Prévia | Dicey Dungeons (PC)
Do mesmo criador de VVVVV, título é um refinado e rico laboratório de estratégias contra a sorte em estilo roguelike.
Dicey Dungeons é o mais novo jogo de Terry Cavanagh, produtor dos sucessos independentes Super Hexagon e VVVVV. Desta vez, em conjunto de Marlowe Dobbe e Chipzel, a intenção é entregar um roguelike cartunesco baseado na sorte e na maneira com que o jogador reage a resultados e bola estratégias para que dado nenhum signifique uma derrota.
Ainda em desenvolvimento, o jogo já está disponível para Windows, MacOS e Linux em acesso antecipado através da Itch.io e já tem sua página na Steam, onde deve ser disponibilizado para compra no começo de 2019, data de lançamento oficial do título. Dicey Dungeons tem recebido atualizações e refinamentos constantes conforme marcha em direção à sua versão de lançamento.
O título conta com localização parcial (somente texto) para o Português Brasileiro.
Não possui modo cooperativo e/ou competitivo local/online.
Esta análise não contém spoilers.
Versões utilizadas para a prévia: v0.13.0 e v0.14.0
Enredo
Um grupo de aventureiros foi amaldiçoado pela vilã Lady Luck, que os transformou em dados e condenou suas habilidades à dependência da sorte. Até a versão atual, não existem cutscenes que introduzem este início do enredo ao jogador, sendo o teaser trailer a fonte destas informações.
Além da pequena história apresentada no teaser trailer, compõem o enredo as características de cada personagem, os oponentes do jogador (serventes de Lady Luck) e os cenários em que a aventura se passa. O enredo é minimalista e simples, não desenvolvendo uma trama maior ou apresentando a história de cada personagem individualmente.
Assim, o enredo de Dicey Dungeons se assemelha ao de desenhos animados onde um grupo de heróis se forma de forma simples para derrotar um vilão e livrar o mundo do perigo de suas ações. Considerando o teor arcade e veloz de sua jogabilidade, o minimalismo do enredo é bem escolhido e previne a repetição de diálogos e de cenas que tornem uma nova playthrough muito demorada.
Gameplay
A jogabilidade de Dicey Dungeons permite a execução de diversos estilos de jogo diferentes através da combinação de itens diversos e do uso das mecânicas de cada personagem. Cada um destes estilos tem suas próprias vantagens e desvantagens.
No menu inicial do jogo, existem duas opções: Jogar e Editor. Na opção Editor, o jogador pode alterar as especificações de cada personagem jogável, ou alterar e até mesmo criar novos oponentes. Na versão 0.13.0 havia também um botão chamado “Mods”, onde era possível gerenciar modificações criadas pela comunidade (função que supostamente retornará em breve).
Ao selecionar Jogar, o jogador será direcionado à tela de seleção de personagem, onde também é possível ativar o “Modo Difícil”, em que todos os inimigos recebem equipamentos melhores e 20% a mais de vida. Na versão atual, os personagens disponíveis são: Ladrão, Bruxa, Guerreiro, Inventor, Robot e Bobo da Corte. Ao cogitar selecionar cada um deles, o jogo mostra a dificuldade de “controle” estimada para aquele personagem, visto que cada um deles tem uma mecânica diferente.
O fator básico da jogabilidade é a livre movimentação do personagem do jogador em um tabuleiro com alguns oponentes bloqueando o caminho, bigornas de aprimoramento, comida, lojas, guildas, baús e uma saída para o próximo andar. Atualmente existem ao todo cinco níveis, cada um composto por cinco andares.
Ao selecionar uma casa habitada por um oponente, uma batalha tem início. Os dados são girados e as cartas do jogador são colocados na mesa. Utilizando os dados que tem em mãos para ativar as cartas, o jogador lança uma habilidade ou magia. A partir do momento em que as cartas acabam, o jogador deve terminar o seu turno para que o oponente revide.
Na interface de batalha, é possível ver também o nome, a vida atual e a vida máxima de cada combatente, além do número de dados que cada um deles tem por turno e a barra “Limite”, referência à mecânica Limit Break de Final Fantasy. O funcionamento é basicamente o mesmo: ataques contribuem para o preenchimento de uma barra, que quando cheia, permite o uso de um ataque especial devastador característico de cada personagem.
Existem também status de efeito como Veneno e Choque, que provocam efeitos específicos no personagem infligido. Vale notar que dados não usados não são mantidos de um turno para o outro.
Ao derrotar o oponente, o jogador adquire dinheiro e estrelas, que atuam como uma espécie de experiência. Ao juntar um certo número de estrelas, o personagem do jogador avança para o próximo nível, ganhando mais vida total e um dado extra, além de uma nova carta de habilidade/magia.
No final de cada nível, há um chefe. O personagem do jogador pouco a pouco se torna mais poderoso e progride pelos andares e níveis do jogo. Quando derrotado, o jogador é automaticamente direcionado à tela inicial e tem de começar um novo jogo do início. A ideia é estimular o jogador a jogar diversas vezes e experimentar estratégias diferentes, criadas pelo fator de complexidade do título.
Complexidade
A complexidade de Dicey Dungeons, possivelmente o fator mais atraente do game, está na “estrategização” de como cada escolha (e suas combinações) pode influenciar ao longo do jogo. Combinar X personagem com Y cartas, Z maneira de agir e observar o quão e como efetivo foi a estratégia em pontos específicos do jogo, por exemplo, sustenta diversão de longa duração.
A possibilidade de criar tantas variações de estilo de jogo provém não só da aleatoriedade do que o jogador pode encontrar ao longo de sua aventura, mas também da existência de mecânicas específicas. São elas:
Efeito Inato: Alguns oponentes contam com um “Efeito Inato” (apresentado no topo da tela durante a batalha), que os garantem uma resistência ou fraqueza a um efeito/elemento específico. O Homem de fogo, por exemplo, é fraco contra gelo, enquanto a Cria de lobo e o Fomoriano são fortes contra veneno. Estas condições criam um fator a mais para o jogador se preocupar ao montar sua estratégia.
Risco e Benefício: Batalhando com oponentes de níveis maiores, o jogador adquire mais recompensas se triunfar, mas também corre maiores riscos de colocar tudo a perder. Esta não é a única situação em que o jogador tem de balancear risco e benefício. Ao utilizar cartas poderosas que exigem números totais maiores do que seis (exigindo a dedicação de dados de vários turnos, tornando o jogador temporariamente vulnerável) e em boa parte da jogabilidade do personagem Robot, que ainda será citada.
Melhoria do Equipamento: Ao encontrar bigornas pelo tabuleiro ou adquirir a opção de “Melhoria do Equipamento” após subir de nível, o jogador pode realizar um melhoramento em uma peça de equipamento de sua escolha. Os melhoramentos nem sempre implicam só no aumento do efeito, mas por vezes, na diminuição dos dados necessários. Ao aprimorar a carta Praga, por exemplo, o número necessário para realizar a ação diminui pela metade, apaziguando seu fator risco e benefício.
Efeitos Negativos: O conhecimento das técnicas de alguns oponentes pode levar o jogador a evitá-los (quando possível) dependendo de seus equipamentos. Alguns inimigos como a Alquimista, por exemplo, possuem a habilidade de fazer com que o jogador tenha de sacrificar pontos de vida para utilizar seus dados. Diante da combinação de alguns equipamentos, este tipo de efeito pode ser altamente prejudicial ao jogador, exigindo um “plano B”.
Loja: É possível utilizar o ouro conquistado derrotando oponentes para adquirir novos equipamentos em lojas disponíveis pelo tabuleiro. Porém, enquanto praticamente todo equipamento serve de auxílio no início de cada aventura, sempre fica a questão “Será que não vou encontrar uma loja com equipamentos melhores no próximo andar?”, de certa forma a contribuir para o fator risco e benefício.
Limite de Equipamento: Em Dicey Dungeons, dinheiro e sorte não bastam. Equipamentos devem ser equipados em um espaço limitado. Para balancear o jogo, alguns dos equipamentos utilizam mais espaço no “retângulo de equipamentos” do que outros. Assim, durante a montagem de uma estratégia, o jogador deve considerar também as limitações impostas pelos encaixes de equipamento disponíveis.
Personagens: Uma das escolhas que mais influenciam o estilo de jogo é o personagem utilizado. Cada um deles conta com habilidades específicas, a Bruxa por exemplo não requer dados específicos para realizar ataques, mas deve aprender feitiços e utilizar dados específicos para “materializá-los”. O Ladrão, por sua vez, pode dividir dados e conseguir equipamentos emprestados, além de realizar vários ataques em um único turno.
Já o Robot conta com um gerador de dados, que pode explodir se o jogador insistir, ou alcançar o seu limite e resultar em uma ação especial. Assim, cada personagem é influenciado pela sorte de uma maneira diferente e por este motivo também podem influenciar na elaboração de estratégias por parte do jogador.
Guildas: Ao longo do tabuleiro, o jogador pode encontrar e se juntar a diferentes guildas, algumas delas exclusivas de personagens específicos. Ao juntar-se a essas guildas, o personagem do jogador perde uma habilidade para sempre, mas ganha outra. Ignorar a oportunidade também é uma opção.
Ainda não existem desbloqueáveis por playthrough (como em Enter the Gungeon e outros roguelikes) e nem conquistas (achievements) que contribuam para o fator de rejogabilidade do título além dos múltiplos playstyles, mas podemos cogitar que conquistas estarão disponíveis após o lançamento oficial do jogo na Steam. As modificações da comunidade também devem contribuir de forma significativa para estender ainda mais o potencial de Dicey Dungeons, um tesouro para quem gosta de planejar e testar estratégias diferentes.
Audiovisual
O fator audiovisual de Dicey Dungeons não é nem um pouco menos apaixonante do que as variedades propostas por sua jogabilidade. Com os traços minimalistas e coloridos na medida certa de Marlowe Dobbe e trilha sonora composta por Chipzel (compositor da trilha sonora de Super Hexagon e Crypt of the NecroDancer), o game apresenta ritmos animados, personagens carismáticos e uma interface simples e amigável.
As animações dos personagens em batalha são um charme à parte, nem muito exageradas e nem muito singelas. Se você gosta de desenhos animados, terá uma boa surpresa com o fator audiovisual do jogo.
Desempenho
Não experienciamos fechamentos inusitados, congelamentos ou quaisquer outros erros durante nossas playthroughs de Dicey Dungeons. Os textos localizados invadindo áreas externas da interface de usuário são resultado comum do processo de localização de um jogo e os ajustes dessas parcelas de interface devem ser realizados no lançamento oficial.
Prévia — Dicey Dungeons (PC)
Jogos que misturam sorte e estratégia como 100% Orange Juice e Dicey Dungeons sempre acabam por criar enorme fator de rejogabilidade através da combinação de mecânicas simples, mas que criam um sistema de reações bem elaboradas. Ainda que não tenha um modo multiplayer e desbloqueáveis por playthrough, a já grande quantidade de combinações de Dicey Dungeons pode ser potencializada ainda mais através de modificações da comunidade.
Seu fator audiovisual, por sua vez, contribui para que cada jogatina seja igualmente satisfatória e uma derrota não signifique visitar pela décima vez um cenário entediante e irritante. Terry Cavanagh acertou em cheio na escolha das mecânicas de gameplay do título e na escolha dos responsáveis pela arte e trilha sonora do jogo: é difícil imaginar Dicey Dungeons com outra cara e outro funcionamento. Esperamos que o lançamento oficial traga surpresas que deixem a experiência ainda mais interessante.
Análise produzida com cópia digital cedida por Terry Cavanagh.
