se em uma espécie de ranking que, ao matá-los, coloca o personagem principal mais perto de se tornar o(a) número um entre os “misthios”. A mecânica funciona perfeitamente, adicionando um baita desafio extra, porém os mercenários inimigos levam um pouco a sério o quesito perseguição, indo à áreas remotas e fechadas para seguir o jogador.

Microtransações, apesar de presentes e duramente criticadas pela comunidade, mal são apresentadas ao jogador e são totalmente dispensáveis para o aproveitamento completo do game. Servem apenas para adiantar o progresso e para a obtenção de alguns equipamentos cosméticos.

Audiovisual

Lindo, mas não perfeito…

Assassin’s Creed Odyssey possui uma ambientação lindíssima, sendo já costumeiro da Ubisoft entregar uma fidelidade surreal em seus games. Por ser imenso e levar a responsabilidade de ter um gráfico à altura, possui um sistema de renderização um pouco controverso. Apesar de não tão presente na versão de PC, justamente pela limitação de hardware ser menor, nas versões de console é comum observar áreas mal renderizadas. Mas, como dito anteriormente, o jogo é imenso, tornando difícil evitar problemas como esse, que mesmo feios visualmente, não atrapalham o gameplay e a fluidez.

Trilha sonora e dublagens de alta qualidade

A trilha sonora faz a adaptação das músicas costumeiras da série, dando um tom mais emocionante para o desenvolvimento da jornada pelo mundo grego. Tanto as músicas de exploração quanto as feitas para o combate são perfeitamente encaixadas para valorizar o momento vivido em meio à um local tão histórico. Até a trilha do menu principal merece um destaque especial.

A dublagem em Português do Brasil, por sua vez, também impressiona. A Ubisoft serve de exemplo quando o quesito é a localização de um jogo para o nosso idioma.

Desempenho

O jogo não apresentou problemas significativos de queda de FPS ou travamentos. A versão de PC foi bem otimizada se comparada à outros games já lançados da franquia, contudo é necessário uma boa máquina para se ter um desempenho adequado. Como já mencionado, os problemas de renderização são mais comuns na versão de consoles pela limitação do hardware. No PC isso é visto com certa raridade, mas de qualquer forma reforço que não atrapalha o gameplay.

Versão utilizada na análise: 1.05

Análise — Assassin’s Creed Odyssey

Utilizando-se de uma temática grega, Odyssey engloba acertos dos mais variados títulos da série e adiciona elementos como a troca de protagonista, que enriquecem a experiência de quem joga. Tenta sair da repetição excessiva e consegue em partes, sendo esse um resquício defeituoso que habita ainda quase qualquer jogo da Ubisoft. Adiciona muitas novas mecânicas de gameplay que, aliadas à uma história confusa porém envolvente, transforma Odyssey em um jogo equilibrado em todos os pontos importantes.

Ambicioso e imenso, AC Odyssey é um reflexo da necessidade da Ubisoft de arriscar tudo que podia e que tinha vontade em sua franquia mais querida. Tenho de concordar que, apesar de muito distante de qualquer jogo da série, Odyssey leva vida e diversão novamente ao universo Assassin’s Creed, sendo não só o melhor Assassin’s Creed em muito tempo, mas talvez o melhor da 8ª geração de consoles.

Avaliação do jogo segundo o autor da análise: 9/10 — Ótimo
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft.

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