Quem você é sem falar o que você faz?

Vanessa Mattos
Badico Cloud

--

Há algum tempo realizei um curso do Murilo Gun sobre criatividade e durante as aulas me deparei com a seguinte pergunta: “Quem você é sem falar o que você faz?”. Eu li e reli essa questão algumas vezes até realmente tentar formular alguma descrição de mim. Não foi fácil. Por isso, sem desconsiderar toda a gama de insights que esse curso despertou em mim, eu gostaria de repassar essa pergunta a você.

Será que você consegue dizer quem você é sem falar o que você faz?

Antes de você responder…

Eu te convido a voltar a alguns anos ou décadas atrás, dependendo da sua idade, e recordar no ensino primário quando os professores nos pediam para fazer desenhos do que gostaríamos de ser quando crescer. O que você desenhou? Quem sabe algum tipo de super-herói ou algo voltado a algum hobbies seu, como ser dançarina, artista ou jogador de futebol.

No ensino fundamental essa pergunta provavelmente apareceu novamente em forma de redação e muito possivelmente, você escreveu algo relacionado a alguma profissão que esperava alcançar. Quem sabe o emprego de seus pais, que você admirava. Ou quem sabe algo que você assistiu na televisão.

No ensino médio ela chegou quase como uma intimação: é hora de decidir o seu futuro e o que você fará após a escola. Para uns a cobrança foi maior por pensar em escolha de graduação. Para outros o caminho mais ideal foi pensar em coisas que já haviam começado a fazer.

Sem negar as grandes influências históricas e sociais, durante toda a nossa vida nos vimos respondendo questões de futuro relacionadas à profissões e ao que desejaríamos fazer, mas poucas vezes refletindo em quem somos.

E onde está o problema?

Quando nos deparamos com dificuldades de entender o porque agimos como agimos. Quando nos deparamos tendo sentimentos que não conseguimos lidar. Quando as circunstâncias da vida nos colocam numa posição de perda de sentido. Quando percebemos dificuldade de estabelecer relacionamentos saudáveis. Quando somos mais propensos a raiva e a agressividade do que ao diálogo e a troca. É aí que percebemos que perdemos tempo demais pensando no que queríamos fazer e pouco em quem queríamos ser.

Esses dias respondi a um questionário e a última pergunta era “Duvido você se descrever em 250 caracteres”. Confesso que aquilo foi tentador e me vi tentando realizar essa proeza. Mas engana-se quem pensa que a quantidade de letras era o maior problema. Para mim, o maior problema foi organizar minhas ideias para me descrever sem mencionar as coisas que eu faço, ou seja, sem profissões e ações no mundo.

Estamos acostumados a descrever o histórico das nossas ações e experiências, deixando que o nosso currículo fale mais alto que nós mesmos. Todavia, com as mudanças que o mundo tem vivido, até mesmo no âmbito trabalhista, essa descrição já não satisfaz mais. Muitas empresas hoje, tem começado a considerar de maior valor e peso, questões culturais à questões de experiência. Não basta ter um currículo recheado é preciso estar de acordo com os valores da instituição. Isso significa que, pouco a pouco, estamos nos importando menos com o que as pessoas fazem e mais com o quão agregador ela pode ser para a instituição, pelo o que ela é.

E quem eu sou?

Essa pergunta constitui uma das maiores agonias do ser humano. Saber quem você é perpassa conhecimentos profundos de si mesmo e tendo em vista que o ser humano é um ser social e histórico, perpassa entender que estaremos sempre mudando. Conhecer a si é entender suas potências e suas dificuldades, seus gostos e desgostos, o que você acredita e o que você não acredita, suas defesas e o que te afeta. E acima disso, entender que é possível que eles mudem e que tudo bem.

Você se conhece?

SIM, todos nós nos conhecemos de alguma forma. Nem sempre sabemos todas as razões para nossas ações e escolhas, mas conhecemos um pouco desse ser que habitamos.

A questão principal é se estamos dispostos e interessados em nos conhecer mais. A resposta dessa pergunta já nos diz muito sobre nós mesmos. A jornada do autoconhecimento, que alguns autores irão definir como inteligência intrapessoal, é um dos grandes investimentos da atualidade. Mais e mais temos reconhecido o quanto saber de si mesmo impacta a forma como conhecemos o mundo e as pessoas.

E a riqueza disso é inestimável.

Por isso, quando te pedirem para falar de si ou quando você se sentir vontade de responder o que lhe propus no início do texto, abra mão daquela resposta pronta que você coloca no seu currículo. Abra mão do que te disseram que és. Não se deixe definir apenas por uma palavra: advogada, psicóloga, educadora, assistente social, voluntário, médico. Defenda quem você realmente é. Algumas perguntas para te ajudar a pensar:

· No que eu acredito?
· Quais valores eu não abro mão?
· Como eu gostaria que o mundo me visse?
· Quais advérbios eu mais gosto de usar para falar de mim?
· Quais as ideias que eu defendo?

E ai, vai encarar essa jornada?

Vanessa Mattos
CRP 12/19336

--

--