Análise | BQM -BlockQuest Maker- (Switch)

Misturando simplicidade e variedade, game combina com a premissa portátil do console e é uma opção interessante para fãs do gênero maker.

Rafael Smeers
Aventurine Brasil
11 min readJan 21, 2019

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Art © by Wonderland Kazkiri inc.

Originalmente disponibilizado gratuitamente para dispositivos móveis (iOS via App Store e Android via Play Store) em 2018, BQM -BlockQuest Maker- foi desenvolvido pela companhia japonesa de design Wonderland Kazkiri inc. com o intuito de ser um maker acessível e que adotasse um modelo de jogabilidade similar ao do The Legend of Zelda clássico, desejo exposto por fãs da franquia diversas vezes. Junto da liberdade de criação, o título também procura apresentar um sistema de progressão via sistema econômico e desbloqueáveis.

BQM também foi lançado para PC (via Steam, publicado pela Gamera Game) e recentemente chegou ao Nintendo Switch (via Nintendo eShop), pago mas com todos os benefícios da versão mobile PRO inclusos.

O jogo não conta com localização para o Português Brasileiro.
Possui modo multiplayer online (economia e compartilhamento de fases).
Esta análise não contém spoilers.

Enredo

Assim como a maioria dos jogos de seu gênero, BQM -BlockQuest Maker- não procura desenvolver uma grande trama e nem a história de personagens específicos. Em vez disso, fica a proposta de cada jogador elaborar suas próprias histórias para os estágios que cria, além de uma pequena explicação do papel que vamos assumir.

O que sabemos é que somos parte de uma espécie de ciclo produtivo baseado na atividade de aventureiros, onde os bravos o bastante para desbravar masmorras são denominados de DIVERS (MERGULHADORES), e os responsáveis por criar os desafios aos viajantes ganham o título de BUILDERS (CONSTRUTORES). A intermediadora destas atividades atua pelo nome de Builders’s Guild (Guilda dos Construtores), coletando pagamentos de entrada e direcionando os lucros aos BUILDERS.

Não existem muitos outros detalhes e, mais uma vez, as interações do jogador com NPCs ficam por conta da criatividade do criador de cada dungeon. Felizmente, o título oferece funções que permitem evitar que essas interações, quando existentes, fiquem simplórias demais. Nada no nível RPG Maker, mas é possível, por exemplo, fazer com que o diálogo de um personagem mude após uma ação específica ser realizada (opção que não se encontra presente em alguns jogos do estilo). Isso permite, por exemplo, criar NPCs que deem dicas do que o jogador deveria fazer em seguida, além de tornar as conversas um pouco mais dinâmicas.

Não há nada como mandar um SMS no período medieval!

De qualquer forma, a tendência é que as histórias mantenham um teor de simplicidade no estilo dos primeiros RPGs eletrônicos. O meio mais conveniente de criar enredos um pouco mais complexos é a somatória de dungeons de maneira a formar séries. Por isso, não espere encontrar contos com relações desenvolvidas e grandes acontecimentos. O objetivo do game é oferecer experiências “rápidas” também no teor de enredo, ao mesmo tempo em que apresenta o necessário para que elas não acabem limitadas demais.

Vale lembrar que o desenvolvimento de um enredo à sua masmorra é opcional. Você pode manter as coisas simples e criar, por exemplo, um castelo repleto de obstáculos e puzzles ou uma caverna habitada por ciclopes — situações em que a mente e a espada tendem a predominar.

Gameplay

Logo que abrimos o jogo, nos deparamos com o menu principal. Nele, existem três opções em destaque, além de oito botões ao fundo. O primeiro deles é a mina de ouro; onde o jogador pode coletar ouro de tempo em tempo ou minerar pressionando o pedregulho repetidamente. Na versão mobile gratuita, a opção serve para assistir propagandas e conseguir ouro em troca.

A segunda opção, representada pela interação de dois Nintendo Switch, é a Build Box. Nela ficam dungeons criadas pelo jogador, dungeons enviadas à internet e dungeons recebidas de amigos (via “Bluetooth”), assim como a opção de recebê-las, função exclusiva de Nintendo Switch.

Já a terceira opção se trata de um ranking mundial da versão que você está jogando, dividido em três categorias: TOP BUILDER (conforme quantia de vezes que suas dungeons foram jogadas), TOP DIVER (número de dungeons completadas) e Fastest Clear (considerando placares individuais de velocidade de compleção de dungeon).

Em quarto lugar nos botões traseiros, a Builder’s Guild tem como serventia repassar os lucros adquiridos com a sua dungeon e recompensas em ouro por completar números específicos de masmorras como um DIVER. Este ouro adquirido pode ser utilizado no próximo botão, a SHOP. Lá o jogador pode adquirir desde novos blocos para utilizar no editor de dungeons até skins para o seu personagem.

A próxima opção permite salvar o jogo (enviar seus dados ao servidor), e apesar do game já fazer isso automaticamente de tempo em tempo, serve de garantia que você não irá perder seu progresso. Boa parte deste progresso, inclusive, fica disponível para conferir na próxima opção: Profile. Selecionando o ícone, você pode alterar seu nome ingame e conferir dados como número de dungeons jogadas, quantia de mortes e ouro total adquirido assim como uma URL com todas as suas criações.

A última opção traseira, mas não menos importante, é o menu de customização de configurações. Neste menu podemos escolher a língua do jogo, optar por receber dungeons de outras línguas ou não (apesar disso poder ser facilmente alterado no menu de navegação de dungeons), desligar mensagens de morte e controlar o volume da música de fundo e efeitos sonoros independentemente.

Agora que já especificamos a serventia de cada um dos botões traseiros, podemos partir às opções em destaque.

Divers (EXPLORE)

Selecionando EXPLORE, o jogador acessa um novo menu onde pode navegar pelas opções de atuação como DIVER. A primeira delas é o acesso a dungeons oficiais, que infelizmente só resultou em erros de conexão ao longo de todo o tempo de jogo investido para a produção desta análise.

As outras, por sua vez, se tratam de opções de filtro. Você pode checar criações populares, desafios perigosos, tags específicas, seu histórico de jogo, acessar uma dungeon aleatória, pesquisar por uma palavra chave e etc. No topo deste menu, também podemos ver nosso personagem em uma espécie de “jornada em linha”. Toda vez que coletamos um pedaço de carne em uma dungeon, avançamos um pouco nesta linha e coletamos recompensas conforme fazemos isso.

Selecionando uma das opções de filtro, somos levados à tela de navegação pelas dungeons correspondentes às nossas exigências. Os ícones apresentam nome, preview, nome do criador, qualificação e taxa de entrada da dungeon. Escolhendo uma delas acessamos maiores informações, como sua descrição, suas tags, taxa de morte, número de vezes jogada, ranking individual e ID. Também existem as opções de denunciar o BUILDER, favoritá-lo, favoritar a dungeon e qualificá-la (após jogá-la).

Ao apertar PLAY, o jogador é levado à dungeon e pode começar a jogar normalmente. Os desafios apresentados pelas dungeons variam tanto quanto as fases de Super Mario Maker e existem desde fases artísticas a percursos musicais, mini games criados com automatizações, puzzles, push boxes e, inevitavelmente, máquinas de produzir ouro através do extermínio automático de oponentes.

Batalhas não são o ponto forte do título, e geralmente oponentes servem mais de obstáculos e componentes de puzzle como desafios em si, especialmente pelo grande número de corações do jogador. O que costuma ditar o quão interessante uma dungeon é é a forma com que o BUILDER soube aproveitar as funções que o jogo fornece através de seu editor de fases, como a opção de esconder itens em prateleiras, as interações entre os itens em si e, principalmente, os LINKS.

Builders (BUILD)

A mecânica de LINKS é a principal responsável por fazer com que as dungeons apresentem progressões, desafios e, na verdade, qualquer outro tipo de evento que faça com que a masmorra se torne algo além de um retrato enfeitado com inimigos. Selecionando BUILD no menu principal o jogador é levado ao mesmo menu da Friend Box, mas diretamente à aba MYBOX.

Em versões pagas do jogo, é possível manter até 100 dungeons em sua box e manter até 100 dungeons compartilhadas na internet simultaneamente. Na versão gratuita de dispositivos móveis, por sua vez, só é possível manter até 16 criações em sua caixa individual e compartilhar até 12 na internet simultaneamente. Apertando em qualquer slot vazio, uma janela com opção de nomeação, descrição e estipulação de tamanho da dungeon aparece. O tamanho mínimo é 10x10, enquanto o tamanho máximo é 32x32.

Criada a dungeon, você já pode começar a construir o cenário e criar eventos através do uso de LINKS. O editor é bem intuitivo, mas os controles no modo dock não são tão amigáveis e a forma mais prática de editar e criar masmorras é no modo portátil, graças à touchscreen.

As setas amarelas significam que as slimes estão associadas ao portão. Assim, quando todas elas forem derrotadas, o portão se abrirá.

Mesmo uma criança pode conseguir criar desafios mais simples, apesar de uma certa parcela de paciência de qualquer um ser necessária durante o uso de editor. Ainda que amigável, o estilo de jogo requer o investimento de um pouco mais de tempo do que o comum para a elaboração de desafios um pouco mais longos e mais complexos.

Durante o desenvolvimento de mapas um pouco maiores como este, a chance de que um erro ou outro passe despercebido e tenha de ser corrigido depois é relativamente grande.

De qualquer forma, quem quiser assumir somente o papel de DIVER e tiver a intenção de ficar longe das atividades de BUILDER não ficará no completo prejuízo. Completando masmorras de outros jogadores, além de sempre adquirir um valor maior do que o preço da entrada, existem bônus e também é possível acumular ouro através da compleção dos 120 desafios oficialmente disponibilizados pelo jogo na terceira opção destacada no menu principal: Challenge.

Challenge

Dentro da opção Challenge (Desafio) 120 dungeons criadas pelos próprios desenvolvedores do título esperam pelo jogador e oferecem quantias satisfatórias de ouro como recompensa, além de serem bem variadas e divertidas. Diferentemente da opção EXPLORE (exceto pela versão mobile PRO, em que podemos baixar dungeons para jogar offline) o jogador pode fazer proveito dos desafios mesmo quando não tiver conexão com a internet.

Complexidade

Por não se tratar de um jogo de ação e ser originalmente um jogo mobile, os controles de BQM -BlockQuest Maker- são fáceis de entender e dominar. Além disso, é possível trocar entre três perspectivas de visão pressionando o botão do analógico direito: visão periférica padrão (exposta na maioria dos trailers e artes oficiais), visão “2D” no estilo The Legend of Zelda clássico e visão periférica aproximada.

A relação entre DIVERS e BUILDERS (e a intermediação da Adventurer’s Guild citada na seção Enredo) constrói porção expressiva da complexidade do título, através do acúmulo e investimento de ouro na loja como já citado no início da seção Gameplay. Também já falamos da competitividade opcional que o Ranking oferece, então, desta vez aproveitaremos a seção complexidade para abordar uma questão importante.

Cada plataforma conta somente com a coleção de dungeons de sua própria plataforma. Ou seja, não é possível jogar dungeons compartilhadas por jogadores da versão de PC ou mobile no Nintendo Switch, e nem vice-versa. Ainda que a coleção de criações no Nintendo Switch esteja crescendo em um ritmo considerável, considerando que a versão de PC e a versão mobile são as mais antigas, a disponibilização cross-platform das criações dos jogadores seria mais do que interessante e agregadora.

Audiovisual

O minimalismo do design de menus de BQM -BlockQuest Maker- foi uma ótima escolha, especialmente em adição à perspectiva padrão, ao visual geométrico destacado por cores vivas e a pequenos detalhes de modelagem. As animações, ainda que superficiais, fazem o seu papel e as representações pré-renderizadas utilizadas no site original representam de forma fiel a qualidade da arte gráfica encontrada ingame.

Tais características visuais tendem a causar boa impressão em apreciadores retro e admiradores de simplicidade (além de fãs de jogos ao estilo Minecraft e Dragon Quest Builders), mas infelizmente não é possível dizer o mesmo sobre a trilha sonora. Além de pouco variadas, as faixas são curtas, agudas, repetitivas e, consequentemente, irritantes. Existe a opção de desligar a trilha sonora através do menu de configurações disponível dentro do jogo, mas é inevitável cogitar o quanto uma boa trilha sonora e efeitos sonoros mais elaborados poderiam adicionar à experiência.

Aparentemente, o desgosto pela BGM é tão amplo que até o momento não há nenhuma faixa no YouTube que poderíamos utilizar de exemplo. Se você assistir o trailer do jogo e experimentar a versão mobile gratuita, entenderá por si próprio do que se trata.

Desempenho

Não houverem problemas de desempenho no modo portátil e nem no modo dock. Porém, como citado na seção Gameplay, nota-se a indisponibilidade de acesso às dungeons oficiais.

Análise — BQM -BlockQuest Maker- (Switch)

O minimalismo de BQM -BlockQuest Maker- contribui para torná-lo um jogo interessante tanto para jogadores casuais quanto entusiastas dos gêneros maker e RPG. Mesmo apesar de não apresentar características extremamente memoráveis e na verdade até cometer erros (como a trilha sonora monótona) na tentativa de desenvolvê-las, a múltipla serventia de ferramentas e a variedade disponível em sua jogabilidade torna-o digno de seu gênero.

O título combina muito bem especialmente com a conveniência de dispositivos portáteis, porém, considerando a diferença de disponibilidade de dungeons, de preço e de funções entre a versão mobile PRO e as edições de PC e Nintendo Switch, vale esboçar qual delas vale mais a pena para você. Cada uma conta com seus próprios benefícios e malefícios, apresentando a mesma experiência geral, mas suas próprias adversidades que podem se tornar pequenos aborrecimentos ao longo termo. A versão de Switch, por exemplo, apresenta a Friend Box e controles mais confortáveis, mas a versão mobile PRO permite o download de dungeons para aproveitamento offline.

Assim, se você gosta de diversidade criativa e de investir tempo elaborando seus próprios desafios a outros jogadores ao redor do mundo, basta escolher bem a sua versão e aproveitá-la da forma que preferir. Existem diversas dungeons bem pensadas e que valem muito a pena conferir.

Avaliação do jogo segundo o autor da análise: 8/10 — Muito Bom
Análise produzida com cópia digital cedida pela Wonderland Kazkiri inc.

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Rafael Smeers
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Organic Marketing, Neuromarketing & Game Journalism/Localization | MTB 309683