A importância do pensamento crítico no design

Camilla Vieira
Badico Cloud

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Um bom designer trabalha constantemente com tomadas de decisões.
“Qual será a tipografia?”, “Qual será o objetivo do projeto?”, “Qual será a funcionalidade principal?”, “Como simplificar um fluxo?”. Há muitos questionamentos que podem permear nossas mentes. Aliás, diria que questionamentos devem permear a mente do designer, mas também devem trazer resoluções equilibradas.

Quando se trata de design, há muito o que discutir sobre vieses, expectativas e respostas de usuários. Sabemos bem que não devemos enviesar perguntas em entrevistas com usuários se desejamos obter dados verdadeiros e precisos. Mas quanto aos próprios designers? Você já se questionou quanto você é enviesado em seu próprio trabalho?

Como profissionais criativos, podemos ter a tendência de imprimir expectativas relativas a nossos gostos pessoais em projetos. Posso muito bem escolher a cor de um projeto por ela ser minha favorita, bem como posso escolher um estilo de interface simplesmente porque me agrada. Contudo, um bom designer sabe que acima de seus gostos estão as necessidades do projeto e o que ele precisa comunicar. Mas eu diria que o percurso é ainda mais profundo: quando pensamos em tratar experiências, fluxos, botões e arranjar uma gama de experiência para o usuário, as escolhas devem ser tomadas com embasamento, trazendo um distanciamento das próprias expectativas, rompendo seus conceitos previamente criados. É por isso que é necessário mergulhar em pesquisa, pois é muito fácil deduzir uma informação com seu conhecimento de mundo sem antes verificar se ela se aplica à situação.

“Grandes desafios têm muitas nuances, e, para entender o contexto completo, precisamos incorporar informações de muitas fontes.”
— “Sprint” ; Jake Knapp, John Zeratsky, Braden Kowitz

“Para extrair a informação mais útil de múltiplas fontes de evidência, deve-se sempre tentar tornar essas fontes independentes umas das outras.”
- Daniel Kahneman; “Rápido e Devagar”

Buscar informações de uma maior gama de fontes, além de analisar o que é extraído de maneira individual, nos ajuda a construir um pensamento estruturado acerca de um assunto. Não à toa no design priorizamos pesquisa. Com os dados que encontramos, devemos aplicar a capacidade de análise, identificar possíveis soluções e realmente julgar quais são válidas para cada situação.

“O Design Centrado no usuário não é subjetivo e, com frequência, baseia-se em dados para fundamentar as decisões de design.”
— Travis Lowdermilk, Design Centrado no Usuário

No processo de tomar decisões podemos ser amplamente influenciados por vieses, por isso é importante que tenhamos no mínimo um conhecimento geral sobre o que são.

“Um viés cognitivo é um erro de julgamento sistemático e previsível que pode acontecer quando processamos e interpretamos informações. “
— Rian Dutra, Enviesados, p 125

O Nielsen Norman Group aponta 3 vieses cognitivos que podem muito comumente afetar designers. Eles são:

  1. Efeito de Excesso de Confiança: onde você pode superestimar suas próprias habilidades e conhecimentos, acreditando que o que você já sabe ou faz é suficiente para tal situação.
  2. Viés de Enquadramento: possibilidade de chegar a diferentes conclusões a partir do mesmo dado, a depender da maneira como ele é apresentado.
  3. Viés do Status Quo: A segurança do que já é conhecido pode trazer a falsa sensação de que o que já se tem é bom, podendo interferir em mudanças que poderiam ser significativamente boas.

Acredito que podemos ser influenciados por muitos outros vieses no caminho, mas gostaria também de destacar estes:

  • Viés de Posse: Quando nos deparamos com uma situação de escolha, a tendência é valorizarmos as coisas que já sentimos que são nossas.
  • Efeito ancoragem: Julgamento baseado na primeira impressão. É sobre decidir algo apenas considerando o primeiro item apresentado, como se este fosse o melhor.
  • Viés do ponto cego: a tendência de perceber a ação de vieses cognitivos sobre outras pessoas, mas não conseguir perceber a ação de vieses em si mesmo.

Com isso, gostaria de dizer que, como designers, é bom que nos desafiemos a nos despir dos vieses a cada trabalho. Não é sempre uma tarefa simples, mas é crucial para o bom andamento de um projeto. Assim, você consegue analisar os dados de maneira imparcial, analisando a fundo e refletindo quais impactos concretos você pode trazer para o produto.

“A sabedoria da vida consiste em eliminar o que não é essencial.”
— Greg McKeown, Essencialismo: A disciplinada busca por menos

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Camilla Vieira
Badico Cloud

A designer who learned to create by watching the world - created to create