Cenário de curto prazo para 2022

Thiago Lombardi Terra
banQi
Published in
8 min readMar 11, 2022

O ano mal começou e já teve eventos suficientes para uma retrospectiva marcante. Estamos apenas em março de 2022 e já vivenciamos:

  • Pico nos casos confirmados de Covid-19 (e avanço da vacinação);
  • Guerra entre Rússia e Ucrânia;
  • Fortes chuvas em diversas regiões do Brasil.

Pensando nesse cenário bastante angustiante, comecei a analisar a cadeia de eventos e seus potenciais desdobramentos no curto prazo. Como todos esses eventos devem impactar preços, inflação e a cadeia de suprimentos? Antes de responder, farei uma breve análise dos cenários relacionados a cada tema.

COVID-19:

De acordo com os dados do consórcio de imprensa (Globo):

  • 82% da população brasileira recebeu ao menos uma dose;
  • 73% da população está totalmente vacinada;
  • 33% recebeu a dose de reforço (our world in data)

O número é animador, mas ainda temos bastante espaço para aumentar a cobertura vacinal.

https://covid.saude.gov.br/
https://covid.saude.gov.br/
https://ourworldindata.org/covid-vaccinations?country=BRA

As mortes, que já ultrapassaram 650 mil no Brasil, são certamente a pior consequência da pandemia. Além disso, o impacto sobre a força de trabalho também foi brutal. Muitos trabalhadores foram contaminados e ficaram afastados de seus postos de trabalho. Isto tem um impacto em toda a economia. Além da própria infecção, que afeta a saúde dos trabalhadores, a Covid-19 também teve outros efeitos, como:

  • Sobrecarrega no sistema de saúde;
  • Queda na produtividade, pelo afastamento dos colaboradores.

Não realizei uma análise de causalidade estatística, mas é inegável que o avanço da vacina culminou com a queda de óbitos pela Covid, o que reforça a importância da vacina, aliada às medidas de prevenção amplamente difundidas.

Ruptura na Cadeia de Suprimentos

A cadeia de suprimentos, de acordo com o Investopedia, é uma “rede que envolve companhias e fornecedores que participam na produção e distribuição de um produto(s) específico(s) para um comprador final. Portanto, envolve diversas etapas do setor produtivo, como, por exemplo:

i) Compra da matéria-prima;
ii) Armazenamento da matéria-prima;
iii) Transformação desta matéria-prima em produto final;
iv) Armazenamento;
v) Embalagem;
vi) Distribuição do produto final.

De acordo com a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), a incerteza causada pelas contaminações (vide gráfico do caso Brasileiro de Covid, exposto acima). Ao mesmo tempo, com o crescimento do comércio eletrônico, as taxas dos fretes estão subindo e muitos portos não conseguem dar vazão à demanda.

Ou seja, há um choque de demanda, pois a procura por diversos itens aumentou provocando também aumento nos custos e, consequentemente, o tempo de entrega até o consumidor final.

Mas, afinal, como isso tudo te afeta? De várias formas. Veja só!

  • Pela escassez dos produtos, o preço aumenta (pressão inflacionária);
  • Escassez de matéria-prima para a produção de alguns bens;
  • Cancelamento de viagens pelas companhias marítimas, no início da pandemia (CNN, 2021)
  • Maior tempo de descarga dos itens, por diversas medidas sanitárias exigidas pelos diferentes países

Agora, a cadeia de suprimentos está sofrendo outra pressão, por conta da guerra entre a Rússia e Ucrânia, que falaremos logo abaixo…

Preços dos Fretes

De acordo com o índice FBX (Freightos Baltic Index), que mede a série histórica de preços semanais do frete houve uma evolução de preços muito forte desde o início de 2021, criando mais um canal de pressão nos preços, por conta dos transportes durante este período.

https://fbx.freightos.com/
https://fbx.freightos.com/
https://fbx.freightos.com/
https://fbx.freightos.com/

GUERRA ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA

Muitos países sancionaram a Rússia, com diversas medidas que impactam fortemente àquela economia, tais como:

  • Bloqueio de bens e restrição de viagens às principais autoridades russas;
  • Restrições de negociações de bancos russos representativos com países ocidentais;
  • Exclusão ao SWIFT dos bancos russos mais representativos;
  • Diversas empresas que saíram da Rússia;

A lista completa de sanções está relacionada no link abaixo

Além disso, muitos produtos exportados pela Rússia, como Fertilizantes, Petróleo e Gás entraram nessas sanções, causando uma pressão nos preços.

De acordo com reportagem do Valor, a estimativa é que a compra do Petróleo Russo teve redução em 70%:

“os compradores de petróleo russo estão desaparecendo rapidamente. Os navios-tanque que deixaram os portos russos totalizaram cerca de 1 milhão de barris por dia em capacidade durante a semana até sábado, segundo dados da empresa de pesquisa Refinitiv. Isso é uma queda de 60% a 70% ante os 3 milhões a 4 milhões de barris em janeiro.” (Valor Econômico)

Preço do Petróleo (Brent)

https://www.eia.gov/todayinenergy/detail.php?id=50858

A disparada recente dos preços do petróleo tem um impacto nos índices de preços no mundo todo.

Inflação no Brasil e a SELIC — Uma breve análise

O gráfico abaixo mostra a relação da inflação e Selic ao longo do tempo. Observa-se que, de Julho/2020 até Janeiro/ 2022, a SELIC ficou em um patamar menor do que o índice de inflação.

Obviamente que isto teve diversas implicações, muito pelo aparecimento da COVID-19 e queda na Demanda Mundial naquele período.

Deixei demonstrada a expectativa do mercado para a SELIC, que, atualmente, está em:

  • Dez/ 2022: 12,25%
  • Dez/2023: 8,25%

No gráfico acima, que relaciona a variação mensal da inflação, destaquei todos os meses de fevereiro.

Desta série histórica, a inflação neste mês foi a segunda maior desta “janela temporal”, sendo superada apenas pelo mês de fevereiro de 2015.

Preços por Grupos (Fevereiro/22)

https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo.html?=&t=destaques

Em Fevereiro, educação e alimentos tiveram um forte impacto no índice global. O preço dos alimentos foi influenciado pelas fortes chuvas e a educação teve um reajuste bastante significativo.

Os impactos da SELIC alta, além de frear a inflação pela queda na demanda, aumenta a dívida de um país. Uma inflação alta gera imprevisibilidade nas economias e no poder de decisão dos empreendedores.

Acredito que pode ter uma elevação da SELIC, para além das expectativas correntes de mercado, apesar dos efeitos adversos que estes aumentos causam na dívida pública.

Histórico do CDI — A taxa balizadora do custo do dinheiro

Um aumento da SELIC ocasiona, também, no aumento do CDI e altera a estrutura de custos na captação, para investimentos ou suporte ao consumo.

Taxas Referencias DI — B3

Um gráfico da Taxa DI — B3 Longo prazo (252 D.U)

Uma visão da inflação nos E.U.A.

O gráfico abaixo mostra a inflação nos EUA nos 12 meses

https://www.bls.gov/charts/consumer-price-index/consumer-price-index-by-category-line-chart.htm

Em fevereiro/2022, a inflação dos últimos 12 meses está em 7,9%. O que precisamos ficar de olho é em relação no impacto que esta inflação pode direcionar as decisões de política monetária nos EUA. E as taxas de juros estão baixas (FED Funds Rates)

https://fred.stlouisfed.org/

De acordo com as análises na imprensa americana, que podem ser corroboradas pelo gráfico de inflação, os níveis de preço continuam altos e, por todas as análises que passamos por aqui (Covid + Guerra + preços do barril do petróleo), não tendem a ceder tão cedo.

Por isto, existe a expectativa de aumento do FED nas próximas reuniões, que está sendo esperado pelo mercado há tempos!

Resumo

O cenário reflete aumentos de preços no mundo inteiro, além das expectativas de aumento de juros em diversas economias para conter os riscos inflacionários. No Brasil, alia-se que teremos eleições, causando mais volatilidade nas expectativas e cenários.

Seguiremos monitorando o mercado e trazendo outras informações macroeconômicas!

Entre em contato com a gente para falarmos de:

  • Cenários Macroeconômicos;
  • Crédito;
  • Pagamentos;
  • Inovação;
  • Liderança.

Considerações deste texto

Começo com um pedido de “desculpas” pela extensão do texto, mas são diversos indicadores conectados, que precisam ser listados, para um correto entendimento.

Esta análise não teve nenhuma pretensão de fazer uma análise econométrica ou indicar quaisquer decisões para investimentos.

Peço-lhes para que enviem críticas e sugestões!

Muito obrigado e um abraço!

Fontes // Bibliografia

SILVA, Rafael Mozart (2021): Cadeias Globais de Suprimentos no Cenário Pós-Covid-19: Perspectivas, reflexões e Insights

https://www.investopedia.com/terms/s/supplychain.asp

UNCTAD. Here’s how we can resolve the Flobal Supply Chain Crisis (2022) https://unctad.org/news/heres-how-we-can-resolve-global-supply-chain-crisis

https://www.cnnbrasil.com.br/business/como-a-covid-19-transformou-containers-de-transporte-em-itens-mais-procurados-no-planeta/

https://www.eia.gov/dnav/pet/hist/LeafHandler.ashx?n=PET&s=RBRTE&f=D

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