Oxigênio político

Pedro Telles
Bancada Ativista
Published in
3 min readJun 28, 2016

Política é, hoje, um assunto tóxico. Se você se posiciona, mesmo que de forma despretensiosa, você arrisca perder um amigo, um amor, um emprego.

A cada dois anos, a GfK Verein faz um levantamento de quais são as profissões mais e menos confiáveis em diversos países. No Brasil, e em grande parte do mundo, é comum ver políticos na última colocação. Isso tem muito a ver com um estudo da Universidade de Columbia e da fundação Friedrich-Ebert-Stiftung que, após analisar 843 protestos de grande escala ao redor do mundo, concluiu que o principal fator motivador de quem vai às ruas hoje é a falta de uma democracia real, que responda às demandas e necessidades do povo. E é importante também olhar para o número de votos brancos, nulos e abstenções, que há uns bons anos não para de crescer por aqui, chegando a 29% do total de eleitores em 2014.

Não existe uma forma fácil de virar o jogo, não há como tornar política um assunto bem quisto do dia para a noite. Mas tampouco existe vida em sociedade sem política — você pode até negá-la, mas não pode fugir da sua influência. O que fazer, então?

A solução passa, a grosso modo, por duas coisas: i) mudar as regras do jogo para garantir que os que estão no poder ouçam a voz do povo, e ajam de acordo; e ii) encontrar formas de ocupar os espaços de poder com pessoas que busquem algo além de seus interesses pessoais, e de fato nos representem. Uma coisa geralmente ajuda a chegar na outra, e ambas exigem bastante mobilização popular.

Olhando para isso, e percebendo que se nada for feito a coisa só vai piorar, um grupo de pessoas se juntou para criar a Bancada Ativista. A proposta é simples: fazer uma campanha eleitoral cívica que ajude a eleger ativistas, de múltiplos partidos, com sólido histórico em diversas causas, compromisso comprovado com uma série de princípios e práticas, e capacidade de renovar a política institucional. A proposta é, ao mesmo tempo, desafiadora: em uma realidade na qual campanhas eleitorais são ditadas por partidos (que são importantes, mas têm suas várias limitações), a figura de um comitê cívico de campanha como esse sequer é prevista na lei. Sendo assim, queremos ajudar a solucionar o segundo desafio que mencionei no parágrafo acima de uma forma que também cutuque o primeiro.

A Bancada Ativista não resolverá todos os nossos problemas — e nem pretende. Mas, se der certo, pode ajudar a chacoalhar um sistema estagnado, trazer visibilidade a causas e atores geralmente marginalizados no jogo político, e trocar algumas peças de lugar no tabuleiro.

No experimento da Bancada Ativista, tão importante quanto eleger gente que nos representa é descobrir que existe uma forma de fazer isso que escapa dos vícios que tornaram a política tóxica. É encontrar oxigênio no sufoco que vivemos. A jornada é longa, mas sem dúvidas vale a pena.

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