Síndrome de Impostor: lidando com a autossabotagem

Vanessa Mattos
Badico Cloud

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Você já se sentiu como se fosse uma farsa? A sensação é de que os elogios são exagerados, que você não merece o que conquistou e nem o reconhecimento que recebe de outras pessoas por aqui que faz.

E se não bastasse a sensação que você sente de estar enganando as pessoas, há também, a todo o momento, o medo de uma hora essa “máscara” cair e você ser visto como a farsa que realmente é.

Embora esse fenômeno não se caracterize como um transtorno psicológico, ele é altamente pesquisado e dialogado dentro de áreas da psicologia. Isso pois, tem se tornado cada vez mais frequente as pessoas trazerem esse assunto para o espaço da terapia. Vamos descobrir mais como lidar com isso?

O que é a síndrome de impostor

Em resumo, a síndrome do impostor é o nome atribuído ao sentimento de não ser merecedor(a) de suas conquistas, méritos e sucesso. Como se você vivesse uma mentira mascarada e enganasse as pessoas ao redor para acreditarem que você é algo que não é.

É comum que essa sensação venha acompanhada de sentimentos de insegurança, inferioridade, medo, comparação e frustração.

Esse conceito surgiu pela primeira vez em 1978, em um artigo escrito por Pauline R. Clance e Suzanne A. Imes, intitulado “O fenômeno do Impostor em mulheres bem sucedidas: dinâmicas e intervenções terapêuticas”. Essa sensação de que suas capacidades estão sendo superestimadas é mais comum do que se imagina, principalmente em contextos em que a competitividade e a avaliação constante estão presentes.

Alguns sinais que podem nos deixar alerta:

  1. Inferiorização de resultados ou conquistas

Você dificilmente consegue comemorar vitórias ou conquistas. Assim como, tende a menosprezar ou não comentar suas conquistas, como se não acreditasse que as merecesse. Até porque dessa forma, quanto menos pessoas souberem delas, menos pessoas podem acabar descobrindo sua “farsa”.

2. Necessidade de sempre ter que entregar mais:

Nunca parece ser suficiente o que você “entrega”, seja na questão profissional, relacional e até amorosa. Você se cobra para sempre doar e fazer mais do que está fazendo, como se fosse para compensar a “farsa”. A autocrítica excessiva é bastante presente.

3. Necessidade constante de agradar o outro:

Por achar que as pessoas estão superestimando suas capacidades, você acaba se sentindo na obrigação de sempre agradar o outro. E, muitas das vezes, cai também na tentação de se comparar com os outros. O que te leva a acreditar que precisa sempre ser melhor.

4. Sensação de não pertencimento

É comum a pessoa não se sentir pertencente ao local que ocupa, por julgar que você não merece estar ali. Isso pode levar você a se afastar das pessoas e dos grupos existentes.

5. Baixa autoestima profissional

Você tem dificuldade de se reconhecer como profissional e geralmente não comenta com pessoas de fora do trabalho sobre o que faz. Pois tem medo que te julguem não capaz de exercer aquela profissão ou ocupar determinada posição.

Raízes do sentimento de “impostor”

Sentir-se como um impostor tem sido cada vez mais frequente na sociedade atual. Precisamos seriamente estar atentos as influências culturais e sociais envoltas nessa sensação. Isso pois, a constante influência da mídia e as comparações que as redes sociais proporcionam podem colaborar para esse sentimento ganhar forças em nós.

Além disso, a baixa autoestima, a ansiedade e a depressão podem ser fatores associados a essa sensação. Isso pois, reforçam autoimagens que, muitas das vezes, é depreciativa e inferiorizada.

Pesquisas já apontam também para uma possível relação entre a síndrome de impostor com a síndrome de burnout. Isso principalmente, pela presença de despersonalização e exaustão emocional em ambas as síndromes.

Como lidar com a síndrome de impostor

Uma das coisas pouco faladas quando se trata de lidar com a sensação de ser um impostor é a exploração desse significado na sua vida. É imprescindível você entender quais histórias da sua vida estão ligadas a essa sensação.

Isso pois, muitas das pessoas que lidam com esse sentimento foram crianças e adolescentes que vivenciaram situações de não serem valorizadas por seus esforços, de serem diminuídas e comparadas. É notório ainda, a associação desse sentimento a sofrimentos de comparação e exigência constante nos diferentes contextos vividos, desde o ambiente familiar até a escola.

Por isso, um dos passos fundamentais para aprender a lidar com a síndrome de impostor é o entendimento e o aprofundamento dessa questão em terapia. Outro passo importante, é buscar entender quais os contextos que isso mais aparece.

Todavia, para te ajudar a começar hoje a ressignificar a relação com essa sensação, aqui vão algumas dicas:

  1. Valorize suas conquistas e resultados:

Geralmente, as pessoas que lidam com a síndrome do impostor se preocupam muito com aquilo que precisa ser escondido, como erros ou inabilidades. E esquecem de olhar para as coisas que já conquistou e as qualidades que possui.

2. Invista na sua autoestima profissional:

Se é muito difícil para você confiar nas coisas positivas que as pessoas falam sobre o seu trabalho, busque entender o que potencializa sua autoestima profissional. Isso pode envolver: reconhecer sua trajetória, seus esforços até o momento e a confiança das pessoas ao seu redor.

3. Trate o medo do fracasso:

É muito comum que a síndrome do impostor venha carregada de medos: de errar, de não ser bom o suficiente, de fracassar. Trabalhar essa questão na sua vida pode te abrir portas profissionais incríveis, que você ainda não se aventurou porque o medo te impede.

4. Responda os pensamentos automáticos:

De tanto pensarmos de uma maneira podemos passar a acreditar naquilo como verdade absoluta sobre nós. Como a ideia de que não merecemos estar onde chegamos. Por isso, busque responder a esses pensamentos. No começo pode soar forçado, mas certifique-se de encontrar os argumentos certos para lidar com esses pensamentos.

5. Abra mão das comparações:

Eu sei, é bem difícil abrir mão de algo que provavelmente você nem percebe que está fazendo. Mas a mudança de um comportamento vai exigir de você um pouco de consciência dos seus atos, por isso, se esforce para se autocorrigir assim que se perceber fazendo comparações.

6. Compartilhe suas preocupações:

Há alguém no seu ambiente de trabalho que poderia lhe ajudar? Alguém que você confie e que você possa ser honesto(a) sobre o que está sentindo em relação ao trabalho. Escolher um mentor nessa caminhada pode também lhe ajudar a perceber seus progressos e o merecimento por aquilo que conquista.

Espero que esse texto tenha lhe ajudado.
E lembre-se, se autoconhecer é o melhor caminho!

Vanessa Mattos
Psicóloga — CRP 12/19336

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