Ilustração de Miguel Brieva para ‘La carta por la democracia’

Política Experimental

Caio Tendolini
Bancada Ativista

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No Século XXI, vivemos uma tensão transformadora na política. Por um lado, dia após dia, escândalo após escândalo, ela agoniza. Fica claro que temos um problema profundo em seu funcionamento. Tão complexo que gera repulsa. Por outro, vemos florescer algo maravilhoso nas bordas da política institucional — uma série de experimentos que vão testando novas formas de fazer política. Tão potente que gera convocação.

Hoje vemos que os protestos que eclodiram em diversas partes do mundo na última década abriram espaço para iniciativas experimentais que avançam sobre a política institucional. Na Espanha, dos indignados do #15M às confluências municipalistas. No México, de #YoSoy132 ao WikiPolítica. No Chile, dos Pinguins à Revolução Democrática. São iniciativas organizadas para diminuir o gap entre governantes e governados, e ressignificar o processo de escolha de representantes e o exercício da representação.

Experimentos que visam atualizar o sistema político

Eduardo Galeano durante o #15M na Espanha

No Brasil, de junho de 2013 para cá é possível observar uma explosão de insatisfação com o sistema político como um todo. E enquanto o panorama nacional impede a manutenção de qualquer esperança, vemos surgirem iniciativas municipalistas capazes de nos provocar. Plataformas cidadãs que buscam congregar a sociedade civil em torno de disputas eleitorais, como o Muitxs: cidade que queremos em Belo Horizonte.

Aqui em São Paulo, nessa mesma linha, estamos iniciando uma construção para eleger uma Bancada Ativista para a Câmara de Vereadores. Um experimento político que visa dar suporte à candidaturas de ativistas da cidade através de uma campanha colaborativa, e funcionar como um laboratório de aprendizagem coletiva sobre eleições.

Uma construção múltipla, baseada no aprender fazendo, que busca testar algumas hipóteses:

As hipóteses

1)A forma como as campanhas eleitorais são feitas hoje perpetuam um sistema político que está falido. O sistema eleitoral atual incentiva uma dinâmica simples de campanha — quem tem acesso a dinheiro, ganha sempre; quem não tem, perde quase sempre. Se não mudarmos isso, não conseguimos romper o ciclo que inevitavelmente leva à operação lava-jato.

Será que, a partir do esforço coletivo dos cidadãos, é possível fazer campanhas de uma outra forma?

2)É possível construir colaboração real entre candidaturas. Hoje as candidaturas se baseiam apenas em competição — uma campanha vs as outras. Até (e principalmente) dentro de partidos políticos isso é muito comum. Quando se resolve fazer colaboração, ela se dá em torno das questões mais pragmáticas — grana, tempo de rádio e tv, fisiologismo puro. Se não mudarmos isso, não conseguimos romper com ciclo que inevitavelmente leva ao golpe/impeachment (não importa como você o chame).

Será possível, dentro e fora de partidos, que candidaturas que compartilham valores e princípios possam trocar, se fortalecendo e crescendo juntas?

3)Política se faz de perto. No cenário atual da política, se candidatar para de fato representar um coletivo de pessoas e propostas é um sacrifício — do seu tempo, da sua vida pessoal, da sua saúde física e mental. Temos que reconhecer isso e dar suporte para quem se arrisca a fazê-lo, na ida e na volta. Se não encontramos formas de manter-nos conectados, não rompemos com o ciclo do eles (políticos) e nós (cidadãos).

Será que é possível criar uma rede de suporte e participação em torno dos candidatos que funcione antes, durante e depois das eleições?

4)O melhor lugar para começar é na cidade. A cidade é onde começa a mudança. No bairro, nas ruas, na compreensão da dimensão e valor do espaço público. Porque é possível, porque conseguimos vê-la acontecer, porque é onde o impacto imediato ocorre.

Será que é possível construir a transformação de baixo para cima, tendo as cidades como ponto de partida?

5)A cidadania se move mais rápido que as instituições. Enquanto vemos a falência do sistema político formal, vemos uma sociedade cada vez mais vibrante. Dos secundaristas que dão aulas de como se deve pensar em educação, ao Liniker que ensina que batom cai bem com voz bem grossa. Da doce fúria das mulheres ecoando pelas ruas às microrevoluções por direitos, pelo ocupação de espaços públicos e por cidades para pessoas. Se não encontrarmos formas de levar isto para dentro da política institucional, não haverá mudança que se sustente.

Será que é possível permear a política institucional com essa efervescência sem enfraquecer a sociedade civil?

6)Precisamos redescobrir o legislativo. Sempre falamos de executivo, mas esquecemos que o legislativo tem muito poder. Recentemente conhecemos de perto o nosso Congresso Nacional, e dá pra afirmar que ninguém ficou contente com o que viu. Se olharmos para o legislativo a nível estadual e municipal, não é diferente. Se não cuidarmos do legislativo, qualquer prefeito, governador ou presidente poderá ficar rendido.

Será que conseguimos fazer uma iniciativa focada no legislativo, sem ignorar a disputa pelo executivo, mas tampouco sem ser fagocitada por ela?

7)Precisamos formar uma nova geração. A transformação é necessariamente um processo de cuidado, de longo prazo. Existe um vácuo sendo criado em nossa política, que será ocupado por quem estiver pronto. Para estar pronto, nós precisamos decifrar a política institucional e isso começa pelas eleições. Não podemos perder mais tempo.

Será que estamos prontos para encarar um processo de longo prazo?

Por fim, aceitar que se tudo der certo, não vamos resolver tudo. É óbvio que não vai dar tudo certo, mas é importante percebermos que nenhuma iniciativa é capaz de oferecer todas as soluções para os problemas que enfrentamos. Precisamos reconhecer que qualquer iniciativa é limitada, insuficiente e cheia de contradições. Que é necessário se aproximar e conseguir construir com outras iniciativas, com suas potências. Se não percebermos isso, vamos cair no erro de apostar todas as fichas em uma iniciativa, ou querer centralizar tudo dentro da mesma construção.

Será que conseguimos evitar a disputa por protagonismo?

Vale ressaltar que isso não é um manifesto. Não foi escrito com o cuidado que requer. Não circulou entre todos os participantes para contemplar suas opiniões. Essa é a percepção de uma das pessoas envolvidas, ou seja, insuficiente para fazer a síntese desse processo.

E não podemos esquecer: como todo experimento, há mais suposições que certezas; como todo processo real de aprendizado, haverão mais erros que acertos; e como tudo que existe, pode acabar amanhã.

Para saber mais sobre a Bancada Ativista, entre aqui. E se te interessar, cola junto.

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Caio Tendolini
Bancada Ativista

Amante de projetos colaborativos que geram impacto positivo na sociedade. @update-politics