Análise | House Flipper + DLCs (PC)

Tenha o seu próprio negócio de reforma de moradias em um simulador que funciona de ótimo passatempo, mas que comete erros básicos.

Rafael Smeers
Aventurine Brasil
10 min readSep 10, 2018

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Art © by Empyrean Games

Lançado em 17 de maio de 2018, House Flipper é um jogo independente desenvolvido pela Empyrean Games e publicado pela PlayWay S.A. (responsável por Car Mechanic Simulator). Categorizado nos gêneros indie e simulação, o título tem como objetivo abordar a prestação de serviços de decoração, limpeza e reforma de moradias, além da revenda de casas construídas para indivíduos específicos.

House Flipper está disponível para aquisição via Steam (PC/macOS) e conta com um pacote gratuito de conteúdo denominado de Apocalypse Flipper. O game não tem modo multiplayer.

O título conta com localização (somente texto) para o Português Brasileiro.
Esta análise não contém spoilers.

Enredo

Por tratar-se não só de um simulador, mas especificamente de um simulador de reforma de moradias, dificilmente deveríamos esperar uma grande trama e muitos detalhes contextuais. O enredo de House Flipper segue o modelo de outros simuladores, contando o trajeto profissional do protagonista (controlado pelo jogador) e focando na construção das características de cada cliente e cada serviço.

O personagem controlado pelo jogador não se trata de uma pessoa específica, dando a entender que se trata do próprio jogador. Existem, basicamente, três pontos diferentes que contribuem para o desenvolvimento do enredo do título: e-mails de requisição de serviços, os 13 interessados na compra de imóveis, e a compra de casas abandonadas.

Começando pelos e-mails de requisição de serviços, o jogador encontra pessoas com gostos (e inevitavelmente) necessidades diferentes em cada mensagem. Durante o descrever de quais serviços precisam, estes personagens criam situações cômicas e contribuem para que cada serviço tenha um propósito maior, posando de incentivo para que o jogador continue. Indo um pouco além da briga de vizinhos invejosos e super-humanos capazes de sujar os cantos mais improváveis da parede, a localização para o Português brasileiro adapta o nome de clientes para versões nos moldes de The Sims e merece pelo bom trabalho em manter o teor humorístico o mais intacto possível.

Tudo pela segurança da sogra de Marcos.

Os 13 interessados na compra de imóveis (e listados na aba “Compradores” do tablet), por sua vez, constituem a mecânica de venda de casas através de gostos e desgostos. Inicialmente, o jogador sabe muito pouco sobre cada um deles, e depende de detalhes mínimos para conseguir uma boa venda logo de cara. Entre os negociantes, temos figuras como um inspetor fiscal, um personal trainer, um casal de aposentados e até um ex-estrategista militar.

Por último, mas não menos importante, a compra de casas abandonadas atua na construção do enredo através do histórico da construção e de segredos misteriosos. Tratam-se em sua maioria de pequenas descrições ou simplesmente do nome do anúncio do imóvel, mas são pequenos detalhes que contribuem para a contextualização de uma ação que poderia se tornar mecânica demais com o passar do tempo.

E caso você tenha ficado em dúvida, não é possível cometer atos de vandalismo como a venda não autorizada dos móveis de outras pessoas, pois o personagem alega não ser “este tipo de pessoa”. Como dito no começo da categoria, o enredo de House Flipper é formado por situações memoráveis e não conta com um grande objetivo. Porém, trata-se do suficiente para complementar o ponto principal do gênero: a jogabilidade.

Gameplay

A jogabilidade de House Flipper envolve a execução das mais diversas práticas que podem aparecer durante a reforma de um imóvel. Entre estas práticas, estão:

Conserto de tomadas e saídas elétricas;
Pintura e ladrilhagem de paredes/“carpetização” e ladrilhagem de pisos;
Construção e demolição de paredes;
Instalação de saídas de encanamento (não há interação direta com o encanamento e redes elétricas em si);
Montagem de dispositivos como aquecedor e ar-condicionado;
Montagem de privadas, máquinas de lavar, pias e chuveiros;
Correção de imperfeições nas paredes através do uso de massa corrida;
“Instalação” de portas (não é necessário montá-las);
Limpeza e decoração de cômodos;
Destruição de ninhos de barata (o jogador pode substituir as baratas por cacos de vidro nas opções do jogo caso preferir).

“Se você for uma pessoa com katsaridaphobia (medo de baratas), você pode substituir baratas por cacos de vidro nas opções gerais do jogo.”

Agora que já citamos o que pode ser feito no simulador, é importante que saiba que não existem interações com o jardim, com o teto e telhado e nem a possibilidade de aumentar o tamanho de cômodos ou da casa em si ao espaço do jardim. Isto é, só é possível reorientar as paredes dentro do espaço já ocupado pelo imóvel. Ambos os fatores acabam por decepcionar e diminuir consideravelmente as possibilidades do simulador. Agora, vamos ao trabalho.

Para realizar cada uma das atividades citadas nos tópicos, o jogador deve utilizar ferramentas específicas, automaticamente disponibilizadas ao chegar no imóvel. Conforme o jogador utiliza cada uma dessas ferramentas, são adquiridos pontos de melhoria para gastar (na aba Melhorias do tablet) em vantagens como maior área de alcance e agilidade de execução. Os pontos de melhoria se tornam cada vez mais difíceis de adquirir, e apesar de ajudarem muito, não desbalanceiam os serviços.

Além do tablet, que permite também a compra (e recebimento instantâneo) de materiais, a visualização de negociantes de imóveis e das estatísticas de jogo, o jogador conta com um GPS (que indica a localização de sujeira e onde devem ser feitas mudanças) no canto superior direito da tela, acompanhado de um instrutor de texto que indica o que deve ser feito para completar o serviço aceito por e-mail (acessado através de um notebook disponível no escritório do jogador).

O jogador não é obrigado a terminar 100% do serviço, porém, para completar o pedido, precisa atingir uma porcentagem mínima indicada na barra de progresso. Se completar todos os requisitos do serviço, o jogador ganha um bônus em dinheiro. Também é possível repetir missões/pedidos anteriores através da aba “Arquivo” no e-mail.

As atividades, em sua maioria, requerem clicar nos materiais que serão utilizados e depois segurar o botão M1 para realizar uma ação. Segurando o botão M2, uma roda com todas as ferramentas disponíveis aparece para facilitar a transição ao jogador. A ferramenta mais diferente é o aspirador de pó, que só pode ser utilizado quando o jogador tiver um ninho de baratas em vista.

A área de alcance do aspirador de pó varia conforme a sua animação, e por vezes se torna até desafiador sugar uma barata grudada na parede (soa incomum, mas acontece frequentemente). A própria mecânica em si atua de forma interessante, ao ponto em que algumas baratas/alguns cacos de vidro ficam por trás de móveis, os quais o jogador então tem de mover para alcançar a parede ou o chão.

Melhor especificando, o jogador pode realizar dois tipos diferentes de trabalho livremente (basta ter o dinheiro necessário): completar serviços recebidos por e-mail (que ao todo somam em 19), e/ou comprar casas abandonadas/detonadas para revender. A compra e reforma de casas abandonadas para revenda é o foco do título, enquanto os serviços atuam como uma espécie de tutorial e uma fonte inicial de dinheiro.

Pressionando ESC em uma nova casa (que seja propriedade do jogador), é possível mover o escritório. Enquanto o jogador não mover o escritório para o imóvel em que se encontra, o jogo entenderá que se trata de uma casa em processo de reforma para revenda, fornecendo a opção de analisar os gastos realizados até o momento, além das opiniões em tempo real de cada negociante sobre a casa que você está reformando.

Ao completar a reforma, o jogador pode começar um leilão, onde negociantes interessados disputarão a compra do imóvel. O negociante que ganhará o leilão é sempre aquele para o qual a casa está mais adequada. Apesar da primeira venda ser difícil por causa da falta de informações sobre os gostos de cada negociante, a primeira venda garante instantaneamente informações de todos os negociantes à aba “Compradores” do tablet.

House Flipper adota casas nos modelos norte-americanos e europeus, e se afasta bastante do modelo da franquia Viscera Cleanup Detail, que procura frustrar o jogador com o espalhamento da sujeira pelos pés dos personagens. Não existem muitos desafios técnicos (intencionalmente ou não), e mesmo a montagem de chuveiros e o conserto de tomadas ocorrem através de puzzles simples em que o jogador deve clicar em partes específicas para progredir no objetivo.

Além disso, não existem serviços em que o jogador tenha de se preocupar com os gastos que terá. Alguns dos pedidos são longos, mas é possível salvar o progresso retornando para o escritório. Por diversos motivos (como o de a mesma vassoura que limpa privadas limpar fogões e a falta de uma simulação de marcas), House Flipper se afasta do realismo, e oferece uma experiência mais “arcade” ao invés.

A lanterna é uma ferramenta muito útil para a visualização de sujeira em cantos escuros e para a montagem de pequenas peças.

O maior problema do título é, sem dúvida alguma, a indisponibilidade de funções simples e essenciais (como uma opção de centralização e rotação de móveis por grade), que inclusive estão disponíveis por exemplo em MMORPGs com sistemas de moradia. Móveis e quadros frequentemente ficam tortos, e não há muito esforço que resolva. Considerando que o título se trata de um simulador de moradias e por tanto dedica-se inteiramente ao tema, estas ausências não deveriam acontecer.

Em vezde um simulador interessante para os entusiastas de construção, reforma e decoração de imóveis, House Flipper acaba por ser simplesmente um bom passatempo. E mesmo neste fator, o jogo peca ao ponto em que não tem suporte ao Steam Workshop, uma possibilidade que aumentaria e muito o fator de rejogabilidade do título, seja com missões feitas por jogadores, exposições de casas ou até móveis customizados. Um modo multiplayer também faz falta, e apesar de merecer destaque e não contar com títulos ou franquias concorrentes ainda, o game poderia assegurar o posto de melhor simulador de moradias se não fosse pela indisponibilidade de funções como a expansão de casas e interações com o jardim.

Vale notar que o título ainda conta com atualizações de conteúdo, que por exemplo recentemente adicionaram saunas ao jogo. Quem sabe uma atualização de jardinagem não está por vir?

Complexidade

A parte mais complexa de House Flipper se encontra no sistema de negociantes e de revendas de casa, além de alguns easter eggs em determinadas casas e serviços. Existe um achievement por vender uma casa para cada negociante, além de outros que envolvem o acúmulo de dinheiro e a descoberta de segredos.

O maior incentivo para gastar tempo de jogo além dos serviços por e-mail é a customização de casas por diversão. E infelizmente, não existe um modo Sandbox, ou seja, acesso fácil para fazer isso. Mesmo que queira só investir algum tempo na customização de um imóvel, o jogador terá de fazer isso através de sua próprio save, e com dinheiro limitado.

Audiovisual

Com uma trilha sonora apropriada e texturas muito bem detalhadas, House Flipper não deixa a desejar no quesito audiovisual. A iluminação e o ciclo dia e noite do simulador criam cenários realistas, e adicionam um charme especial à noite.

A interface do título, por sua vez, cumpre sua função e não gera complicações desnecessárias. Os modelos de móveis e até de pequenas peças também são muito bem detalhados. Os únicos pontos negativos da apresentação audiovisual de House Flipper são algumas animações estranhas (como a que acontece ao utilizar a vassoura/o esfregão) e a ausência de alguns efeitos sonoros.

Desempenho

Durante nossas aventuras no título, encontramos dois problemas de desempenho (mesmo em um computador acima dos requisitos recomendados). O primeiro se trata de quedas significativas de frame rate (FPS) ao utilizar a ferramenta vassoura/esfregão olhando para baixo. O segundo, por sua vez, são as telas de carregamento, que algumas vezes demoram muito e (em algumas situações mais raras) podem até ocasionar fechamentos inusitados.

Versão utilizada na análise: v1.07 07.08.2018

Análise — House Flipper (PC)

House Flipper conta com conteúdo o suficiente para, quem sabe, até algumas centenas de horas de jogo. Enquanto as customizações já disponíveis no jogo permitem a criação de belos cômodos, estranhezas como a impossibilidade de fechar e abrir persianas são só fatores secundários à indisponibilidade de ações no jardim e da livre expansão de imóveis em seus terrenos.

Ainda assim, os 19 serviços disponíveis ao jogador garantem algumas risadas e uma boa iniciação ao uso de cada ferramenta. Frente a poucas alternativas de simulação de construção e reforma de moradias, o título se torna a melhor opção ao jogador mesmo apesar de suas imperfeições. Por agora (ou até que um concorrente dê as caras), nos resta esperar que o jogo continue sendo aprimorado através de atualizações de conteúdo, para que um dia possamos nomeá-lo um “simulador definitivo”.

Avaliação do jogo segundo o autor da análise: 7/10 — Bom
Análise produzida com cópia digital cedida pela Empyrean Games.

Atualização: Uma expansão de jardinagem foi confirmada pela desenvolvedora e novas ferramentas estão sendo adicionadas através de atualizações gratuitas.

Conteúdo adicional

Apocalypse Flipper (Gratuito)

A expansão “Apocalypse Flipper” adiciona ao simulador cinco novas casas com bunker, 40 itens tematizados, duas novas missões e três novos negociantes com preferências únicas. Trata-se de uma adição interessante, e a maioria dos itens tematizados podem ser utilizados fora de bunkers sem destoar do cenário.

Os bunkers posam de um diferente desafio, ao ponto em que exigem a boa utilização de espaço pelo jogador. Ao final das contas, o pacote de conteúdo aborda um novo tema e contribui para expandir gratuitamente o que pode ser feito no simulador.

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Rafael Smeers
Aventurine Brasil

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