Análise do filme: “Hotel Ruanda”

Ayrina N. Pelegrino Bastos Maués
Ayrina Pelegrino
Published in
5 min readJun 14, 2018

Em 1994 acontece a explosão de uma guerra em Ruanda, a causa é o conflito étnico entre os tutsis e os hutus. Tutsis são considerados os representantes belgas após o fim da colonização, os quais ficaram no poder, e foram os próprios belgas que separam o povo nas duas etnias, escolhendo por cor de pele e feições faciais, como nariz finos, pele mais clara. Já os hutus são a maioria em Ruanda esses se consideravam injustiçados com o poder tutsi, e começam a tentar lutar pelo poder. Considerando os tutsis como inimigos e que deveriam ser todos eliminados.

A história do filme é baseada em fatos reais. O hotel Mille Collines, na cidade de Kigali, abrigou cerca de 1400 pessoas, entre elas tutsis e hutus. O hotel era de propriedade belga, e recebia muitos clientes estrangeiros. Os soldados ocidentais vieram os retirar de Ruanda. O gerente do hotel, Paul Ruessabagina, de origem tutsi mas com família hutu, foi o responsável pelo campo de refugiados que se tornou o hotel. Ele poderia ter ido embora em várias ocasiões por apoio da ONU e dos seus chefes, mas não conseguiu ir embora sabendo que poderia ajudar aquelas pessoas.

Uma das razões da explosão do conflito foi o assassinato do presidente de Ruanda. Os hutus acusaram os tutsis, e isso alavancou uma série de mortes. Na verdade, foram os próprios hutus que assassinaram o presidente por não concordar com o seu acordo de paz com a ONU.

Forças militares que atuaram no conflito foram: a milícia interhawes, rebeldes radicalistas hutus a favor do massacre tutsi; o exército ruandês, que era corrupto e apoiavam o poder hutu, suspeita-se que receberam armamento da França; a ONU, que foi vetada a mandar mais soldados para Ruanda pois perdeu muitos dos enviados à princípio, foram apenas cerca de 300 soldados para toda a Ruanda; e os rebeldes tustsis, os quis fugiram no início do conflito para as fronteiras, e voltaram apenas no final da luta.

Massacre ruandês aconteceu paralelamente ao na Somália, em Sarajevo. Os EUA haviam enviado tropas à Somália, mas perderam muitos soldados no conflito, isso fez com que não se arriscassem no conflito em Ruanda. Além do fator econômico em que Ruanda era o país mais pobre do mundo e não tinha nada a oferecer economicamente para o mundo — pois sua produção é pequena e apenas de café e chá.

O mundo praticamente virou as costas para o conflito, eles não imaginaram a proporção que o massacre alcançaria. Não se esperava que os hutus radicalistas tomassem conta da região tão rápido e com tanto ódio.

Muitos hutus não eram favoráveis à causa, não tinham nenhuma filiação política, mas muitos acabaram virando refugiados, enquanto outros foram mortos por serem considerados traidores.

A imprensa internacional não abrangeu muito o caso na época, e como é visto no filme, poucos dos que foram cobrir o massacre na primeira ocasião voltaram a seus países com a ajuda que veio apenas os brancos e estrangeiros, abandonando toda a população ruandesa.

No conflito ruandês a presença da ONU mostra exatamente qual é o papel da ONU, manter a paz, e não faze-la. Por isso protegeram o hotel Mille Collines, pois era um ponto de paz, um campo de refugiados, então eles tentavam manter aquele local a salvo. Mas não tinha apoio do ocidente e nem soldados da ONU suficientes para sufocar o conflito, e poucos que tinham eram mortos.

No massacre étnico estima-se de 500 mil à 1 milhão de mortes. A discussão sobre genocídio se travou até nos extras do filme. Em um dicionário português (Priberam) consta como genocídio: “Destruição metódica de um grupo étnico pela exterminação dos seus indivíduos”. Isso nos leva a encaixar o massacre em Ruanda como um genocídio. Mesmo com o elemento horror suprimido no filme, muitas imagens mostradas são fortes e o público se sensibiliza.

A teoria de choques culturais de Hunghton, caracterizada como conflito intra civilizacional, ou seja, dentro da mesma civilização, e diz que esse tipo de conflito deve ser resolvido por eles mesmos. Situação a que os ruandeses foram deixados (pelo mundo), assim gerando um massacre por falta de ajuda externa.

Um conflito na África que também teve motivo étnico é o conflito no Sri Lanka, que perdurou por 35 anos tendo fim em 2009, e matou mais de 70 mil pessoas. Como em Ruanda a segregação é entre a maioria, os cinganleses, e a minoria (18% da população), os tâmeis; e a minoria detém o poder desde 1948. As forças armadas nessa disputa são o grupo Tigres de Libertação da pátria Tâmil (LTTE), uma das organizações mais violentas do mundo, que apoia a luta por independência dos tâmeis ; e o exército do Sri Lanka, que apoia a maioria cinganlês.

Em 1965, o cingalês foi decretado o idioma oficial, apesar de um quarto dos habitantes da ilha pertencerem a outros grupos étnicos. Assim como em Ruanda os tâmeis foram encurralados no norte da fronteira, porém em 2009, só que além de rebeldes, existem os sem filiação política, cerca de 190 mil civis, que são usados como escudo pelos rebeldes. A ONU temia qualquer avanço militar sobre essa faixa, pois assim como em Ruanda seria a faixa de campos de refugiados e tendo de cumprir seu papel, em manter a paz, para evitar um genocídio. Desde janeiro, são 4 mil vítimas civis e mais de 10 mil feridos. Apesar dos abusos

dos direitos humanos contra os tâmeis, os EUA e a União Europeia continuaram a fornecer armamentos para o exército do Sri Lanka, com a justificativa de que o LTTE, em 2006, entrou na lista negra de Washington como organização terrorista, outro ponto de encontro dos massacres, em 1994, a França foi acusada de fornecer armamento para o exército ruandês e os interhawes. Com a morte do chefe da guerrilha dos Tigres de Libertação da Pátria Tâmil (LTTE), Velupillaï Prabhakaran, a rebelião foi vencida militarmente. Mas como em Ruanda o ponto final do conflito armado não equivale ao final do conflito em si.

Atualmente ocorrem 15 diferentes conflitos étnicos na África, a guerra pode ter terminado, mas o conflito das diferentes etnias obrigadas a dividir o mesmo território continua de várias formas. O preconceito, a proibição de que convivam entre si e o casamento entre as diferentes etnias.

Por uma demarcação feita por superpotências séculos atrás, o povo africano ainda sofre, e morre. O preconceito se instaurou na mente dos próprios africanos assim piorando o fato. Não se sabe se Ruanda, ou a África, chegarão a um acordo, que o mundo aceite e auxilie para desfazer essas fronteiras que unem diferentes etnias e ao mesmo tempo as separam.

Ayrina Pelegrino Bastos Maués

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