Eu não gosto de rosa.

Barbara Miranda
barbararmiranda

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Quando era pequena, eu odiava rosa. Rosa era cor de menininha. Power Ranger rosa? Nem pensar! A amarela era muito mais legal. Ela era asiática, o que era bem diferente, e lutava muito melhor (certeza)! Ao mesmo tempo, eu gostava muito de organizar as coisas e de me arrumar — menina bonita tem que se cuidar né? E assim fui crescendo, brincando de organizar, cada dia um penteado diferente pra escola.

Todo mundo dizia, que eu era muito jeitosa, muito delicada. Delicada talvez não seja a melhor maneira de me descrever. E que era muito estudiosa. Na verdade, eu ia pra escola, encontrava meus amigos e não achava que estudar era chato. Eu tirava notas boas porque era o que eu tinha que fazer!

Enfim, veio o ensino médio, um ano de intercâmbio na Alemanha, volto por Brasil e…putz! Não passei no vestibular! E aí eu ouvi “você não estudou o suficiente” ou “porque não tenta logo uma particular pra entrar logo na faculdade?” Afinal, eu PRECISAVA fazer faculdade, pra conseguir um bom emprego e me tornar uma “mulher adulta independente”. Seja lá o que isso significa. Depois de um ano de cursinho, passei e, depois de uma faculdade, três estágios, três empregos e três namorados eu me vi, aos 25 anos, me perguntando: Por que é que eu não gosto de rosa mesmo?

Eu tinha acabado de ficar noiva daquele que minha mãe chamou de “o genro que toda mãe sempre sonhou”. Um cara bonito, legal e que gosta de trabalhar, ou seja, promessa de uma vida estável que resultava na tradicional família brasileira: classe média alta e feliz, que visita os pais nos almoços de domingo.

E o que é que tem de errado nessa história?

Aparentemente, nada.

O problema dessa história, assim como o do rosa, está nas entrelinhas. Naquilo que não é dito, nos rótulos, nas vontades veladas, na falta de dizer um ao outro o que realmente se sente.

A essa altura do campeonato, já não importava pros outros se eu tinha um bom emprego, se eu me sentia bem comigo mesma, ou se eu tinha me tornado a mulher independente. Eu já estava com a vida garantida, e não tinha do que reclamar!

Foi aí, que eu decidi pintar meu cabelo de rosa e, com isso, terminei um relacionamento de quase cinco anos! E foi bem difícil. Difícil porque não foi por falta de amor pelo outro, mas pela falta de amor que eu sentia comigo mesma.

E foi descobrindo esse amor, que surgiu o Se dê o respeito. A partir desse texto, decidi compartilhar essa jornada dentro do universo feminino e mostrar que não tem problema gostar de rosa, azul, verde ou qualquer outra cor! O importante é gostar de você.

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