Análise | Catastronauts (Switch)

Junte seus amigos e tente manter sua espaçonave inteira em um caótico e hilariante game cooperativo local no estilo Overcooked.

G. G. Hoffmann
Aventurine Brasil
10 min readJan 30, 2019

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Art © by Inertia Game Studios

Em tempos em que a jogatina online se tornou a norma, é sempre bom nos lembrarmos de uma modalidade dos jogos eletrônicos que velocidade alguma de conexão consegue substituir: o bom e velho “multiplayer de sofá”. Inspirando-se no bem-sucedido Overcooked, que explorou de forma criativa e reavivou nosso interesse por fórmulas novas de jogos casuais ao estilo party (para além daquele Mario Party nosso de cada final de semana, é claro) enfatizando o aspecto cooperativo, Catastronauts é mais uma interessante adição ao subgênero, levando um pouco do caos multitarefas das cozinhas para o cenário das batalhas espaciais.

Desenvolvido e publicado pela Inertia Game Studios, o título foi lançado em setembro de 2018 para PlayStation 4 (via PlayStation Store), Xbox One (via Xbox Live) e PC (via Steam). Pouco tempo depois (em 3 de janeiro de 2019), o título chegou também ao Nintendo Switch (via Nintendo eShop).

O jogo não conta com localização para o Português Brasileiro.
Possui modo multiplayer local.
Esta análise não contém spoilers.

Enredo

Recrutas da catástrofe

Como parte da mais nova leva de recrutas admitidos na Space Fleet, seu papel é o de servir a bordo de uma de suas naves espaciais, seguindo missões de paz e explorando a vastidão do espaço em busca de novas fronteiras.

Quer dizer, essa seria sua função, caso você não tivesse sido “agraciado” com uma surpresa um tanto catastrófica no seu primeiro dia como oficial. Uma invasão de alienígenas escamosos chamados Zastral tirou o comandante Sarge de circulação, e agora ameaça a segurança de toda a pacífica federação.

Cabe agora a você, ao lado de seus colegas recrutas, assumir a posição de um legítimo “catastronauta”, enfrentando batalhas suicidas nas quais as probabilidades se encontram totalmente a favor do adversário. Vale tudo para resgatar Sarge a tempo de virar o jogo contra os Zastral — portanto, “mais pressa e menos perfeição” na execução de suas missões!

Gameplay

Cozinhando mísseis para sobreviver

Nossos corajosos oficiais são forçados a se virar no comando de naves espaciais que teoricamente exigiriam muito mais do que apenas quatro tripulantes para operar em sua total capacidade. Assim, os recrutas devem encontrar soluções criativas para vencer batalhas espaciais contando com equipamentos diversos e sob condições das mais variadas.

A campanha é dividida em 6 hubs, cada qual contando com quatro missões básicas e uma desbloqueável. Os desafios podem ser enfrentados em modalidades de um até quatro jogadores, e contam com uma pontuação em estrelas que avalia o desempenho no cenário em questão. Cada missão consiste em uma batalha 1v1 entre duas naves, cada qual possuindo uma barra de vida que indica seu estado de conservação.

Os controles são básicos e bastante responsivos: controla-se o personagem com o direcional, um botão para corrida, um botão para equipar/desequipar um item e um botão de ação para utilizar um objeto ou o item equipado. No modo single player, o esquema ganha um novo nível de complexidade (e dificuldade), já que controla-se dois personagens alternadamente, com um botão para alternar entre eles.

O objetivo de cada batalha é bastante simples: manter a própria nave inteira e zerar a barra de vida da nave adversária. Menos simples, no entanto, são as estratégias necessárias para se conseguir “se virar” em cada situação. Cada cenário traz variáveis diferentes em jogo, sendo que a campanha faz um bom trabalho em inseri-las gradativamente de forma a facilitar o aprendizado.

As tarefas mais básicas consistem em consertar os danos feitos pelo ataque inimigo e revidar fazendo o uso de armas variadas. Para além de conquistar bons scores superando os desafios em tempos curtos, a dinâmica de corrida contra o tempo envolve o fato de que os danos sofridos vão gerando dano cumulativo à nave aliada, o que implica na necessidade de consertá-los o quanto antes e de contra-atacar com frequência o suficiente para não sair perdendo no balanço final. Assim, o título consegue criar uma dimensão estratégica interessante em cima de um esquema de comandos simples e acessível.

Escolhendo suas armas

Dando suporte ao aspecto estratégico cooperativo está uma seleção de itens e mecânicas que faz um bom uso da ambientação de ficção científica para criar dinâmicas de batalha das mais variadas. Se nas primeiras missões o desafio principal consiste apenas em balancear bem as ações de manutenção e as investidas ofensivas, conforme o jogador avança na campanha os cenários vão tornando esse equilíbrio mais complexo, inserindo passos adicionais nas duas modalidades de ação e perigos espaciais diversos.

A caixa de ferramentas é o equipamento mais básico e versátil, consertando danos que surgem no chão da nave, bem como seus equipamentos variados. Armas, esteiras, pods de clonagem, tanques de cura, teletransportes — praticamente todas as facilidades das naves de guerra podem ser destruídas sob o fogo inimigo e reconstruídas com o uso da valorosa caixinha azul.

Outros utensílios importantes para escapar da destruição completa são os extintores, já que certos ataques causam incêndios que rapidamente desgastam a barra de energia da nave quando não controlados. Além disso, só é possível reparar algo nesses casos após extinguir as chamas. Outros equipamentos incluem um pequeno lança-chamas utilizado para descongelar portas em casos específicos (ou colocar fogo nos seus pobres aliados).

Ao consertar danos estruturais à nave, é possível recuperar um pouco do dano sofrido — outro motivo que faz com que a tarefa de manutenção seja o ponto central de toda partida. Além disso, a tripulação também necessita de atenção: cada recruta possui sua própria barra de vida, e necessita ser “revivido” via aparelho de clonagem caso venha a dar a vida em nome da causa.

Porém, rapidamente se torna claro que apenas investir na manutenção pode forçar os jogadores a acabarem em uma posição puramente defensiva da qual é difícil se recuperar — os inimigos atacam com tudo e mesmo com quatro jogadores é bastante difícil controlar os efeitos dos ataques por completo.

Entra em cena o arsenal da Space Fleet, que conta com diversos modelos de canhões espaciais. Cada arma opera de forma diferente, forçando os jogadores a adotarem uma divisão de tarefas compatível: de disparos simples com tempo de recarga até canhões de disparo alternado que exigem duas pessoas simultaneamente para funcionar, passando por canhões experimentais que causam grande dano ao adversário às custas de superaquecer e causar um incêndio “do lado de cá”.

Algumas armas exigem ainda o manuseio de outros itens e equipamentos: baterias precisam ser trocadas e recarregadas, mísseis ativados e instalados e um poderoso canhão de prótons exige o enriquecimento de um material radioativo altamente explosivo, o qual exige todo o cuidado por parte do recruta. Por fim, uma nova complicação estratégica surge com condições climáticas como os solar flares, que vaporizam qualquer criatura viva que não se isole no abrigo pré-definido a tempo; e os flash freezes, que congelam portas e recrutas incautos, mas cujos efeitos são mais reversíveis.

Essa diversidade torna a experiência bastante dinâmica e variada: quando finalmente “pegamos o jeito” com determinado conjunto de tarefas, o jogo lança uma nova complicação que muda a dinâmica das coisas por completo. Os cenários são bem desenhados, com algumas fases trazendo subdivisões internas que forçam os jogadores a dividirem tarefas e sincronizarem suas ações de formas interessantes.

Complexidade

Guerra no sofá

Embora seja um título relativamente curto, Catastronauts possui um forte fator replay, o qual é garantido tanto pela variedade dos desafios e cenários quanto pelo fator de imprevisibilidade de algumas de suas mecânicas. Dois pontos que depõem levemente contra isso são a pouca variedade visual dos cenários (que podem se tornar repetitivos com o tempo) e o sistema de avaliação do desempenho, o qual leva em conta apenas o tempo, deixando os trios e as duplas em clara desvantagem em comparação aos times de 4 jogadores.

Isso nos leva ao outro aspecto central: ainda que um modo single-player esteja presente, Catastronauts é inegavelmente uma experiência para ser jogada por mais de um jogador. Prova disso é o fato de que o modo para um jogador sofra com uma dificuldade imediatamente mais elevada e uma dinâmica um tanto descompassada — em especial nas fases mais avançadas — , frutos da tentativa de emular a jogabilidade em grupo sob o comando de uma só pessoa.

Além do mais, grande parte do charme do jogo se encontra na forma divertida (e potencialmente hilária) com que as situações vão se formando na luta pela sobrevivência espacial. O fato de ser um jogo de mecânicas exclusivamente cooperativas não significa que Catastronauts promova apenas a amizade e a harmonia entre os jogadores.

Muito pelo contrário: o level design se utiliza engenhosamente de alguns truques para fomentar situações que só não são mais tensas do que engraçadas. Deixar o colega em chamas na tentativa de descongelá-lo, disputas ferrenhas pelo único extintor disponível e o assassinato imediato de todo restante da equipe por parte de um recruta bem-intencionado que abriu a câmara de vácuo para tentar apagar um incêndio incontrolável são algumas das cenas que pontuam a jornada dos catastronautas.

Claro que também merecem destaque as situações cooperativas, com cenários que incentivam o trabalho em equipe de formas bastante interessantes. Por exemplo, o uso dos bunkers que requerem ser fechados pelo lado de dentro força os jogadores a entrarem rapidamente em acordo a respeito de quem conseguirá se safar a tempo — quem calcular mal suas chances de sobreviver pode ser responsável pelo extermínio instantâneo de toda a tripulação.

O jogo traz alguns personagens desbloqueáveis, mas não dá grande destaque para essa função. Além de serem poucas as opções de tripulantes extras, não há a possibilidade de se visualizar a coleção completa ou de se personalizar os avatares para além de uma seleção básica de skins — o que acaba sendo uma oportunidade perdida, pois acrescentaria incentivos aos jogadores para tentarem masterizar os níveis para além da simplicidade do sistema de estrelas.

Audiovisual

Catastronauts aposta em visuais cartunescos simples para recriar um ambiente de ficção científica que evoca principalmente a franquia Star Trek. A escolha garante um atalho eficiente para uma identificação rápida da ambientação, construindo um mundo charmoso o suficiente para sustentar uma jogatina despreocupada — porém não muito mais do que isso. Marcadamente, faz falta uma maior variabilidade de ambientes disponíveis: a aventura é toda pontuada nos tons de cinza metálico das naves, sem explorar as inúmeras possibilidades que o cenário espacial poderia trazer.

Na trilha sonora, temos batidas eletrônicas que caem como uma luva para a ambientação intentada pelo jogo, e cumprem bem sua tarefa mesmo sem se arriscar em tentar uma identidade sonora mais definida. Ainda assim, fazem falta faixas mais aceleradas para dar o tom para as sequências mais frenéticas de ação.

Os ares lúdicos e suaves da aventura, combinados com as expressões dos personagens e o uso contínuo de fala gibberish acabam evocando um pouco do charme da série LittleBigPlanet, porém sem o mesmo carisma emprestado pelas figuras únicas e faixas excepcionais das aventuras de Sackboy.

Desempenho

O game roda muito bem tanto no modo dock quanto no modo portátil. Não foram experienciados quaisquer problemas gráficos, de som ou de desempenho.

Análise — Catastronauts (Switch)

Combinando mecânicas inventivas com jogabilidade simples, eficiente e acessível, Catastronauts consegue ser mais uma boa opção de multiplayer cooperativo ao estilo party game. Enquanto é certo que a opção de um modo online e a adição de mais opções de modos e fases poderia tornar a experiência ainda mais variada e extensa, o jogo cumpre bem tudo o que se propõe a fazer, e vale ser conferido para os que buscam uma jogatina local descompromissada e empolgante.

Avaliação do jogo segundo o autor da análise: 7/10 — Bom
Análise produzida com cópia digital cedida pela Inertia Game Studios.

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