Por mais mulheres num mundo de TI sem preconceitos de gênero

Etiene Oliveira
b2w engineering
Published in
4 min readMar 8, 2021

Relatos de uma profissional de tecnologia que luta todos os dias para se destacar

Sou Coordenadora de TI em uma das maiores empresas de tecnologia do país e todos os dias, sem exceção, me obrigo a me entregar 100% no trabalho para poder colocar a cabeça no travesseiro com senso de dever cumprido.

Quem vê de longe essa minha atitude pode pensar que isso não é nada demais. Há quem diga que um bom profissional tira isso de letra ou que isso não passa de uma obrigação, pois devo ser bem remunerada pelo cargo que ocupo.

O fato é que, aquilo que está nas entrelinhas, enraizado na sociedade e, principalmente, rotulado na cultura de profissionais da minha área, muitas vezes não é visto.

Ser mulher em um universo tão dominado por homens nem sempre é fácil. Ainda que na B2W Digital tenhamos um ambiente saudável, livre de rótulos e preconceito de gêneros, quando observo mundo a fora tenho a impressão de estar vivendo em uma bolha, por isso me cobro constantemente.

Na minha cabeça ainda existem alguns degraus que separam “uma profissional” que lutou a vida inteira para conseguir seu espaço, de “um profissional” que também fez o seu por merecer, mas que foi privilegiado por ter um gênero diferente.

Tudo sempre foi mais difícil para mim, e sei que também é mais difícil para outras mulheres…

Quando descobri o “diferente”

Talvez esse percepção tenha vindo para mim desde o dia que decidi entrar nesse “mundo dos meninos”. Sempre fui apaixonada por tecnologia e me lembro bem o dia que decidi sair do armário e me assumir como nerd dos computadores.

Assim como ocorre nos dias de hoje, naquela época também havia colégios técnicos para adolescentes e o curso de “Técnico em Informática” era um dos que mais saltavam aos olhos de quem gostava do assunto e esperava uma boa colocação profissional no futuro.

Por isso, não pensei duas vezes quando me inscrevi.

O primeiro impacto foi com relação aos colegas de classe. Eram poucas meninas e algumas, inclusive, não completaram o curso, pois acabaram desistindo ao longo da jornada. Fiz todo o curso e colecionei muitas amizades com alunos e professores e também algumas inimizades, que não vale a pena comentar, mas talvez eu tivesse feito muito mais se eu compreendesse melhor tudo que estava acontecendo à minha volta.

Hoje, tenho mais de 20 anos na área de TI. Passei por vários cargos do universo da tecnologia, como Documentadora de Sistemas, Programadora, Analista de Negócios e Product Owner, chegando à Coordenação.

Me achava uma privilegiada por não ter sofrido nenhum preconceito de gênero, até começar a pesquisar sobre o assunto e perceber que sempre houve uma barreira que me separava de outros profissionais.

O preconceito que passa despercebido

Talvez, por eu ter sempre convivido mais com os homens do que com as mulheres ao longo da minha formação, eu não tenha percebido o abismo que me separava dos meus colegas homens.

Agora cabe falar de alguns termos que descobri nas minhas pesquisas e que, ao recordar toda minha trajetória, vi o quanto estava enganada.

· Manterrupting — quando um homem interrompe constantemente uma mulher, de maneira desnecessária, não permitindo que ela consiga concluir sua frase.

· Mansplaining — quando um homem dedica seu tempo para explicar algo óbvio a uma mulher, de forma didática, como se ela não fosse capaz de entender.

· Bropriating — quando um homem se apropria da mesma ideia já expressa por uma mulher, levando os créditos por ela. O termo é uma junção de “bro” (de brother, irmão, mano) e “appropriating” (apropriação).

Além desses tipos de comportamentos citados, também há outros exemplos que eram bem comuns no dia a dia. Frases como “você está louca”, “Pare de surtar” que afetam tanto homens quanto mulheres, mas pesam muito mais na gente por uma questão cultural.

Do choque à superação

Descobrir que fui vítima de preconceito estruturado me deixou bastante abalada.

Comecei a reparar mais a minha volta, questionar colegas de trabalho, amigas e até parentes para ver se isso era comum, e, a cada relato, minha decepção só aumentava.

Todo tipo de diálogo me deixava com uma pulga atrás da orelha, do tipo, “o que será que ele quis dizer com isso (?)

Precisei de um pouco de tempo para me recuperar e decidi que a melhor forma de vencer esse medo e ajudar a combater essas situações era dar o meu melhor no trabalho e alertar mais e mais pessoas sobre esse tipo de situação.

Mas, infelizmente, isso não é uma fórmula que possa se aplicar a outras mulheres com a mesma vivência. Cada pessoa reage de uma forma e, embora eu já tenha aprendido a lidar com esse tipo de comportamento, temos que falar sobre isso com mais e mais pessoas, pois assim como eu, que achava que isso “não” acontecia comigo, milhares de mulheres talentosas podem estar passando por mesma situação, ou até mesmo pior.

Dar o melhor de si, sempre, e dialogar ainda mais para combater esse mau. Por isso escrevi esse artigo no formato de relato para inspirar mais pessoas a abraçarem essa causa.

Isso serve para os homens também. Se vocês têm algum comportamento listado acima, mesmo que imputado desde a infância em suas mentes, vamos observar e melhorar essa situação, afinal somos ótimas parceiras e estamos aqui na TI para trazer tudo que temos de melhor.

Ter mais mulheres no mundo de TI causa um impacto positivo em outras mulheres, mostrando que ocupar esses espaços é mais do que uma possibilidade, é uma realidade.

--

--