Análise | Cuphead (PC)

Um game tematizado na década de trinta que entrega dificuldade, carisma e uma rica experiência.

Gustavo Maganha Andria
Aventurine Brasil
8 min readOct 3, 2018

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Art © by Studio MDHR

Cuphead é um jogo de plataforma 2D, do estilo shoot’em up, lançado em 29 de setembro de 2017, sendo tematizado e baseado nos desenhos da década de 1930. Faz várias referências aos mesmos através da sua arte e principalmente em sua trilha sonora, que conta com mais de 50 músicas compostas especialmente para o game.

Tem como marca registrada a elevada dificuldade, sendo considerado um dos jogos mais difíceis já feitos na história. Outro ponto importante é sua dublagem, que apresenta poucas vozes, tendo grunhidos e sons como base para a comunicação entre os personagens, o jogador e o ambiente.

Desenvolvido pelo Studio MDHR, dos irmãos Chad e Jared Moldenhauer, e distribuído pela Microsoft Studios, Cuphead é recheado de inspirações trazidas de desenhos antigos e de todo o mundo dos videogames. Está disponível para PC via Steam e para Xbox via Microsoft Store, possuindo a funcionalidade do Xbox Play Anywhere, que permite adquirir o game uma vez e jogá-lo no console ou PC, desde que tenha sido comprado pela loja oficial da Microsoft.

O título não conta com localização para o Português Brasileiro.
Possui modo cooperativo local para dois jogadores.
Esta análise não contém spoilers.

Enredo

Tradução

Don’t deal with the Devil

Well Cuphead and his pal Mugman
They like to roll the dice
By chance they came
On Devil’s game
And gosh they paid the price
(Paid the price)
And now they’re fighting
For their lives
On a mission fraught with dread
And if they proceed
But don’t succeed
Well, the Devil will take their heads

A música tocada no menu de Cuphead resume perfeitamente do que se trata a história do jogo. Cuphead e seu amigo, Mugman, gostavam muito de apostar e acabaram no cassino que pertencia ao Devil, vilão principal do game. Ao ver os personagens em uma série de vitórias, Devil resolve enganá-los e os faz assinar um contrato que garantiria a alma dos dois “garotos” caso perdessem.

Desesperados após perderem suas almas, Cuphead e Mugman imploraram ao Devil por misericórdia. O mesmo lhes prometeu isso, caso fossem até as Inkwell Isles, cenário onde se passa o game, e coletassem as almas dos devedores do diabo. Os dois amigos então partiram em uma jornada para derrotar cada um dos adversários e se livrarem da encrenca de uma vez por todas.

Gameplay

Introdução → A jogabilidade de Cuphead é bem simples, tendo poucas mecânicas e garantindo que o jogador a domine nas primeiras horas. O personagem controlado é sempre Cuphead (vermelho). Mugman é controlado pelo player 2, caso o game seja jogado em modo coop.
A estratégia básica é atirar sempre e usar com cautela o dash, que permite ao jogador realizar esquivas em momentos certos. Apresenta uma mecânica de parry, que age como um contra-ataque que só pode ser realizado em meio à um pulo e é indicado pela cor rosa, seja em um inimigo, projétil ou parte do cenário. Caso o parry seja utilizado no companheiro que morreu em coop, o mesmo é revivido com 1 HP.

Poder de fogo → Cuphead possui um tiro primário (Shot-A), um tiro secundário (Shot-B), uma habilidade passiva (Charm) e um Super art. Essas habilidades são totalmente customizáveis e podem ser adquiridas completando certas fases do jogo ou na loja Porkrind’s Emporium. Cada tiro possui uma característica única, sendo necessário formular uma estratégia e decidir qual usar em determinado momento. O mesmo vale para a habilidade passiva e para o Super Art, que fortalecem a combinação do personagem em Cuphead e garantem um maior sucesso durante as fases. Para utilizar tiros secundários e o Super Art, o jogador deve gastar EX charges, acumuladas pelo sucesso de técnicas parry e pelo dano constante a inimigos.
Tudo que está equipado no momento pode ser visto em uma ficha do personagem, juntamente com as fases que faltam para avançar de ilha (List).

Fases → O jogo é dividido em fases, que estão localizadas nas Inkwell Isles (I,II,III e Hell). Elas são divididas em três tipos, Run’n’Gun, Boss Fight e Mausoleum, cada uma delas com inimigos e chefes únicos e uma belíssima trilha sonora composta especialmente para aquele cenário/inimigo. Para acessar essas fases o jogador deve transitar pelo mapa interativo do jogo, que possui NPCs para se conversar, moedas escondidas e lojas. Ao final de cada fase os jogadores são levados a uma tela em que ganham uma nota, que serve para acompanharem o seu rendimento e para adquirirem as conquistas (achievements).

  • Run’n’Gun: fase que consiste em, como sugere o nome, correr e atirar. Cuphead deve seguir pelo cenário, derrotando e desviando dos inimigos, para assim chegar até a conclusão e receber um “Bravo!”. É possível coletar até cinco moedas em cada uma dessas fases, sendo essas utilizadas na loja do game. Essas fases são, em sua maioria, um pouco frustrantes, não chegando aos pés do que representam as lutas contra chefes. Porém, são necessárias para o devido upgrade durante o gameplay.
  • Boss Fight: as lutas contra os chefes são a alma do game, literalmente. Cada chefe possui características únicas e é necessário derrotar todos em uma ilha para poder seguir para a próxima. O recomendado a fazer é se adaptar a cada chefe, pegar seus padrões e esquemas e não ficar frustrado em falhar, pois isso é comum em Cuphead. Cada Boss Fight conta com linha de diálogos iniciais simplesmente fantásticas e todas as lutas são terminadas com um “A KNOCKOUT!”, fatores que evidenciam o cuidado que os desenvolvedores tiveram com a produção de cada detalhe inserido no game.
    Tendo pouquíssimas lutas injustas, o ponto alto do jogo fica por conta dessas fases, que apresentam chefões apaixonantes e trilhas sonoras lindíssimas que variam de acordo com o adversário que se está enfrentando. Tudo depende do quão familiar você está com o chefe e suas estratégias e o quanto você se empenha em cada tentativa, tornando a vitória extremamente recompensadora.
  • Mausoleum: existem três Mausoleums no jogo e cada um recompensa o jogador com um Super Art, que é uma espécie de habilidade suprema. Essa fase baseia-se em defender uma urna, utilizando de somente a mecânica de parry para evitar que fantasmas toquem no objeto sagrado. Apesar de serem excessivamente fáceis, os Mausoleums fogem do padrão da gameplay de Cuphead, nos apresentando a uma fase mais “calma” e igualmente necessária.

Porkrind’s Emporium → referência direta à Wonder Boy 3: The Dragon’s Trap, lançado em 1989 para o Master System, Porkrind’s Emporium age como a loja do game, onde o jogador pode adquirir novos tiros e habilidades passivas com as moedas que coleta durante as fases Run’n’Gun.

Complexidade

Uma palavra que define muito bem Cuphead é “desafiador”. O jogo testa os limites dos jogadores na medida em que os obriga a repetirem a mesma fase diversas vezes para que a realizem da forma mais perfeita possível. Apesar dessa característica estar presente em diversos outros jogos, como Dark Souls e até Super Mario, Cuphead eleva o praticar à um grau mais elevado, exigindo muito do jogador, pois é difícil como um todo.

Com a sua divisão em ilhas, que correspondem aos mundos do jogo, fica praticamente impossível avançar sem ter completado todas as fases do lugar, fazendo assim com que o player sempre almeje vencer até mesmo aquela fase que gastou horas e horas e não conseguiu nada. A maioria das fases são agradáveis por serem únicas, sendo cada uma composta por seus tipos específicos de inimigos (sejam eles chefes ou NPCs inimigos comuns) e por um modelo e estratégia exclusivo, podendo ser mais veloz, mais cadenciada ou exigir reações e decisões rápidas.
Cuphead pede, acima de tudo, muita paciência e persistência, pois tem a dificuldade como uma aliada à sua geniosidade.

Audiovisual

Nesse quesito, não tem como Cuphead não ganhar o coração de quem joga. O visual do jogo é impecável. Totalmente tematizado em desenhos antigos, Cuphead usa a criatividade para trazer chefes, fases, inimigos e ambientações de cenário de cair o queixo, cada um com sua característica própria e contando com diversas (diversas MESMO) referências aos mais variados assuntos da cultura Pop, Geek, Gamer, Cinema, etc.

Quanto à trilha sonora, o título conta com mais de 50 músicas, sendo a maioria exclusiva para cada cenário/fase. Todas encaixam perfeitamente com a temática retrô do game. Com absoluta certeza é um dos mais belos conjuntos de trilhas sonoras que compõem um jogo, servindo de reforço para a qualidade que Cuphead possui.

Desempenho

O jogo não apresentou problemas de queda de frames ou travamentos que atrapalhassem a jogatina na versão de PC. Possui um loading inicial com um tempo comum (cerca de 10 segundos), mas seu diferencial fica por conta dos loadings dentro das fases. Como dito anteriormente, Cuphead baseia-se no erro e na persistência, e isso exige algo que o game entrega de forma perfeita: loadings rápidos para reiniciar as fases. Durando pouco mais de 2 segundos, esses carregamentos ajudam a não frustrar o jogador, fazendo-o esperar pouco tempo para tentar mais uma vez.

Versão utilizada na análise: Build 2378908 / Hotfix 1.1.4

Análise — Cuphead (PC)

Cuphead é um game com um visual retrô tematizado nos desenhos antigos, especialmente os da década de 30. Conta com uma belíssima trilha sonora e diversas fases divertidas, que geram um sentimento grande de recompensa quando completas.

Leva até os players um elevado nível de dificuldade e pede aos mesmos que tentem várias vezes, para que assim consigam superar cada obstáculo colocado no caminho. Ser muito difícil não é um ponto negativo, pelo contrário, faz com que Cuphead tenha uma característica única de parecer inofensivo, mas possuir grande complexidade por trás.

Fases boas, visual ótimo, trilha sonora marcante, desempenho fluído e uma dificuldade que se alia à proposta do game. É indicado para fãs do gênero plataforma, para entusiastas da dificuldade e para os gamers em geral, visto que não merece ser deixado de lado. Exige um desafio além do enfrentado em outros jogos, sendo isso um filtro para alguns jogadores.

Cuphead é não só um dos melhores indies disponíveis no mercado, como também um dos melhores games já lançados nos últimos anos, levando consigo o desafio e a diversão.

Avaliação do jogo segundo o autor da análise: 10/10 — Inigualável
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio autor.

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