Expectativas: como elas têm atuado em suas relações?

Vanessa Mattos
Badico Cloud

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É muito comum em atendimentos me contarem narrativas sobre frustrações ocorridas nas relações com outras pessoas. As expectativas e esperanças surgem como um assunto fortemente ligado aos principais conflitos nos relacionamentos, seja amoroso, profissional, familiar ou de amizade.

E no processo de psicoterapia surgem muitas perguntas: como deixar de ter tanta expectativa? como saber lidar melhor com as respostas que não suprem essa expectativa? como me certificar que minha expectativa será respondida como eu quero? Será que a outra pessoa faz de propósito?

Esse post não é uma tentativa de resposta para essas perguntas, mas um convite a reflexão de novas perguntas que talvez te ajudem a ampliar sua visão sobre as expectativas e te conduza à relações mais saudáveis.

Cuidado com as exigências

Nossas relações são perpassadas por expectativas. Possuímos necessidades, intenções e desejos que se manifestam na relação com o outro também através das expectativas. Todavia é de extrema importância reconhecer alguns pontos nesse assunto para conseguir separar necessidade de exigência.

É certo que existe algo na expectativa que é um pedido em torno de uma necessidade sua. Por exemplo: Sinto a necessidade de receber carinho, por isso, minha expectativa vem com o pedido de que o outro faça carinho. Mas esse caminho conduz a duas diferentes respostas: fazer carinho ou não fazer carinho.

A questão aqui é: eu estarei bem caso a resposta do outro for o não?

Se eu for encontrar uma pessoa com a expectativa de ter uma relação mais íntima com ela, eu me sentirei segura se a pessoa não quiser esse momento mais íntimo?

É uma linha tênue entre respeito a si e respeito ao outro. Ou seja, respeito a suas vontades e a do outro também. Isso não significa que a vontade do outro deve sobressair a sua, na verdade as duas devem aparecer. Mas se a sua expectativa depende do outro para se concretizar é necessário alinhar se essa é uma expectativa de ambos para que não se torne exigência.

Quando você insere a exigência na equação você está dizendo que a única alternativa da pessoa é atender o seu pedido, independente de como essa pessoa se sentirá. Pode parecer uma coisa pequena, mas é uma quebra na liberdade da pessoa em fazer essa escolha. O “lidar bem” com a resposta não esperada da sua expectativa não significa ficar feliz, mas diz de aceitação.

O respeito consigo mesma te impulsiona a perguntar se as expectativas condizem com a realidade que você vive, por exemplo em questões profissionais e até mesmo amorosas. Muitas pessoas idealizam o parceiro(a) ideal e tentam projetar isso no outro que está ao seu lado. É necessário refletir também sobre os acordos e contratos não dialogados que você cria na relação, e que pelo fato de nunca terem sido dialogados podem não ser “cumpridos” pela outra pessoa.

A importância do diálogo

O maior problema envolto nas expectativas é o fato de que elas, geralmente, não são comunicadas. Nós agimos como se fosse dever da outra pessoa saber disso ou inocentemente acreditamos que todas as pessoas possuem essas expectativas e que por isso, o outro saberá.

O diálogo sem exigências, ou seja, a comunicação sincera de quais são as suas reais intenções e expectativas em torno daquela situação, daquele momento e daquela pessoa são fundamentais para diminuir as frustrações.

Primeiramente pois, ao comunicar você dá a outra pessoa a possibilidade de expressar também quais são suas intenções e expectativas. E desta forma, vocês podem chegar a uma alinhamento e você evita a frustração. Mas tenho percebido que algumas coisas impedem as pessoas de comunicar:

  • Medo de falar no assunto: por ser tabu, por medo de uma má interpretação, por considerar fraqueza, por medo de se expor.
  • Medo de como a pessoa vai reagir: quem sabe carregado do medo de perder a pessoa ou de que ela irá se afastar.
  • Achar que a pessoa já deveria saber: algumas vezes isso pode surgir até mesmo como uma obrigação, usamos até mesmo sinais que consideramos que o outro vai entender e afirmamos “eu já dei vários sinais, mas ele(a) não percebe.”

Esses medos e certezas estão presente em muitas pessoas e regem muitos dos relacionamentos em que as expectativas estão sendo frustradas.

Lidando com as expectativas…

Cada ser humano encontra maneiras diferentes e criativas para lidar com as coisas que lhe afetam. Suas próprias experiências são um repertório riquíssimo para adquirir essas respostas. Todavia, gostaria de compartilhar algumas reflexões sobre como lidar com as expectativas.

  • Não as tome como a única opção: Esteja aberto para novas possibilidades, novos caminhos e percursos, novas formas de se relacionar.
  • Não as torne exigências: não as veja como as únicas prioridades na relação com outra pessoa. Construam juntos.
  • Dialogue com elas: entenda de onde elas surgem, o que estão tentando suprir, como ganham força no seu dia a dia, o que querem te dizer, se condizem com a realidade.
  • Coloque-as em diálogos: Principalmente com as pessoas à quem elas estão destinadas. Converse e exponha suas expectativas, alinhe e escute com o outro sobre as dele.

O ponto não é abdicar delas, mas gerencia-las para que não se tornem exigências na relação com o outro. Principalmente por respeitar que a outra pessoa tem suas próprias escolhas.

Vanessa Mattos
Psicóloga CRP 12/19336

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