O Fantástico Museu das Eleições

Caio Tendolini
Bancada Ativista
Published in
5 min readSep 7, 2016

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CARO ELEITOR, SEJA BEM VINDO!

Estamos de portas abertas o até fim de outubro de 2016!
Venha conhecer as práticas do passado!

A entrada é gratuita, o voto é obrigatório.

Regras básicas

Para entender como funcionavam as eleições no passado, é preciso explicar algumas das regras do jogo (regras que não estavam escritas em nenhum lugar, mas que regiam o funcionamento das eleições).

A fórmula da vitória
Antigamente, para ser eleito, a coisa mais importante era conseguir bancar o custo do voto. Basicamente, as eleições eram comercializadas — o resto (ter representatividade, compromissos claros, engajar pessoas) era secundário.

Custo de campanha vitoriosa=[Custo do voto] X [# de votos para ser eleito].

Inflação eleitoral
Durante períodos eleitorais, o custo das coisas explodia. A locação de um espaço, a produção de um vídeo, a contratação de um profissional — tudo era multiplicado por pelo menos 3. E todo ano esse custo subia, fazendo o custo do voto subir.

http://www.asclaras.org.br/@index.php

Quem paga a banda escolhe a música
Naquela época, ninguém queria financiar campanhas políticas, pois a desconfiança era enorme. Assim, os poucos que tinha recursos para bancar os enormes custos de campanhas eram os verdadeiros representados — tinham acesso ao poder, encomendavam leis, definiam a tomada de decisão.

Destrua o semelhante
Na disputa eleitoral, a regra comum era destrua quem é mais parecido com você, pois ele é quem mais disputa seus votos, seu maior rival. Dessa forma, as causas sempre perdiam para as divergências e individualidades.

Pactos pragmáticos
Para fazer parcerias eleitorais, a regra básica era entender quem poderia oferecer mais. Mais tempo de TV e Rádio, mais recursos, mais votos no geral. Não importava se as ideias eram diferentes das suas — aliás, quanto mais diferente, mais acesso você teria a votos que você não conseguiria antes! Só que, quando eleito, esses pactos poderiam se virar contra você.

SÓ QUE NÃO

Só existe o executivo
No passado, toda campanha, a mídia, os eleitores, todo mundo só prestava atenção nos candidatos para o executivo — prefeito, governador e presidente. Assim, criava-se um canal silencioso para o poder através do legislativo, que durante muito tempo foi aproveitado por gente bonita, elegante e sincera.

Para se candidatar

Se você quisesse se candidatar, essas eram algumas das práticas do passado que tinha que encarar.

Tenha Costas Quentes
Para se candidatar, se você realmente buscava vencer, precisava de costas quentes. No caso, basicamente, você precisava de muitos dinheiros ou de bons amigos no poder.

O Partido Fachada
Era o partido que vendia sua legenda para pessoas se candidatarem, a um preço modesto para manter a lojinha aberta.

“Claro que você pode se candidatar pelo meu partido! Basta que você cubra alguns custos.”

A Candidata Cota
Naquela época, havia uma regra de que 30% dos candidatos de um partido tinham que ser mulheres. A intenção por trás era boa: garantir mais mulheres na política. Mas, na prática, isso se transformava nas candidatas cota, que eram convocadas para se candidatarem apenas para garantir mais candidatos homens, estes sim estavam entrando para ganhar.

Para se eleger

Uma vez candidato, haviam algumas práticas que aumentavam sua chance de ser eleito.

O uso da máquina
Os candidatos que já estavam no cargo contavam com um arsenal de benefícios para tentarem se reeleger. Eles colocavam pessoas contratadas em seu mandato para fazer campanha antecipada; utilizavam bases de dados públicas para falar com possíveis eleitores; aprovavam leis específicas ou verba parlamentar nas vésperas das eleições, entre outras práticas.

Tendo a máquina ou não, era de praxe também se cercar de algumas figuras:

O Cabo Eleitoral Remunerado
Era o indivíduo que vinha negociar votos no atacado em troca de dinheiro.

"Eu consigo 500 votos no meu bairro (ou na minha igreja, no meu sindicato etc)! Quanto você paga por isso?"

O Financiador
Era aquele que investia em política para conseguir ter mais acesso ao poder.

"Eu tenho o dinheiro que você precisa para vencer! O que fará por mim?"

Vc vota e de repente…. PEI!

O Candidato Puxa-Votos
Era o candidato popular, que recebia muitos votos e que puxava consigo outros candidatos que não eram populares, e muitas vezes, eram indesejados. Isso gerava o efeito "celebridade na política", um candidato fachada, a serviço de outros, sem nenhuma representatividade real.

O Boca de Urna
Indivíduo que colocava em risco sua liberdade para ficar convencendo pessoas a votar em alguém no dia das eleições, em troca de um troco.

Para escolher em quem votar

Agora, com candidatos e período eleitoral a todo vapor, era assim que você conseguia saber mais sobre em quem votar.

Horário eleitoral
Durante as eleições, haviam os Programas de TV e Rádio em que os candidatos se apresentavam para o público. Veja, ao lado, uma fórmula rápida de como eram feitos.

A Chuva de Santos
No dia das eleições, os locais de votação eram completamente cobertos por Santinhos (ironicamente, pedaços de papel com a cara e o número do candidato), em busca de um eleitor desinteressado, que estava pronto para desperdiçar seu voto.

O Debate Quarta-B
Para conhecer as ideias dos candidatos, o formato dos debates eleitorais era um verdadeiro reality show da depressão — candidatos se atacando, mentiras ditas com voz de certeza, uma esquizofrenia. Um perguntava "Que horas são?", o outro respondia "Eu uso calça amarela porque é bom para o POVO HUMILDE DE PERIFERIA". Além disso, a participação nesses debates era restrita, não importava quanta aprovação um candidato tivesse.

Seria bom que fossem práticas do passado né?

Infelizmente, assim funcionam as eleições HOJE.

E quanto mais distante, menos informado e mais indiferente você estiver, mais esse tipo de prática se perpetua!

Foi por isso que nós criamos a Bancada Ativista.

Para experimentar novas formas de campanha, focado no legislativo, onde engajamento vale mais que grana e acordos são feitos em torno de princípios e práticas. Para provar que com outras formas de fazer campanha conseguimos de fato eleger novas pessoas.

Para começar a colocar essas práticas acima no museu.

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Caio Tendolini
Bancada Ativista

Amante de projetos colaborativos que geram impacto positivo na sociedade. @update-politics