COMO NÃO GANHAR MUITO DINHEIRO COM SEU NEGÓCIO

Felipe Luz
banco next
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5 min readJun 25, 2019

(mas ajudar a construir um mundo mais justo)

Nos dias 01 e 02 de junho aconteceu o Festival Path e a gente colou por lá a convite do next pra acompanhar a programação e refletir um pouco sobre o que significa empreender em 2019.

Pensar e falar sobre empreendedorismo real em um momento onde muitas pessoas contam suas trajetórias de forma cinematográfica e distribuem fórmulas mágicas para o sucesso já é um desafio por si só.

Vivemos num país onde o empreendedorismo se dá na maior parte dos casos por necessidade, não simplesmente por vontade. Vivemos num país onde a maior parte de nós vem de lares de classes mais baixas.Isso significa que nós, empreendedores sem herança, passamos a maior parte do tempo correndo atrás, fazendo acontecer e tentando solucionar da forma mais criativa possível os problemas do dia a dia.

Por isso eu me senti tão privilegiado em poder passar dois dias inteiros escutando pessoas incríveis falando sobre temas diversos e tentando usar a mesma criatividade que preciso usar pra solucionar as tretas da vida pra transformar tudo em aprendizado.

O primeiro aprendizado que tiro é justamente esse, TUDO é aprendizado.

Ouvir é uma coisa valiosa e a gente não se dá conta disso. Acredito muito que grande parte do que me faz um bom empreendedor (desculpa a falta de modéstia aqui) é a habilidade de escutar qualquer coisa e relacionar isso de alguma forma com o meu trabalho.

Em eventos como o Path eu sempre procuro ver palestras que falam sobre temas diversos. É claro que palestras sobre empreendedorismo são legais e podem ajudar muito, mas criatividade não é um dom, é algo que se pode adquirir e que só vem a partir do exercício. Pra mim, ver pessoas que atuam em áreas diferentes das minhas falando sobre coisas que eu não necessariamente refletiria sobre é uma forma incrível de conectar pontos que não são óbvios e, assim, exercitar essa criatividade.

Muitas vezes temos questões diferentes em cada área mas formas similares de resolvê-las, então ver alguém falando sob uma perspectiva diferente da sua pode te trazer insights pra solucionar aquele problema infernal que tá tirando seu sono há semanas.

Uma frase que ouvi durante o Path e que também me fez pensar foi a seguinte:

O mercado tem medo do novo.

Eu concordo 100% com isso.

O mercado é ditado por quem está no topo, pessoas que não querem lidar com coisas que eles não fazem a menor ideia de como surgiu.

Essa é uma lição que a gente geralmente aprende na porrada do dia a dia, por exemplo, quando você apresenta uma ideia que o cliente ama, mas acha melhor seguir com a outra empresa que faz as coisas mais parecidas com todo o resto que já é feito.

É muito frustrante esse aprendizado.

Se o mercado tem medo do novo, como eu vou conseguir fazer parte dele?

Bom, não é fácil mesmo entrar no mercado. Não basta ter uma ideia genial.

O jogo do mercado é complexo e a gente precisa de tempo pra entender e aprender a jogar.

Quando a gente tá começando queremos fazer logo, ganhar dinheiro logo, atingir o status de sucesso logo. A menos que você tenha muito dinheiro pra investir no seu negócio ou seja um desses casos de muita sorte, não vai ser rápido e não vai ser fácil conseguir essas coisas.

O jogo do mercado é um jogo de plantar sementinhas. No mercado de audiovisual isso significa fazer um monte de reuniões que não dão em nada, fazer um monte de trampo que a princípio não vai te satisfazer, mandar mil emails e nunca receber resposta… até que um dia, alguém viu seu trabalho, leu seu email, ouviu seu projeto e curtiu.

Essa pessoa talvez não feche um job logo de cara, mas eventualmente ela te indica pra alguém, que te indica pra alguém, que te contrata pra um trabalho que não é exatamente o que você queria fazer, mas que pode render alguma coisa muito legal um dia.

E assim você vai plantando essas sementinhas, administrando prospecção, com trabalhos comerciais (os boletos não param de chegar enquanto as sementinhas crescem) e com a sua produção autoral.

É um jogo difícil porque muitas vezes a gente não tem tempo pra esperar as sementinhas brotarem. A vida vai seguindo seu rumo, as coisas vão acontecendo e a gente vai se distanciando dos nossos objetivos. E enquanto isso, enquanto você tá ralando pra pagar as contas, muita gente vai ficar famosa contando como conseguiu transformar uma ideia lixo em um negócio milionário.

Então precisamos respirar fundo e lembrar porque fazemos o que fazemos, qual o nosso objetivo maior com esse negócio. Achar as soluções criativas pros nossos problemas e subverter nossa relação com o mercado.

Lembrar que o mercado não gosta do novo mas que o novo é inevitável.

Olhar ao nosso redor e ver as pequenas mudanças que provocamos, respeitar o caminho que traçamos até aqui e, principalmente, entender que sucesso não é uma coisa só.

Por fim, um aprendizado que trago como um lema de vida: ninguém chega em lugar nenhum sozinho.

Ver e ouvir pessoas com histórias parecidas com as suas é importante, mas não só para nos reconhecermos e nos sentirmos motivados. É importante ter esse lema em mente para lembrarmos que não chegamos aqui sozinhos e que se quisermos um mundo mais justo (a gente quer, tá? Só lembrando…) precisamos trazer mais gente conosco.

Acredito que TODO empreendedor precisa ter uma visão social do seu negócio.

Eu sou homem, branco, de classe média em uma posição que é considerada de sucesso nos parâmetros da nossa sociedade.

Acredito que é importante não só reconhecer esses privilégios, como também me perguntar: O que isso significa pra mim e pras pessoas ao meu redor?

Eu não cheguei onde estou sozinho, e se eu quero usar esses privilégios para provocar alguma mudança no mundo eu preciso lembrar disso. E você aí, pessoa que está começando a prosperar de alguma forma com seu negócio, precisa lembrar disso também!

Quando o empreendimento no qual investimos tempo e dinheiro começa a andar, a gente começa a ter algumas escolhas pra fazer. Podemos seguir as práticas de mercado, contratar pessoas pagando o piso e manter nossa margem de lucro alta. Possivelmente você vai ganhar mais dinheiro e ninguém vai te questionar por isso (pelo menos por algum tempo). Mas a sua empresa não vai fazer nenhuma diferença no mundo.

VOCÊ vai ganhar dinheiro, VOCÊ vai ser bem sucedido, VOCÊ vai ter reconhecimento.

Só que VOCÊ não chegou até aqui SOZINHO. Lembra, né?

Estar em um evento composto por palestrantes e público diverso, como o Path, me fez pensar muito sobre isso.

Todo mundo precisa de apoio, eu precisei de apoio pra chegar aqui e agora eu posso apoiar outras pessoas pra que elas venham comigo. Pagar seus colaboradores de forma justa e contratar pensando em diversidade não é simples, mas tentar evoluir como profissional sem que alguém te ofereça uma chance também não é.

Não é simples ter responsabilidade social, mas é a única opção para nós como empresas construirmos uma sociedade melhor.

Eu não gosto do mundo como ele está hoje.

Eu não gosto de ver amigos no nordeste, de onde eu vim, com menos oportunidades.

Eu não gosto de ouvir alguém me contando que recebeu uma proposta de um trampo incrível, mas que seria “pago” com divulgação.

Eu não gosto quando dizem que é só a gente parar de reclamar e se esforçar que a gente chega lá.

Como eu posso mudar esse mundo com a minha empresa?

Não sei exatamente mas, ter isso em mente e de fato fazer o que está ao meu alcance é o que vai nos levar a uma sociedade mais justa, onde todos tenham oportunidades realmente parecidas.

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Felipe Luz
banco next

na internet BR ninguém fez mais vídeo que eu. Diretor de Fotografia na Apartamento Filmes.