A jornada da Guilda de Acessibilidade
A acessibilidade digital está se tornando um tema cada vez mais importante em nosso mundo altamente conectado. O que antes era um assunto negligenciado agora é reconhecido como uma necessidade essencial para garantir que todas as pessoas, independente de suas habilidades e necessidades, possam acessar produtos e serviços.
E foi a necessidade de fomentar mais sobre o tema, conscientizar as pessoas sobre a importância e tornar nossos produtos e serviço acessíveis para toda a empresa que nasceu a nossa Guilda de Acessibilidade.
Ela surgiu em 2021 no time do Centro de Excelência de UX, mais conhecido como CEUX, e atualmente, reúne profissionais de diversas áreas. Ela foi o primeiro plano para disseminar a cultura de acessibilidade e entendermos as barreiras existentes.
Neste artigo, vou contar um pouco sobre a jornada da Guilda de Acessibilidade, destacando sua importância e compartilhando lições valiosas para quem deseja promover a acessibilidade em suas organizações.
Tá, então o que seria uma Guilda de Acessibilidade?
Em um dicionário na internet, encontramos a seguinte definição:
[Guilda] Substantivo feminino: associação que agrupava, em certos países da Europa, durante a Idade Média, indivíduos com interesses comuns (negociantes, artesões, artistas) e visava fornecer assistência e proteção aos seus membros.
No Banco Carrefour, definimos Guilda de Acessibilidade como um coletivo multidisciplinar em uma organização, visando identificar e eliminar barreiras de acessibilidade em produtos e serviços. É um espaço onde o conhecimento é compartilhado, melhorias nos produtos são discutidas e treinamentos são oferecidos às equipes. É um local para trocar ideias e experiências sobre acessibilidade.
Como acontece as reuniões
Nossos encontros acontecem regularmente, a cada duas semanas, e todas as pessoas que fazem parte da Guilda são incentivadas a propor tópicos de discussão para as próximas reuniões. Isso promove a participação ativa e evita sobrecarregar a pessoa responsável pela Guilda.
A seguir trago uma pequena amostra de alguns temas tratado nas nossas reuniões:
- Análise de acessibilidade dos produtos e sistemas internos.
- Análise de peças e documentações do time de marketing.
- Promoção de eventos dentro e fora da empresa.
- Promoção de treinamento para os times (UX, QA, Devs e demais áreas interessadas) para disseminar a cultura de acessibilidade.
Quem sabe essas pautas já são um começo para você puxar uma Guilda de Acessibilidade no seu time! Fica a dica, ein! 😊
A Guilda de Acessibilidade não se limita a reuniões formais. Às vezes, dinâmicas como o brainstorming são usadas para gerar ideias e identificar oportunidades.
Exemplo disso, foi uma que encontramos nas redes sociais do Banco, bem no início da Guilda. Após uma análise identificamos melhorias que poderiam ser feitas, como a descrição das imagens que eram divulgadas por lá, e que a ausência desta descrição gerava barreiras para pessoas cegas.
Após uma reunião com o time de Marketing fizemos um treinamento com a equipe e começamos a acompanhar as descrições. No início, esse apoio aconteceu em um grupo via WhatsApp para ver a evolução do trabalho. Foi um sucesso! Esse é um pequeno exemplo na nossa atuação como Guilda.
Organização da Guilda
É super importante ter uma pessoa responsável pela Guilda. Essa pessoa desempenha um papel fundamental na organização das atividades, na criação de agendas e na coordenação com outras áreas da organização.
Lembrando que a responsabilidade não é apenas dessa pessoa na liderança. Todas as pessoas que fazem parte da Guilda têm um papel fundamental. Ela é de responsabilidade de todas e todos.
Outro papel importante é ter uma ata da reunião, dessa forma quem não pode participar fica por dentro de tudo que rolou no encontro. Essa ata pode ser feita por uma pessoa responsável ou por meio do uso de alguma ferramenta de Inteligência Artificial, isso fica a critério do grupo definir. Mas é importante que as notas sejam adicionadas a uma plataforma de compartilhamento, como o Notion, e compartilhadas com as pessoas integrantes por meio da ferramenta de comunicação de vocês — no nosso caso é o chat no Google.
Por aqui, nos organizamos através do Notion. É lá que documentamos tudo. Desde uma apresentação de integrantes até as nossas atividades, planejamento, nossas iniciativas, boas práticas.
Temos também um repositório de materiais sobre o tema para divulgação dentro do Banco. Esses materiais têm desde vídeos, indicação de livros, artigos, profissionais que falam do tema, comunidades, projetos e gravações. É uma curadoria riquíssima que qualquer pessoa pode consumir e aprender um pouco mais sobre o tema.
No Notion também cadastramos nosso backlog com todas as ideias e iniciativas. Isso ajuda a dar visibilidade de cada atividade e também a definir cada responsável pelo que será realizado.
Nossas iniciativas
Ao fazer a lista das nossas iniciativas, fiquei refletindo o quanto já trabalhamos e quanta coisa legal está em andamento. E como cada uma delas teve um impacto positivo na vida das pessoas, seja ela pessoa colaboradora ou cliente.
- Acessibilidade em Foco (Testes ao vivo de Acessibilidade via leitor de telas, aberto para toda a empresa).
- Treinamentos sobre Acessibilidade Digital.
- Sala de acessibilidade (Agenda de consultoria e suporte sobre o tema).
- Semana da acessibilidade — 3ª edição.
- Estudo sobre biometria facial (Com foco em acessibilidade).
- Pesquisa de Autoavaliação sobre o tema.
- Manual de comunicação inclusiva.
- Claire guia de redação.
- Especificação de acessibilidade.
- Apoio e validação do Atendimento em Libras.
- Análises de Acessibilidade do E-commerce (Varejo).
- Análises de portais internos (Treinamentos, Intranet, etc.).
- Comitê de Acessibilidade do Grupo Carrefour.
- Patrocínios e apoios em evento de tecnologia com intérprete de libras (Vagas UX, Seminário UXCO, UXPA, DEX).
- Apoio com o time de Marketing para construir comunicação (interna e externas) de forma mais acessível / Descrição das imagens das redes sociais.
- Apoio ao time jurídico para que nossos contratos seja mais acessíveis e de fácil entendimento para todos (Legal Design e Visual Law).
Hoje contamos com o apoio de dois especialistas em acessibilidade, o Mauricio Sá e a Ana Cuentro, com esse super apoio conseguimos dar uma tração maior nas atividades e iniciativas.
Caso queira saber mais sobre nossas iniciativas vou deixar o artigo escrito pelo Paulo Aguilera Filho, lá, ele detalha melhor cada uma delas.
Desafios
Assim como qualquer outra área também temos alguns desafios e sempre temos pontos de melhoria para evoluir e construir uma Guilda cada dia melhor. Sabemos que temos muito caminho pela frente, mas o primeiro passo já foi dado.
E sim, eu vou dar aquele velho conselho: se você quiser implementar uma Guilda aí no seu time, não tenha medo, e se tiver vá com medo mesmo. Os desafios fazem parte do processo.
A seguir listo alguns desses desafios que encontramos aqui:
- A falta de engajamento das pessoas, principalmente de outras áreas fora do eixo de Design. Muitos entram para conhecer, mas não mantêm a frequência nas reuniões.
- Envolvimento de outras áreas do Banco para conseguirmos dar andamento com mais agilidade em alguns projetos e também ampliar a diversidade de visões discutindo sobre o tema. Ex: pessoas do RH, Produto etc…
- Dificuldade de dar tração em alguns projetos por falta de pessoas ativas na Guilda.
Lembrando que todo desafio pode se transformar em oportunidade quando percebemos ele como uma chance de crescimento.
Colhendo os frutos
Lembram que no início do texto eu falei sobre colher os frutos? Pois é, já começamos essa colheita. Esse ano tivemos o privilégio de sermos premiados na categoria Público Privado no maior festival de acessibilidade do Brasil, o Link. Esse festival é promovido pela Hand Talk, que é uma empresa focada na inclusão de pessoas com deficiência auditiva.
Esse prêmio tem muitas pessoas por trás dele, e só foi possível porque cada uma se dedicou e fez o seu melhor para alcançar uma meta única: tornar nossos produtos mais acessíveis e levar o conhecimento para todo o time. Foi uma premiação extremamente importante para dar mais visibilidade para o nosso trabalho e escalar o tema para toda a companhia.
Mas esse não foi o maior reconhecimento que tivemos… esses dias atrás tivemos uma reunião com vários times para apresentar as entregas do trimestre. Uma dessas entregas foi um fluxo de fatura. O desenvolvedor que apresentou a entrega chegou na fase de mostrar como ficou a especificação de acessibilidade do fluxo, e foi tão emocionante ouvir ele falar com orgulho o quanto ele aprendeu com o time e não só mostrou como ficou o fluxo via leitor de tela, mas deu uma mini aula para todo mundo que estava ali mostrando a importância de termos os nossos produtos acessíveis. Isso, para mim, foi o maior fruto que estamos colhendo: a conscientização e o comprometimento das pessoas dos times, como evidenciado por um desenvolvedor que se tornou um defensor entusiasmado da acessibilidade. A cultura de acessibilidade não é algo do dia para noite. É um trabalho de formiguinha.
A acessibilidade é um trabalho contínuo, mas os frutos colhidos são inestimáveis.
A Guilda de Acessibilidade é um exemplo de como a inclusão digital pode ser promovida com sucesso.
Conclusão
Acessibilidade foi um tema que me chamou muita atenção quando fiz a minha migração de carreira. Quando pensei em mudar, o intuito era ver o impacto do meu trabalho na vida das pessoas. E nos meus estudos eu pude perceber que através da acessibilidade eu poderia ver esse impacto que eu tanto buscava.
Hoje me sinto muito feliz e grata por poder participar de uma Guilda onde eu aprendo tanto e que, com o esforço de cada pessoa ali, estamos literalmente impactando vidas.
Tem muitas pessoas que gostaria de agradecer, mas para não arriscar de esquecer ninguém ficam aqui os meus sinceros agradecimentos a todos do time Banco Carrefour, ao time da Guilda de Acessibilidade e as pessoas que por lá passaram e deixaram seu legado. Gratidão a cada um! 🌻