Setembro amarelo: precisamos falar sobre suicídio!

Vanessa Mattos
Badico Cloud

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É sempre delicado e difícil para as pessoas falarem sobre esse tema, mas sua relevância é gigantesca quando o assunto é saúde mental e emocional. Isso pois, é um assunto grave de saúde pública com índices alarmantes em todo o mundo.

Segundo o ministério da saúde, estima-se que mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio anualmente, sendo a quarta maior causa de mortes de jovens de 15 a 29 anos de idade. Precisamos também salientar que esse fenômeno é multicausal e complexo, com impacto coletivo. Ou seja, se relaciona com diferentes fatores, desde idade, gênero, culturas, classes sociais e muito mais.

Uma pessoa que pensa ativamente em tirar a própria vida já alcançou um grau de sofrimento que para ela é insuportável, a ponto de não se preocupar mais em permanecer viva. Todavia é importante ressaltar que não é que a pessoa não deseje viver, em muitos casos ela deseja sim, mas que não encontra mais caminhos para viver com o sofrimento que sente. E é em busca de parar de sofrer que essa pessoa atenta contra a própria vida.

Suicídio vs ideação suicida

Essa é uma distinção importante de pensarmos. A ideação suicida é na verdade o pensar, cogitar e planejar a tentativa de suicídio. Envolve desde o momento em que essa opção, de se autoferir, vem como uma ideia até o momento em que se começa a planejar sua concretização.

Já o suicídio é o ato em si após alcançar o êxito da ideação, ou seja, a própria tentativa de se ferir com a intenção da morte. A ideação suicida é muito mais comum que o suicídio de fato. E embora haja uma relação entre as duas coisas, muitas pessoas podem apresentar ideação suicida, mas nunca chegarem a concretizar o suicídio.

Assim como, não existe um período específico entre o acontecimento das duas coisas. Ou seja, uma pessoa pode ter uma ideação suicida e concretizar o suicídio no mesmo dia. Ao passo que, também, podem se passar anos desde que alguém começou uma ideação suicida até realmente tentar o suicídio. Todavia, precisamos reforçar que o suicídio é um ato de desespero, seja ele impulsivo ou premeditado.

O grande ponto é entender o momento da ideação suicida como o espaço que temos para auxiliar essa pessoa. E avaliarmos que existem muitos fatores envolvidos.

Sinais de alerta de ideação suicida

O suicídio sempre impacta quem está ao redor, mas precisamos entender que uma tentativa nunca acontece “do nada”. Por mais desesperada que uma pessoa possa estar, ela dá sinais de alerta de que algo não está bem e que precisa de ajuda antes de cometer esse ato.

E aqui não importa se você considera que é uma tentativa de “chamar a atenção”. Quando o assunto é suicídio, sempre devemos priorizar a escuta e o cuidado com essa pessoa. Por isso, aqui estão alguns sinais de que uma pessoa pode estar com ideação suicida:

  1. Tem pensamentos de morte e expressa frases como “ninguém me entende”, “estou sozinho(a) nessa”, “não aguento mais sofrer assim”, “seria melhor sumir”, “seria melhor que a morte viesse”.
  2. Pessoa fala como se despedisse ou começa a preparar coisas como se fosse morrer: comunicar senhas de banco, mostrar onde estão os documentos e afins.
  3. Apresenta falta de esperança com a vida e em fazer planos futuros: “não adianta nem tentar”, “não tem jeito”, “não tem saída”.
  4. Mudanças bruscas de humor, personalidade e sociabilidade: alguém que era muito sociável e agora se isola. Alguém que era muito organizado e passa a perder prazos.
  5. Menos valia: a pessoa começa a se sentir e se descrever como inferior. Se sente um peso, inútil ou sem valor. Como se fosse melhor se não existisse.
  6. Traz o tema suicídio como algo que já pensou ou desejou em algum momento;

Ou seja, há um desamparo, um desespero e uma desesperança em torno daquilo que a pessoa sente. Mas lembre-se, não é porque alguém apresentou um desses sinais que ela já está em risco de vida. Esses são sinais de alerta de que pode estar acontecendo algo e precisamos conversar com essa pessoa.

Estatísticas importantes

Outros dados importantes são as estatísticas de grupos de risco de suicídio. Isso pois, se notarmos os sinais de alerta anteriores e associarmos com os grupos de risco podemos perceber cedo uma ideação suicida.

Entre os grupos de risco estão: pessoas que já tentaram suicídio ou práticas de automutilação; pessoas com histórico de experiências traumáticas: bullying, violência, abuso sexual; histórico de suicídio na família; baixa autoestima; usuários de álcool ou outras drogas; perdas e lutos significativas; histórico de transtorno mental; grupos vulneráveis e que sofrem discriminação, como: refugiados, migrantes, indígenas e a comunidade LGBTQIAPN+.

Como ajudar alguém que com sinais de ideação suicida

Se você tem percebido os sinais de alerta em alguém próximo, mas essa pessoa não falou abertamente com você sobre suicídio, é importante que você converse com ela sobre sua preocupação. Ouvir essa pessoa será primordial para depois escolher uma ação.

Se você percebeu sinais de alerta e a pessoa já lhe falou sobre suicídio em algum momento, é importante que você converse diretamente sobre a busca de auxílio psicológico.

Algumas ações práticas para ambas as situações:

  • Ouça a pessoa, sem julgar ou interromper;
  • Acolha o sofrimento, deixe claro que você está ali para a pessoa e que ela não está sozinha;
  • Reconheça que você não entende (cada sofrimento é único), mas demonstre que se importa;
  • Direcione e, se possível, vá com ela em um profissional da saúde;
  • Mantenha contato mesmo que ela demonstre melhoras;
  • Auxilie essa pessoa a retomar atividades de lazer ou hobbies.
  • Disponha-se a conversar.

Dicas do que não fazer:

  • Não diga que você entende ou dê conselhos: por mais que tenhamos passado por algo parecido, isso pode aumentar o sofrimento da pessoa por achar que estamos minimizando o que ela sente;
  • Não minimize o sofrimento: dizendo que existe gente em situação pior, que é drama ou que é fácil passar por isso;
  • Não deixe a pessoa sem amparo: se você não puder estar próximo dessa pessoa durante a semana, converse com ela para que encontre alguém que possa estar mais perto.
  • Não seja a única pessoa ciente desse sofrimento e da ideação: pessoas precisam de pessoas e nem sempre você estará por perto. Oriente a pessoa a comunicar outras para um cuidado ampliado.
  • Não julgue a pessoa dizendo que ela não faz nada para se ajudar, que está nessa situação por que quer ou qualquer outro juízo de valor seu.

Quando eu estou com sinais de alerta

Agora, se você tem apresentado esses sinais de alerta é o momento de você buscar ajuda. Conte para alguém que você confia e peça para essa pessoa te ajudar a buscar auxílio psicológico. Outra possibilidade é você contatar o Centro de Valorização a Vida (CVV), basta discar 188 ou acessar online. Eles possuem voluntários para lhe ouvir e orientar.

Lembre-se que mesmo que você se sinta sozinho(a), você tem pessoas que se importam com você e te desejam o melhor. Busque o apoio nelas. Sim, as vezes o sofrimento vem de forma tão grande que parece não ter saída, mas ainda existe esperança, não sofra sozinho(a)!

Por fim, esse conteúdo foi pensando em lhe auxiliar você a entender mais sobre o tema. Mas gostaria de salientar que ele não é um manual definitivo sobre o assunto. E que nem sempre teremos clareza em perceber os sinais de alerta e por isso, não devemos nos culpar caso não percebamos. Lembre-se, você também precisa cuidar do seu emocional e mental.

Vanessa Mattos
Psicóloga — CRP 12/19336

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