Uma aparência superficial pode ser tão divertida!— O Multiforme

Chove forte na parte de fora do hotel, entra pela porta uma bela mulher em seus trinta e dois anos, um pouco molhada pela chuva, com seu cabelo ainda pingando, ela tenta mexer eu seu celular e apenas segue com tentativas ineficazes. Assim arruma o cabelo e a roupa e anda em direção ao bar do hotel. Senta-se coloca a pequena bolsa ao lado, o celular molhado sobre a mesa e levanta a mão para pedir algo ao atendente quando é interrompida por um homem de cerca de 40 anos:

- Olá senhorita, posso pagar a sua bebida?

Ela faz uma cara de deboche e diz:

• “Quantos rostos consegue ver no meu rosto?”
• Ahm? Apenas um, eu acho
• Acha ou tem certeza? Minha maquiagem está muito borrada
• Ah! Não está não, está linda!
• Ah, obrigada, mas posso pagar minha própria bebida, não preciso de ajuda
• Ah! Uma mulher brava, não quis ser rude, eu poderia te acompanhar para uma bebida então?
• Talvez, você vai me entreter com alguma conversa interessante ou apenas falar de si mesmo?
• Eu posso te contar uma longa história interessante sobre essa cidade, que tal?
• Gosto de histórias longas, porém aceitarei ouvi-la se dividirmos uma garrafa de whisky
• Eu tenho evitado de beber tanto, porém vou chamar essa ocasião de especial
• Vamos ver então se essa será uma ocasião especial

Fazendo sinal para o atendente o homem diz:

• Garoto uma garrafa de Chivas para nós por favor

Eles recebem a garrafa que desce rapidamente ao decorrer de uma hora de conversa, com muitos sorriso e poucos goles de bebida, a mulher não havia bebido muito, mas o homem já estava sonolento de bebida, e então ele a convida:

• Gostaria de me acompanhar para o quarto 53, podemos continuar essa conversa por lá, o que acha?
• Acho que você deve pagar a conta

Ele rapidamente vira-se para o atendente levantando o braço como um bêbado. Nesse momento a mulher abre um aparente batom, coloca no whisky com gelo remédio para dormir, e guarda o guardanapo sujo de cima na mesa no bolso.

A conta chega, ele vira o resto de whisky do copo e responde:

• Pode passar no cartão tudo
• Não se preocupe, podemos dividir, eu gosto de pagar minhas próprias contas
• Pode passar tudo garçom! (fala gritantemente e com tom de voz bêbado)
• Seu bruto, passe a noite sozinho nesse bar então!

Ele fica confuso e grita:

• Você vai comigo!

E desce o rosto a mesa e começa a dormir.

Ela tira dinheiro da carteira, paga o valor de metade da garrafa e diz:

• Meu marido irá dormir um pouco no bar hoje, ele tem sido muito bruto, me ajuda nessa?
• Sim senhora.
• Obrigada, aqui está metade do valor, o resto pode descontar do cartão dele quando acordar
• Boa noite senhora.

Ela pega a chave do quarto 53, sobe as escadas, e ao avistar uma das câmeras do corredor transmuta de corpo para uma senhora e diz:

• Obrigada pelo bom trabalho Syren

Muda-se novamente para a bela mulher e completa:

• Foi um prazer dona Lara, estava cansada dele, que bom que dormiu rápido

Transmuta-se para uma senhora novamente, e anda errando algumas portas até o 53, arruma os óculos e tenta abrir a porta com a chave, ela abre o trinco e entra fechando a porta em seguida, joga uma pasta com um dossiê com a foto do homem sobre a mesa e diz:

• Sua vez meu filho

Transmuta-se então para um homem de cerca de quarenta anos que abre o dossiê e lê com atenção por alguns minutos e sorri dizendo:

• Filha pode brincar um pouco, papai está cansado

Então se transmuta para uma criança com luvas de frio que da estrelas pelo quarto e abre o cofre com uma enorme destreza, pegando alguns documentos e jogando sobre o dossiê enquanto canta uma musica repetitiva só com pequenos múrmuros, em seguida diz:

• Irmãozinho é sua vez!

Então seu corpo e rosto viram o de um adolescente gótico com luvas pretas que solta um ar cansado e senta em uma mesa de escritório onde tem um notebook em cima, coloca um pen drive no mesmo e começa a mexer rapidamente nele, em poucos minutos transfere uma enorme quantidade de arquivos, guarda o pendrive e diz:

• Argh, quando vamos parar com isso pai?

Muda o seu rosto novamente para o homem de quarenta anos que responde a si mesmo.

• Você se tornou um adolescente muito chato Lit, você sabe bem que esse é o trabalho que paga as roupas caras de sua mãe

Transforma parte de seu rosto no do adolescente e responde:

• Pai isso nem faz sentido, ela nem compra roupas

O rosto desaparece, ficando só o do homem de quarenta anos que diz:

• Haha, eu sei, mas pareceu divertido dizer isso, pena que perdeu seu senso de humor na adolescência

E segue organizando os arquivos, juntando os documentos, tirando fotos do mesmo e guardando novamente ao cofre, então guarda o pen drive junto ao dossiê e sai do quarto deixando tudo no seu exato lugar, enquanto se transforma novamente em uma senhora que anda bem devagar com sua bengala.

No corredor passa pelo homem que dormiu no bar, e esbarra nele dando uma bronca:

• Tem uma senhora passando pelo corredor, seu bêbado!
• Sai do caminho velha, não tá vendo que tô passando?

Por alguns segundos a senhora transforma um de seus braços no da mulher de trinta e dois anos e coloca a chave ao bolso do casaco do homem, dizendo:

• Os homens de hoje em dia são tão brutos
• Não me enche velha, essa noite não!

Ela segue descendo as escadas se transformando em uma bela mulher novamente e saindo pela porta agora seca, com um guarda-chuva na mão e um sorriso no rosto.

Referências:

Para projeto Bakka da Ugly Lab

Ilustração por Sapo Lendário