Entrevista | Links em: uma série documental brasileira sobre videogames e seus jogadores

Entrevistamos o criador da iniciativa, que pretende abordar a história dos videogames através de depoimentos reais de jogadores.

Rafael Smeers
Aventurine Brasil
6 min readOct 15, 2018

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Logo © by Links

Apesar de fliperamas modernos como os da foto não serem comuns no Brasil, o país e os seus jogadores tem muitas histórias pra contar. Seja para discutir os impactos do crash do mercado de videogames em 1983 no Brasil, contar a história de desenvolvedoras nacionais que cresceram no mercado ou até das locadoras da década de 90, temos particularidades que só nós mesmos podemos tratar de forma mais apurada.

Alguns documentários como o Paralelos (que discute a origem da popularidade dos games no Brasil em três episódios) provam que basta um empurrãozinho para elaborar assuntos um pouco mais complexos de um entretenimento comum. Seguindo este tipo de oportunidade, o Links é uma série brasileira em desenvolvimento que tem como objetivo abordar a história dos videogames através de depoimentos reais de jogadores.

Curiosos para saber mais sobre o projeto, conversamos com Luis “Heavy” Henrique, publicitário autônomo apaixonado por mídias audiovisuais e criador da iniciativa que conta com o auxílio de sua noiva Amanda Loyolla nas produções.

Introdução da primeira temporada da série Links

1.

Aventurine Brasil: O quê lhe estimulou a criar o Links?

Luis “Heavy” Henrique: Por amar contar histórias, a narrativa interativa foi algo que me cativou profundamente. Inspirado principalmente por dois conteúdos (Noclip e o Retrocompatibilidade, quadro do jogabilida.de) eu quis usar uma chama inicial de conteúdo audiovisual pra criar algo sobre o qual eu entendia.

A faculdade me deu uma luz (como uma ideia de TCC não executada, mas que guardei) sobre começar alguns projetos que já tinha ideia, além de que na época eu estava bem empolgado por causa do Noclip sobre Doom que havia saído. Eu estava fora do mercado de jogos há muito tempo, porém sempre fora uma paixão pra mim e gostaria de criar algo que envolvesse essa mídia.

Algo que eu acho que é subestimado na questão de entretenimento são as histórias que eles proporcionam em seu envolto. Há amizades, relacionamentos amorosos, crescimento profissional e espiritual entre outras coisas fantásticas que aconteceram usando os videogames como ferramenta e… onde estão estas histórias??

Eu quis contá-las! Não apenas contar histórias como qualquer outro documentário que conhecemos que conta apenas os acontecimentos, mas também contar um pouco sobre os jogadores, afinal essa mídia só existe por causa deles. O que as pessoas sentiram quando jogaram pela primeira vez? Como foi saber que a princesa estava em outro castelo? Como foi brigar com o irmão pelo videogame? Como foi conhecer um outro idioma por causa de um game?

Essas entre outras perguntas que podem surgir são como ouro para o panorama midiático atual dos jogos e eu queria contar através da série as respostas delas. Então, em junho de 2017 comecei a divulgar os planos do Links no Facebook.

Photo by Kelly Sikkema

2.

Aventurine Brasil: Qual o processo e tempo médio de criação de um vídeo completo?

Luis “Heavy” Henrique: É uma pergunta complicada de se responder, porque a criação de um vídeo em si não é algo tão simples. Apesar da gravação das entrevistas em si ser simples, a pós-produção é algo que custa bastante tempo. Na verdade assim como todo produto criado, o tempo de criação, maturação e pós-criação da ideia é um momento delicado e por vezes demorado. Quando comecei a estipular prazos e tempo de produção com minha noiva, nós chutamos que seriam 3 meses pra fazer um episódio, porém não é algo tão simples.

Muitos criadores de conteúdo já demonstram abertamente ao público o quanto é difícil criar algo realmente bem feito. Além dos que eu citei (Noclip e Retrocompatibilidade), temos também JonTron, AngryVideogame Nerd, Nostalgia entre outros produtores que investem tempo extra na produção audiovisual de seu material. Faz parte do processo.

Apesar da simplicidade do Links, há muito esmero no projeto. O período de roteirização, captação das entrevistas, transcrição das falas, captação da narração, edição, tudo isso culminando na primeira parte que está hoje online totalizou em um investimento de 4 meses. Foi um tempo revezando entre trabalhos, faculdade e o projeto, contando que apesar do apoio de minha noiva, essa parte de produção do documentário é toda cuidada por mim.

3.

Aventurine Brasil: Qual foi o motivo de vocês entrarem em hiato, e quais as maiores dificuldades enfrentadas até o momento?

Luis “Heavy” Henrique: Rapaz, o hiato foi um momento complicado. Foi uma comunhão de fatores que impossibilitaram de continuar por um tempo.

Um deles mesmo sendo um pouco clichê de falar é o quesito financeiro, tudo do Links foi financiado do nosso bolso. Viagens, câmeras, alimentação, propaganda paga, hospedagem do Vimeo, impressão de panfletos e cartões de visitas, entre outros gastos menores todos saíram de nossos bolso. O Padrim nos ajudou um pouco a aliviar, aliás gostaria de agradecer o Richard, que foi o primeiro a nos apadrinhar. Mas houveram também alguns problemas em nossa vida pessoal que necessitaram de mais atenção, nos impedindo de continuar e nos impossibilitando de investir tanto.

Outro fator que fora consequente disso foi o tempo que ficou complicado. Eu e minha noiva temos outros projetos como histórias em quadrinhos e outras produções, então tivemos de focar um pouco nisso.

Acredito que um outro ponto que fora complicado no nosso início foi o apoio, dessa vez não o financeiro, mas de visibilidade mesmo. Como oferecer “o nosso produto” às pessoas, pra quem, quando e qual seria o melhor modo de demonstrar o Links. Querendo ou não o conteúdo do Links é mais sério e o mercado brasileiro ainda não é tão aberto a este tipo de conteúdo, então havia um desgaste bem grande para um retorno que não parecia tão certo.

Problemas técnicos também interferiram na produção da série

4.

Aventurine Brasil: E o quê levou a considerar que agora é uma boa hora para voltar a produzir?

Luis “Heavy” Henrique: Apesar das dificuldades da vida eu acredito que devemos seguir aquilo que julgamos importante. Agora que tenho um pouco mais de tempo (ainda está curto na verdade hahaha) e após ter escrito o manual de RPG (um dos projetos citados anteriormente), eu senti que não deveria deixar o Links morrer.

Quem é criador de conteúdo provavelmente vai entender, mas é algo que faz muita falta então, com um pouco mais de tranquilidade na vida era hora de tentar novamente arregaçando as mangas, afinal as histórias dos joguinhos não vão se contar sozinhas.

5.

Aventurine Brasil: Já existem ideias de pautas para as próximas temporadas? Você se encontra especificamente ansioso pra abordar alguma delas em específico?

Luis “Heavy” Henrique: Olha, agora o projeto está na sua primeira temporada que além deste episódio em que estamos atualmente, terá mais 5. Tratando cada um deles sobre as gerações dos videogames com um encerramento especial contando sobre o desenvolvimento, história e jogadores impactados pela obra do Hideo Kojima, Metal Gear. O encerramento dessa temporada é algo que me encanta e me deixa animado, afinal Metal gear marcou muitas gerações e também é um dos jogos que eu mais gosto por todo seu histórico e jogos com as outras mídias.

Quanto às outras temporadas, temos sim um esboço de como elas serão. Já é dito no projeto que toda temporada é composta por 6 episódios, sendo 5 sobre aspectos da mídia dos videogames e o encerramento sobre um jogo específico que marcou o mundo dos jogos. Na segunda pretendemos falar sobre gêneros mas é o máximo que posso dizer por agora… *risos*

Mas abrindo meu coração pra vocês, eu sonho com o dia em que falarei sobre Fumito Ueda. Este homem é basicamente um gênio dos videogames pra mim. Poder contar sobre os jogos dele, sua a vida e sobre quem conheceu Ico, Shadow Of The Colossus e The Last Guardian será um acontecimento glorioso. *risos*

The Last Guardian (PS4)

Enquanto espera pela parte restante do primeiro episódio (já em desenvolvimento segundo o Luis), você pode conferir duas entrevistas completas com convidados (atualmente Jonny Ken e Fernando Bueno).

Em adição, o Luis informa que mais duas entrevistas também serão disponibilizadas no canal e podcasts estão em processo de produção, ressaltando: “Apoiadores recebem este conteúdo com acesso antecipado! *risos*”.

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Rafael Smeers
Aventurine Brasil

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