Como lidar com a incerteza das coisas e da vida?

Vanessa Mattos
Badico Cloud

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“As pessoas preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda.”

Marquês de Maricá

Em nossas ações cotidianas traçamos metas e objetivos em relação ao futuro. Nós planejamos viagens e confraternizações para daqui a alguns dias ou meses com muita facilidade. Em outras palavras, lidamos com aquilo que ainda virá com bastante positividade, previsibilidade e controle.

Nos acostumamos a traçar uma certeza momentânea ao olhar para o próximo dia, como uma forma de ter segurança e controle do que virá a seguir. Muito provavelmente você já possui traçado o que você irá fazer amanhã: acordar, tomar café, tomar um banho, ir para o trabalho, almoçar, voltar ao trabalho e assim por diante. E é importante que assim seja, para que nos sintamos seguros quanto aos nossos sonhos e metas.

A certeza momentânea nos garante um senso de perspectiva do futuro: “eu sei para onde estou indo” ou “eu sei onde almejo chegar”. E é isso que nos mantém, dia após dia, criando, projetando e desenvolvendo coisas novas.

QUANDO A CERTEZA DESPERTA O DESAGRADÁVEL

Mas quando as certezas momentâneas são levadas a níveis de certezas fidedignas e absolutas, podemos ter problemas. Mantendo o simples exemplo do que você provavelmente irá fazer amanhã, imagine se essa organização na sua mente fosse extremamente certa. Ou seja, se você levasse essa concepção às últimas consequências e pensasse: “eu certamente irei fazer isso amanhã”. Sem dúvidas, qualquer variação nessa organização, que não estivesse planejada, lhe causaria sentimentos conflitantes, incluindo estresse e ansiedade.

Ah, mas ninguém leva as coisas cotidianas tão a sério assim. Eu realmente tenho um outro ponto de vista, mas não é esse o ponto que eu quero chegar. Permita-se expandir essa situação envolvendo relacionamentos humanos. Você consegue imaginar situações em que você tinha por certeza o que a outra pessoa faria, como ela agiria ou o que ela diria e na realidade ela não fez, agiu ou disse dessa forma? Ou mais: você consegue imaginar situações em que você, por acreditar saber exatamente como a pessoa agiria, optou por não fazer o que você queria?

Nós presumimos conhecer tão bem as pessoas que estão no nosso cotidiano que nos fechamos a descobrir muito mais sobre elas. E quando uma parte que você NÃO conheceu dessa pessoa, porque você acreditava já conhecer bem ela, aparece é comum pensarmos: “Você mudou demais”, “eu não te reconheço mais”, “essa não é você”.

Se nós mesmos, temos momentos em que nem sequer sabemos direito quem somos, como podemos presumir que sabemos quem o outro é? E mais, quem nos disse que somos imutáveis e que podemos ser descritos como uma única coisa?

Lidar com certezas tão absolutas e fechadas sobre quem o outro é e sobre o que acontecerá no futuro se torna um problema quando esbarramos com as mudanças e imprevisibilidades das pessoas e do mundo.

ENTÃO EU NÃO POSSO TER CERTEZA DE NADA?

Extremismos raramente são agradáveis ou boas escolhas.

Em relação ao futuro, é possível manter certezas mesmo em meio a incerteza da vida. Estamos falando de uma posição voltado pro futuro e não ao passado e suas experiências. Ou seja, a certeza das suas crenças e ideologias, a certeza dos seus aprendizados e experiências serão mantidas com grande força dentro de você.

O que eu quero instigar a você é um olhar incerto quanto ao futuro no sentido de sentir-se mais confortável com aquilo que poderá acontecer e que não estava previsto. Digo confortável não numa posição de passividade, ou seja, de não fazer nada, mas numa posição de aceitar o que virá e buscar desenvolver novas possibilidades através do que aconteceu.

Quando estamos tentando de todas as formas conter essa incerteza do futuro com controle sobre as situações, estamos muito mais suscetíveis a nos frustramos no caminho e até mesmo, entrarmos em pânico quando mudanças drásticas, repentinas e surpresas acontecem.

Em relação aos relacionamentos, existe muito mais no desconhecido do que no conhecido. Pasme! É possível descobrir coisas novas sobre a pessoa que divide a vida com você à 40 anos. Principalmente, porque todos os dias somos inspirados com novos olhares e sendo seres sociais, comunicativos e complexos, estamos em constante mudança!

Todavia, existe uma dimensão que é da ordem da experiência e que muito provavelmente é o que baseia suas decisões em relação ao outro. Pois, se na sua experiência toda vez que você fala tal coisa a pessoa age de tal forma, logo na próxima vez que você falar dessa coisa, a reação do outro se repetirá. O que poucos consideramos nessas situações são as possibilidades de mudança no diálogo, ou seja, você não precisa deixar de falar sobre isso, mas falar de outra forma.

A melhor forma de lidar com a incerteza é assumindo ela. Pois, fazendo assim nós asseguramos de estar bem com o fato de não conhecer tudo sobre o que acontecerá no amanhã. E nos sentimos mais dispostos para vivenciar o que virá, com a confiança de que mesmo sejam desagradáveis, são fases que precisaremos passar.

Lidar com a incerteza é escolher o caminho da curiosidade ao invés do caminho do medo, pois somente um olhar curioso e criativo será capaz de visualizar possibilidades e esperança nos mais escuros momentos da nossa vida. E é esse mesmo olhar que nos permitirá conhecer mais sobre as pessoas que julgávamos conhecer tanto.

E então, como você se sente em relação às suas incertezas hoje?

Vanessa Mattos
Psicóloga CRP 12/19336

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