Análise | House Flipper + DLCs (PC)
Tenha o seu próprio negócio de reforma de moradias em um simulador que funciona de ótimo passatempo, mas que comete erros básicos.
Lançado em 17 de maio de 2018, House Flipper é um jogo independente desenvolvido pela Empyrean Games e publicado pela PlayWay S.A. (responsável por Car Mechanic Simulator). Categorizado nos gêneros indie e simulação, o título tem como objetivo abordar a prestação de serviços de decoração, limpeza e reforma de moradias, além da revenda de casas construídas para indivíduos específicos.
House Flipper está disponível para aquisição via Steam (PC/macOS) e conta com um pacote gratuito de conteúdo denominado de Apocalypse Flipper. O game não tem modo multiplayer.
O título conta com localização (somente texto) para o Português Brasileiro.
Esta análise não contém spoilers.
Enredo
Por tratar-se não só de um simulador, mas especificamente de um simulador de reforma de moradias, dificilmente deveríamos esperar uma grande trama e muitos detalhes contextuais. O enredo de House Flipper segue o modelo de outros simuladores, contando o trajeto profissional do protagonista (controlado pelo jogador) e focando na construção das características de cada cliente e cada serviço.
O personagem controlado pelo jogador não se trata de uma pessoa específica, dando a entender que se trata do próprio jogador. Existem, basicamente, três pontos diferentes que contribuem para o desenvolvimento do enredo do título: e-mails de requisição de serviços, os 13 interessados na compra de imóveis, e a compra de casas abandonadas.
Começando pelos e-mails de requisição de serviços, o jogador encontra pessoas com gostos (e inevitavelmente) necessidades diferentes em cada mensagem. Durante o descrever de quais serviços precisam, estes personagens criam situações cômicas e contribuem para que cada serviço tenha um propósito maior, posando de incentivo para que o jogador continue. Indo um pouco além da briga de vizinhos invejosos e super-humanos capazes de sujar os cantos mais improváveis da parede, a localização para o Português brasileiro adapta o nome de clientes para versões nos moldes de The Sims e merece pelo bom trabalho em manter o teor humorístico o mais intacto possível.
Os 13 interessados na compra de imóveis (e listados na aba “Compradores” do tablet), por sua vez, constituem a mecânica de venda de casas através de gostos e desgostos. Inicialmente, o jogador sabe muito pouco sobre cada um deles, e depende de detalhes mínimos para conseguir uma boa venda logo de cara. Entre os negociantes, temos figuras como um inspetor fiscal, um personal trainer, um casal de aposentados e até um ex-estrategista militar.
Por último, mas não menos importante, a compra de casas abandonadas atua na construção do enredo através do histórico da construção e de segredos misteriosos. Tratam-se em sua maioria de pequenas descrições ou simplesmente do nome do anúncio do imóvel, mas são pequenos detalhes que contribuem para a contextualização de uma ação que poderia se tornar mecânica demais com o passar do tempo.
E caso você tenha ficado em dúvida, não é possível cometer atos de vandalismo como a venda não autorizada dos móveis de outras pessoas, pois o personagem alega não ser “este tipo de pessoa”. Como dito no começo da categoria, o enredo de House Flipper é formado por situações memoráveis e não conta com um grande objetivo. Porém, trata-se do suficiente para complementar o ponto principal do gênero: a jogabilidade.
Gameplay
A jogabilidade de House Flipper envolve a execução das mais diversas práticas que podem aparecer durante a reforma de um imóvel. Entre estas práticas, estão:
→ Conserto de tomadas e saídas elétricas;
→ Pintura e ladrilhagem de paredes/“carpetização” e ladrilhagem de pisos;
→ Construção e demolição de paredes;
→ Instalação de saídas de encanamento (não há interação direta com o encanamento e redes elétricas em si);
→ Montagem de dispositivos como aquecedor e ar-condicionado;
→ Montagem de privadas, máquinas de lavar, pias e chuveiros;
→ Correção de imperfeições nas paredes através do uso de massa corrida;
→ “Instalação” de portas (não é necessário montá-las);
→ Limpeza e decoração de cômodos;
→ Destruição de ninhos de barata (o jogador pode substituir as baratas por cacos de vidro nas opções do jogo caso preferir).
Agora que já citamos o que pode ser feito no simulador, é importante que saiba que não existem interações com o jardim, com o teto e telhado e nem a possibilidade de aumentar o tamanho de cômodos ou da casa em si ao espaço do jardim. Isto é, só é possível reorientar as paredes dentro do espaço já ocupado pelo imóvel. Ambos os fatores acabam por decepcionar e diminuir consideravelmente as possibilidades do simulador. Agora, vamos ao trabalho.
Para realizar cada uma das atividades citadas nos tópicos, o jogador deve utilizar ferramentas específicas, automaticamente disponibilizadas ao chegar no imóvel. Conforme o jogador utiliza cada uma dessas ferramentas, são adquiridos pontos de melhoria para gastar (na aba Melhorias do tablet) em vantagens como maior área de alcance e agilidade de execução. Os pontos de melhoria se tornam cada vez mais difíceis de adquirir, e apesar de ajudarem muito, não desbalanceiam os serviços.
Além do tablet, que permite também a compra (e recebimento instantâneo) de materiais, a visualização de negociantes de imóveis e das estatísticas de jogo, o jogador conta com um GPS (que indica a localização de sujeira e onde devem ser feitas mudanças) no canto superior direito da tela, acompanhado de um instrutor de texto que indica o que deve ser feito para completar o serviço aceito por e-mail (acessado através de um notebook disponível no escritório do jogador).
O jogador não é obrigado a terminar 100% do serviço, porém, para completar o pedido, precisa atingir uma porcentagem mínima indicada na barra de progresso. Se completar todos os requisitos do serviço, o jogador ganha um bônus em dinheiro. Também é possível repetir missões/pedidos anteriores através da aba “Arquivo” no e-mail.
As atividades, em sua maioria, requerem clicar nos materiais que serão utilizados e depois segurar o botão M1 para realizar uma ação. Segurando o botão M2, uma roda com todas as ferramentas disponíveis aparece para facilitar a transição ao jogador. A ferramenta mais diferente é o aspirador de pó, que só pode ser utilizado quando o jogador tiver um ninho de baratas em vista.
A área de alcance do aspirador de pó varia conforme a sua animação, e por vezes se torna até desafiador sugar uma barata grudada na parede (soa incomum, mas acontece frequentemente). A própria mecânica em si atua de forma interessante, ao ponto em que algumas baratas/alguns cacos de vidro ficam por trás de móveis, os quais o jogador então tem de mover para alcançar a parede ou o chão.
Melhor especificando, o jogador pode realizar dois tipos diferentes de trabalho livremente (basta ter o dinheiro necessário): completar serviços recebidos por e-mail (que ao todo somam em 19), e/ou comprar casas abandonadas/detonadas para revender. A compra e reforma de casas abandonadas para revenda é o foco do título, enquanto os serviços atuam como uma espécie de tutorial e uma fonte inicial de dinheiro.
Pressionando ESC em uma nova casa (que seja propriedade do jogador), é possível mover o escritório. Enquanto o jogador não mover o escritório para o imóvel em que se encontra, o jogo entenderá que se trata de uma casa em processo de reforma para revenda, fornecendo a opção de analisar os gastos realizados até o momento, além das opiniões em tempo real de cada negociante sobre a casa que você está reformando.
Ao completar a reforma, o jogador pode começar um leilão, onde negociantes interessados disputarão a compra do imóvel. O negociante que ganhará o leilão é sempre aquele para o qual a casa está mais adequada. Apesar da primeira venda ser difícil por causa da falta de informações sobre os gostos de cada negociante, a primeira venda garante instantaneamente informações de todos os negociantes à aba “Compradores” do tablet.
House Flipper adota casas nos modelos norte-americanos e europeus, e se afasta bastante do modelo da franquia Viscera Cleanup Detail, que procura frustrar o jogador com o espalhamento da sujeira pelos pés dos personagens. Não existem muitos desafios técnicos (intencionalmente ou não), e mesmo a montagem de chuveiros e o conserto de tomadas ocorrem através de puzzles simples em que o jogador deve clicar em partes específicas para progredir no objetivo.
Além disso, não existem serviços em que o jogador tenha de se preocupar com os gastos que terá. Alguns dos pedidos são longos, mas é possível salvar o progresso retornando para o escritório. Por diversos motivos (como o de a mesma vassoura que limpa privadas limpar fogões e a falta de uma simulação de marcas), House Flipper se afasta do realismo, e oferece uma experiência mais “arcade” ao invés.
O maior problema do título é, sem dúvida alguma, a indisponibilidade de funções simples e essenciais (como uma opção de centralização e rotação de móveis por grade), que inclusive estão disponíveis por exemplo em MMORPGs com sistemas de moradia. Móveis e quadros frequentemente ficam tortos, e não há muito esforço que resolva. Considerando que o título se trata de um simulador de moradias e por tanto dedica-se inteiramente ao tema, estas ausências não deveriam acontecer.
Em vezde um simulador interessante para os entusiastas de construção, reforma e decoração de imóveis, House Flipper acaba por ser simplesmente um bom passatempo. E mesmo neste fator, o jogo peca ao ponto em que não tem suporte ao Steam Workshop, uma possibilidade que aumentaria e muito o fator de rejogabilidade do título, seja com missões feitas por jogadores, exposições de casas ou até móveis customizados. Um modo multiplayer também faz falta, e apesar de merecer destaque e não contar com títulos ou franquias concorrentes ainda, o game poderia assegurar o posto de melhor simulador de moradias se não fosse pela indisponibilidade de funções como a expansão de casas e interações com o jardim.
Vale notar que o título ainda conta com atualizações de conteúdo, que por exemplo recentemente adicionaram saunas ao jogo. Quem sabe uma atualização de jardinagem não está por vir?
Complexidade
A parte mais complexa de House Flipper se encontra no sistema de negociantes e de revendas de casa, além de alguns easter eggs em determinadas casas e serviços. Existe um achievement por vender uma casa para cada negociante, além de outros que envolvem o acúmulo de dinheiro e a descoberta de segredos.
O maior incentivo para gastar tempo de jogo além dos serviços por e-mail é a customização de casas por diversão. E infelizmente, não existe um modo Sandbox, ou seja, acesso fácil para fazer isso. Mesmo que queira só investir algum tempo na customização de um imóvel, o jogador terá de fazer isso através de sua próprio save, e com dinheiro limitado.
Audiovisual
Com uma trilha sonora apropriada e texturas muito bem detalhadas, House Flipper não deixa a desejar no quesito audiovisual. A iluminação e o ciclo dia e noite do simulador criam cenários realistas, e adicionam um charme especial à noite.
A interface do título, por sua vez, cumpre sua função e não gera complicações desnecessárias. Os modelos de móveis e até de pequenas peças também são muito bem detalhados. Os únicos pontos negativos da apresentação audiovisual de House Flipper são algumas animações estranhas (como a que acontece ao utilizar a vassoura/o esfregão) e a ausência de alguns efeitos sonoros.
Desempenho
Durante nossas aventuras no título, encontramos dois problemas de desempenho (mesmo em um computador acima dos requisitos recomendados). O primeiro se trata de quedas significativas de frame rate (FPS) ao utilizar a ferramenta vassoura/esfregão olhando para baixo. O segundo, por sua vez, são as telas de carregamento, que algumas vezes demoram muito e (em algumas situações mais raras) podem até ocasionar fechamentos inusitados.
Versão utilizada na análise: v1.07 07.08.2018
Análise — House Flipper (PC)
House Flipper conta com conteúdo o suficiente para, quem sabe, até algumas centenas de horas de jogo. Enquanto as customizações já disponíveis no jogo permitem a criação de belos cômodos, estranhezas como a impossibilidade de fechar e abrir persianas são só fatores secundários à indisponibilidade de ações no jardim e da livre expansão de imóveis em seus terrenos.
Ainda assim, os 19 serviços disponíveis ao jogador garantem algumas risadas e uma boa iniciação ao uso de cada ferramenta. Frente a poucas alternativas de simulação de construção e reforma de moradias, o título se torna a melhor opção ao jogador mesmo apesar de suas imperfeições. Por agora (ou até que um concorrente dê as caras), nos resta esperar que o jogo continue sendo aprimorado através de atualizações de conteúdo, para que um dia possamos nomeá-lo um “simulador definitivo”.
Avaliação do jogo segundo o autor da análise: 7/10 — Bom
Análise produzida com cópia digital cedida pela Empyrean Games.
Atualização: Uma expansão de jardinagem foi confirmada pela desenvolvedora e novas ferramentas estão sendo adicionadas através de atualizações gratuitas.
Conteúdo adicional
Apocalypse Flipper (Gratuito)
A expansão “Apocalypse Flipper” adiciona ao simulador cinco novas casas com bunker, 40 itens tematizados, duas novas missões e três novos negociantes com preferências únicas. Trata-se de uma adição interessante, e a maioria dos itens tematizados podem ser utilizados fora de bunkers sem destoar do cenário.
Os bunkers posam de um diferente desafio, ao ponto em que exigem a boa utilização de espaço pelo jogador. Ao final das contas, o pacote de conteúdo aborda um novo tema e contribui para expandir gratuitamente o que pode ser feito no simulador.