Entrevista | Garagem Comics em: os desafios de uma loja de games retro no Brasil

Apesar de ser um dos maiores consumidores de videogames, o Brasil ainda clama por mais lojas de games retro e colecionáveis.

Rafael Smeers
Aventurine Brasil
6 min readSep 26, 2018

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Basta procurar no YouTube para descobrir que colecionar videogames e títulos antigos se tornou um hobby de peso no mundo todo. Porém, enquanto na Ásia, América do Norte e na Europa múltiplos comerciantes tem seu próprio negócio no ramo, o Brasil conta com muito menos lojas (a maioria delas em São Paulo, na Santa Efigênia). Desta forma, no Brasil tanto colecionadores quanto donos de lojas de games retro acabam competindo pela mesma mercadoria, desenvolvendo um cenário curioso e que ainda tem espaço para ampliação.

Mas mesmo nestas condições, algumas lojas encaram o desafio e constroem cenários nostálgicos, permitindo negociações muito mais rápidas do que através da internet. Situada em Campinas, a loja Garagem Comics reune comics, action figures, brinquedos clássicos, consoles, games e muitos outros itens colecionáveis para venda.

O Aventurine conversou com Fernando Bueno, proprietário do Sebo Casarão e da Garagem Comics, que dividiu conosco parte do trajeto da loja e de sua experiência com o mercado brasileiro de jogos retro.

1.

Aventurine Brasil: Acho uma boa ideia começarmos falando da abertura da loja. Qual a história por trás da Garagem Comics?

Fernando Bueno: Nós tínhamos um acervo bem grande de HQs no Sebo Casarão, e não havíamos mais aonde colocar quadrinhos, pois o nosso espaço físico estava lotado. Foi quando começamos a estocar, e quando apareceu um comércio para alugar bem próximo ao Sebo Casarão, pensamos em abrir algo relacionado a livros. Neste momento o Luís, gerente do sebo, deu uma ideia: e se mandássemos os quadrinhos pra lá? E assim nasceu a Garagem Comics.

2.

Aventurine Brasil: E quando e como surgiu a ideia de também vender videogames na Garagem Comics?

Fernando Bueno: Os vídeo games vieram alguns anos depois… Eu estava desocupando um quarto e peguei os meus games que tinha parado em casa. Quando eu trouxe para loja, eles fizeram muito sucesso e então me surgiu a ideia de trabalhar com isso também (já que eu gosto muito de games retro). Havia também um Atari que eu e o Luís compramos no sebo e que acabou fazendo parte da primeira leva de produtos de games da loja.

3.

Aventurine Brasil: Na sua opinião, qual o maior desafio de ter uma loja de games retro no Brasil?

Fernando Bueno: O maior desafio é gerado pelo fato de que atualmente temos muitos amantes de games comprando e vendendo simultaneamente (alguns visando lucro e outros por gostarem e/ou colecionarem). Com isso, o material acaba dando uma sumida do mercado.

4.

Aventurine Brasil: Considerando o alto preço de consoles atuais devido aos impostos, lojas de games retro teriam espaço de sobra para crescer. Na sua opinião (e/ou experiência), o que impede isso de acontecer?

Fernando Bueno: Eu não gosto de comparar retro com novos por que acho que são coisas muito distintas. Mas o mercado retro sempre terá seu charme, já que muitos produtos são únicos (por mais que hoje existam reproduções de ótima qualidade, original é original).

5.

Aventurine Brasil: Qual o perfil da maior parte do seu público? Tratam-se em sua maioria de colecionadores e retro gamers (já adeptos ao cenário de videogames), ou existem também curiosos em experimentar algo novo?

Fernando Bueno: Nosso público é bem variado, mas o que mais vejo aparecer são pessoas na faixa de 25 a 40 anos, a maioria delas colecionadores. Temos também muitos curiosos que compram buscando reviver momentos inesquecíveis.

6.

Aventurine Brasil: Sites de venda online como o Mercado Livre e a OLX costumam ser uma boa pedida para encontrar games retro no Brasil, mas nos Estados Unidos, a maioria dos produtos do tipo são adquiridos através de formas mais práticas, como vendas de garagem e do craigslist. É possível que ao mesmo tempo que isso dificulte a busca de produtos pelo vendedor, também influencie de forma positiva nas vendas por “falta de competição”?

Fernando Bueno: Eu acredito que os sites acabam atrapalhando um pouco. Existem, muitas vezes, preços exorbitantes que acabam superfaturando os preços dos produtos.

No Mercado Livre, não é incomum encontrar produtos seminovos sendo vendidos por preços desumanos.

7.

Aventurine Brasil: Você acha que emuladores e serviços no estilo Virtual Console tem um grande impacto no negócio de lojas de games retro?

Fernando Bueno: Acho sim. As vezes colecionar acaba exigindo um investimento alto, e muitas vezes a pessoa só quer matar a saudades. Nestes casos, por exemplo, elas não se importam que seja em emuladores. Se não fossem estes serviços, elas teriam de adquirir o console/jogo mesmo assim.

8.

Aventurine Brasil: Qual foi o item mais raro que você conseguiu até hoje?

Fernando Bueno: Temos algumas coisas bem raras na loja. O item mais raro que tenho hoje é um set do NES na caixa e 34 jogos (sem caixa), além da rara Power Glove e o Power Pad (inclusos no pacote). Tivemos também um Mega Drive com Sega CD e 32x originais.

9.

Aventurine Brasil: No Brasil, existe também a dificuldade de divulgação e de alcance de clientes potenciais em outras cidades (e quem sabe até estados) ocasionada pela falta de transportes públicos ágeis e de percurso extenso (como metro). Você costuma receber muitos clientes de fora da cidade de Campinas?

Fernando Bueno: Sim. Aos sábados recebo pessoas da região. Não sei exatamente a distância do alcance, mas sei que tenho bastante clientes em um um raio de 120km.

10.

Aventurine Brasil: Você conhece pessoas que já tiveram interesse em abrir suas próprias lojas de games retro no Brasil e desistiram, ou que tiveram de fechar suas lojas por motivos específicos?

Fernando Bueno: Conheço tanto quem quer abrir quanto quem infelizmente já fechou. Os motivos variam; mas trabalhar com itens retro não é tão simples quanto parece.

11.

Aventurine Brasil: Por fim, mas não menos importante, o quanto sua experiência com o cenário de videogames evoluiu através de suas negociações na loja?

Fernando Bueno: Meu entendimento do cenário teve uma grande evolução e isso aumentou ainda mais o meu interesse por games retro. Na intenção de criar um ambiente mais dinâmico pra loja, eu ainda disponibilizo um arcade (fliperama) para brincarmos com os amigos e clientes.

Ficou com vontade de conhecer a Garagem Comics? Você pode visitá-la no endereço Rua Sacramento, 160 — Centro, Campinas — SP, 13010–210 e/ou conferir o Facebook da loja.

Se ainda quer saber um pouco mais, o Aventurine recomenda a entrevista com Fernando Bueno realizada pelo canal Links:

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Rafael Smeers
Aventurine Brasil

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